Tudo pelo sucesso

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"Outra noite em claro na melhor suíte
Tudo já deu errado, meu corpo admite
Sonhando muito alto, o chão é o limite
Outra vez eu me perdi

Diamantes no meu peito, cetim na minha pele
Na madrugada fria eu sou uma febre
Buscando em mim porque ninguém consegue
Só permanecer aqui

Do campo pro asfalto, uma jaqueta, queixo alto
Vou rasgando pela noite, o coração na mão
Fugindo de mim mesmo e de todo meu passado
Me pagando, eu finjo, mato amores em vão"

— São Paulo, 2015, Jão.

Jão Romania:

Sem dúvidas uma das partes mais crueis em ser uma figura pública não são as pessoas maldosos, mídia insistente ou talvez comentários depreciativos sobre você e sobre sua carreira "superestimada", mas sim, si próprio.

Parece exagero ou até estranho pensar que de tanta pressão e aversão que depositam em mim, a parte que mais me incomoda é quando estou sozinho e tudo de ruim cria vida na minha cabeça.

É difícil afastar tudo isso para longe, talvez longe o suficiente para não me lembrar de como pouco a pouco meu brilho vem enfraquecendo, mas eu respiro fundo e afasto, porque se isso não acontecer, eu cairei no esquecimento.

Sou bom demais, lutei muito para chegar onde estou para tudo isso se resumir a nada.

Minha carreira é o motivo da minha existência, meu único e grande amor e eu farei de tudo para permanecer nos olorfortes, nem que para isso eu tenha que passar por cima de algumas coisas.

Tudo por amor.

Tudo por amor.

[...]

Olho para Renan pronto para soltar uma dezena de palavrões.
— Não desconte em mim!
Ele me diz antes que eu conseguisse falar qualquer coisa.

Tínhamos acabado de perder o voo.

E não foi por culpa minha.

— Você sabe que podíamos ter ido sem ele.

— Jão...

Aperto minha mandíbula com força tentando usar todo o meu autocontrole para não surtar no meio do aeroporto.

— Ele não é necessário Renan! Só está nos atrapalhando, o próximo voo só sai daqui a duas horas e você sabe que eu não tenho duas horas.

— Jão...

— Certeza que ele 'tá se atrasando de propósito. Cretino.

— Da próxima vez vá sozinho, adorarei saber que você foi barrado na porta do estúdio.

Fecho meus olhos assim que seu sotaque irritante chega nos meus ouvidos.

— Pedro!
A voz do meu amigo é baixa e tranquila, me pergunto como ele consegue se manter tão passivo em uma situação como aquela.

— Renan, como você tá?
O sorriso de Pedro vai de uma orelha a outra assim que ele abraça Renan, que corresponde calorosamente.

Desde quando os dois começaram a ter essa intimidade ou demonstrar qualquer sinal de afeição?

— Estou bem, só o João que está um pouco estressado com o seu pequeno atraso.

Pequeno atraso?

— Pequeno atraso não, sua irresponsabilidade. Se você não tem a mínima seriedade com o seu trabalho, eu tenho.

Pedro revira os olhos daquele seu jeito tão irritante.

— Não seja tão amargurado. Tive um pequeno imprevisto e o trânsito de São Paulo não ajudou. A gente pega o proximo voo.

Meu Nêmesis - 𝐩𝐞𝐣𝐚̃𝐨.Onde histórias criam vida. Descubra agora