Tormento

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Beelzebub estava se sentindo relativamente bem. Mais do que de costume, de fato, mas não o suficiente para dizer que estava verdadeiramente bem.

Ele se sentia leve, calmo, mas algo nessa sensação neutra de conforto lhe angustiava.

Era tarde da noite, Beelzebub não sabia dizer a hora exata, mas com certeza passava de meia noite. Havia passado o dia no laboratório de Tesla — não era sua ideia inicial, mas quando percebeu que Qin não ia o procurar lá, ele decidiu ficar mais um pouco.

Por mais que tentasse negar, ele gostou de ficar lá.

Era caótico, todos aqueles cientistas eram loucos. E, por algum motivo, isso não o incomodava.

Pelo contrário, o ambiente caótico, que parecia lhe tratar como mais um, e não como um deus assustador e amaldiçoado, isso o trouxe conforto.

Mesmo quando ele não fazia nada e se isolava em um canto, Nikola iria até si para fazê-lo participar e conversar.

O quão confortável ele se sentiu o deixou angustiado.

Ele não deveria se sentir assim. E se Satan voltasse? O que ele iria fazer?

Não esperava que fosse voltar a querer preservar algo que tinha, se é que poderia falar que era dele.

Ele não queria perder aquilo.

Antes mesmo de começar a querer proteger Nikola, ele já havia o matado, atravessado seu peito da mesma forma que fez com todos os outros.

Isso era um sinal?

Quando percebeu, ele estava chorando, e quando tentou limpar o rosto, viu suas mãos cheias de sangue.

Apavorado, ele se levantou da cama em um salto, olhando assustado ao redor, mas não havia nenhum corpo.

Ele estava perdendo a cabeça?

Com a respiração descompassada, ele correu até o banheiro, tentando lavar as mãos sujas de sangue, mas elas continuavam sujas, com aquelas enormes garras amostra.

Fechou os olhos com força enquanto ainda chorava, implorando para que isso acabasse, mas abriu os olhos ao ouvir um estalar de língua a sua frente, erguendo o olhar para o espelho.

Não era seu reflexo a sua frente, era Lúcifer, com o peito perfurado e a esclera de seus olhos escura.

— ... Lúcifer...? — Beelzebub sussurrou, as lágrimas ainda caindo ao olhar para o anjo morto no espelho.

O reflexo do espelho sorriu, zombando de Beelzebub.

— Pelo visto me esqueceu rápido. Já está fazendo novos amigos. Ou você só quer me ver matá-los como fiz com esse aqui? — ele rodeou a ferida do peito, fazendo Beelzebub cambalear para trás.

— Satan... — murmurou, um pingo de irritação por vê-lo na forma de seu amigo morto.

— Já está pronto para se ver matar todos aqueles humanos patéticos? Ou eu deveria matar só um deles...? — sorriu presunçoso — Do jeito que humanos são, eles com certeza iriam te odiar e repudiar. Da mesma forma que repudiaram seu amigo Lúcifer aqui por histórias mal contadas, o fazendo pensar que ele sou eu, quando isso nunca foi citado. — ele sorriu largo.

Beelzebub fechou os olhos, não querendo continuar a ouvir aquilo.

Era verdade, os humanos associavam "Lúcifer" ao "diabo", sendo isso algo que nunca foi diretamente citado. E mesmo que fosse, ainda seria um equívoco. Lúcifer não era nada do que retratavam.

Porra, esse não é o ponto.

— Por que... Por que você faz isso...? — Beelzebub murmurou, sem erguer o olhar, não queria ver a imagem de Lúcifer.

Dupla de Três Onde histórias criam vida. Descubra agora