3 de abril de 2005
Jão Romania:
A voz de meu pai era alta, podia jurar que era como os gritos do meu treinador de futebol, a única diferença entre os dois era que a voz do meu treinador não era áspera e carregada de fúria.
Meus lábios tremiam tentando prender o choro.
Eu sou um garoto, garotos não deveriam chorar, quer dizer, crianças sim mas eu não sou uma, sou um homem, tenho quase 11 anos!
Me encolho no quarto escuro com a voz do tio Fernando ainda mais alta do que a do papai.
Tio Fernando e papai eram muito amigos, eles trabalham juntos ajudando pessoas a fazerem músicas que tocam em rádios mas de uns tempos pra cá eles andam brigando muito, isso me assusta às vezes.
— Seu cretino de merda, traidor!
Um barulho de algo indo ao chão me faz levantar.
Será que eles estão se machucando?
Antes que eu conseguisse avançar até a porta sinto a mão de Pedro agarrar o meu braço, ela estava molhada, era meio nojento mas eu não a afastei.
— 'Pra onde você 'tá indo?
Ele estava chorando, chorando de verdade, com lábios trêmulos e tudo.
Ele sabia que homens não deveriam chorar não é? Talvez fosse novo demais para pensar nisso, tinha acabado de completar 10 anos.
Por um breve instante, olhando para ele tão triste e apavorado parecia bobeira toda essa coisa de chorar ou não.
— Preciso ver o meu pai e o seu!
— Não pode fazer isso, você precisa ficar aqui comigo.
Pedro me puxa novamente até eu me desequilibrar e cair com tudo no chão, ao seu lado.
Olho para a sua chuteira me perguntando se não teria sido melhor se nós dois não tivéssemos vindo para cá, se tivéssemos ficado por mais 1 hora ou 2 jogando futebol até nossas pernas doerem.
— Por que não está me deixando ir até eles?
— Somos amigos, não quero que você veja isso.
— Não sei se adianta muito, acho que na verdade você está com muito medo e não quer ficar aqui sozinho.
Ele franze o cenho emburrado.
— Não é não.
E então antes que eu conseguisse contraria-lo os gritos cessam.
Ouço alguns passos se aproximarem e por fim a porta é aberta, meu pai se aproxima e eu quase tremo com sua visão, seu olho direito estava vermelho e seu nariz saia sangue, além do vinco enorme entre suas sobrancelhas, parecia decepcionado como se eu não devesse estar ali, quase envergonhado.
Ele me puxa me tirando dali sem ao menos me despedir de meu melhor amigo.
Passo pela sala aonde meu pai estava e fico assustado, agora eu entendia porque Pedro não me deixou ir até aqui.
Tio Fernando estava no chão desmaiado e seu rosto estava coberto de sangue, tudo em volta estava quebrado e com manchas de sangue no carpete bege.
— Papai...
Ele não me respondia só continuava me puxando para fora da sala.
— Papai, você precisa ajudar ele!
Seus passos eram mais precisos.
— Papai!
— Cala boca, João! Ele mereceu, vamos.
Minha garganta ardia tentando evitar as lágrimas irritantes e bobas.
Pedro ia ficar sozinho com um pai desacordado.
Antes de mais protesto sou empurrado para dentro do carro como um boneco.
— Nunca mais entre no meu trabalho sem me avisar está me ouvindo?
— O Pedro... eu...
— Não importa João Vitor, está me ouvindo? O que houve ali foi uma conversa de adulto vocês não deveriam ter escutado.
— Você machucou o pai dele.
Foram as únicas palavras que saíram da minha boca antes que tudo virasse uma baboseira de lágrimas e soluços.— Você é novo demais para entender essas coisas, João!
Eu queria gritar que eu não era não, que precisávamos voltar e ajudar o Pedro e o pai dele, que seja qual for a briga ele não poderia ir embora desse jeito, mas tudo o que eu conseguir fazer foi o chorar o percurso todo até a minha casa.
Talvez eu não fosse tão homem assim.
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Meu Nêmesis - 𝐩𝐞𝐣𝐚̃𝐨.
FanficNo mundo da fama só três coisas importam: poder, reputação e sucesso. Quando se está na sarjeta a urgência aos olorfortes pode ser maior até do que o próprio respeito a sua família, principalmente se a única maneira de se reerguer na indústria musi...