"Já estamos mortos, mesmo se nos amem, mesmo que não, mesmo quando não há ninguém que nos ame, não importa."
Tiago
Parado na frente da porta de Kate, meu coração batia acelerado. As dúvidas me consumiam: deveria tocar a campainha? Deveria chamá-la pelo nome? Mas, no fundo, eu sabia que a verdade precisava ser dita, mesmo que isso significasse que ela poderia me odiar para sempre.
Respirei fundo e toquei a campainha uma, duas, três vezes. Na quarta vez, ouvi a voz de Kate murmurar algo do outro lado da porta, inaudível. A porta se abriu lentamente, revelando Kate em seu pijama, uma caneca de café nas mãos e o cabelo preso em um coque desleixado. Seus olhos pareciam cansados, mas havia uma intensidade neles que me prendeu no lugar. Ficamos nos encarando por longos minutos, o silêncio preenchendo o espaço entre nós.
— Posso entrar? — perguntei finalmente, a voz saindo mais hesitante do que eu esperava. Kate não respondeu de imediato, apenas abriu a porta um pouco mais, permitindo que eu passasse.
Entrei, sentindo o peso da atmosfera tensa ao nosso redor. O cheiro familiar do café misturado com o perfume suave de Kate me envolvia, trazendo à tona memórias de momentos mais felizes. Ela se virou, caminhando lentamente até a sala e eu a segui, sentindo que cada passo me levava mais perto de um abismo desconhecido.
Sentamo-nos, ela no sofá e eu numa poltrona próxima. Seus olhos finalmente encontraram os meus e, naquele momento, soube que não havia mais volta. A verdade estava ali, esperando para ser revelada, e eu precisava encontrar a coragem para dizê-la.
— Kate... — comecei, mas minha voz falhou. Respirei fundo novamente, tentando reunir toda a minha força. — Preciso explicar o que aconteceu na noite passada.
— Estou ouvindo — respondeu Kate, seus cabelos cacheados emoldurando um rosto marcado pelo olhar melancólico.
Engoli em seco, sentindo o peso da verdade prestes a ser revelada. — Sua irmã e eu já nos conhecíamos antes mesmo de eu te conhecer — comecei, respirando fundo. — Como nos conhecemos não importa agora, mas juro que foi amor à primeira vista. Depois, ela se mudou para Nova Iorque e começamos a namorar à distância. Quando fui para Nova Iorque a trabalho, passamos uma semana juntos, matando a saudade e tudo o mais. Pedi para ela uma garantia de que voltaria e que construiríamos nossa família juntos. Foi então que ela me mostrou você. Ela disse: "Kate é a chave". Falou do seu talento para a arte, contou tudo que eu precisava saber sobre você.
Olhei para Kate, que me encarava incrédula, processando cada palavra.
— Aquele encontro na biblioteca foi planejado — continuei, a voz vacilando. — Eu sabia que você estaria lá. Sabia seu tipo sanguíneo antes mesmo de você me dizer seu nome. O homem que te atacou? Fui eu quem contratei. Queria salvar você e ser visto como um herói. Tudo foi meticulosamente planejado com a autorização dos seus pais. Seu ateliê foi incendiado por eles, aquela discussão que vocês tiveram foi encenada. Queria que você estivesse à minha mercê, e você ficou. Paguei seus pais. O dinheiro que Bianca te deu foi uma forma de aliviar nossas consciências. Tudo isso porque eu queria Bianca, não você. Você foi apenas um divertimento para mim. As promessas, as juras de amor, os presentes fofos, tudo foi mentira — finalizei, sentindo meu coração apertar.
Kate permaneceu em silêncio, seus olhos fixos nos meus, cheios de dor e incredulidade. A verdade estava agora exposta, crua e implacável, e eu sabia que nada poderia reparar o estrago feito.
Kate parecia paralisada, seus olhos cheios de lágrimas enquanto tentava processar o que acabara de ouvir. O silêncio entre nós era pesado, quase palpável. Eu podia ver a dor em seu rosto, a desilusão que se formava em seu olhar.