Eu costumava acreditar que todas as pessoas vinham ao mundo com um propósito. Porque, se analisarmos com cuidado, é ridículo pensar que bilhões de vidas sejam constantemente inseridas em um universo tão denso e abundante para não servirem de nada. Quero dizer, o mundo é movido por ações inteligentes e inovadoras, e isso não aconteceria sem as mentes brilhantes que existem nele. Mas não presumo que isso continue sendo algo verdadeiro. Se pararmos para pensar, vivemos em um filme. Os nomes que acabam ficando na história, pertencem apenas aos protagonistas. E não estou dizendo que são apenas os mocinhos e mocinhas que marcam a humanidade, os homens maus também ficam conhecidos com o passar do tempo. Agora, os que sobram, no caso, as pessoas "normais", são apenas os coadjuvantes. Esses aparecem para preencher o cenário vazio, porém são descartáveis. Eles aparecem, fazem o que quiserem com o tempo que lhes é estipulado e então eles se vão. Sem ninguém notar, ou se importar. Nada de inovação mundial e histórica, nada de ideias brilhantes, nada de ações marcantes. Um eterno e extenso nada.
Essas pessoas nascem apenas para serem enterradas.
E eu sou uma delas.
Minha caminhada tem sido longa até agora. E eu sei que não existe uma linha de chegada, o que está me esperando no final é, no máximo, um bueiro bem fundo e sujo.
Depois da briga que tive com Suzanne uns dias atrás, parei para pensar que talvez eu precise dar o fora daquela casa o quanto antes. Sempre me esforcei para garantir que sairia de lá antes dos dezoito anos. Mas meu dinheiro começou a desaparecer enquanto eu tentava nos tirar do meio de tantas dívidas. E não me orgulho em dizer que sou a responsável pela maioria delas.
Quando fiz dezessete anos, conheci a heroína. Foi assustador no começo, eu sabia que aquilo era errado, mas a sensação de euforia que senti quando aquela substância se espalhou por minha corrente sanguínea pela primeira vez, fez com que eu começasse a pensar que aquilo não era tão ruim assim. Era quase como arrancar os meus problemas com as minhas próprias mãos.
Mas quando se conhece o mundo das drogas, se conhece também o mundo da extorsão de dinheiro.
Uma pequena quantidade de droga é vendida por um ótimo preço, e então você pensa: isso não é tão caro, posso comprar mais um pouco.
Errado. Você não pode.
Porque você não vai comprar apenas um pouco.
Conforme seu vício aumenta, a pequena quantidade de droga que antes você pensava ser o suficiente, agora começa a parecer ridiculamente sem graça, e com isso o preço acaba subindo. E é aí que você se fode.
Bom, eu estou fodida há muito tempo.
E é apenas por esse motivo que ainda não consegui sair daquele barraco que Suzanne e Lionel chamam de casa.
E também porque ela com certeza não sobreviveria sem mim.
Suas reclamações são constantes, mas ela sabe que se não fosse por minha ajuda, seu estado de saúde estaria bem pior e suas contas estariam ainda mais enterradas em lama. Não me gabo por ajudá-la com o tratamento da doença, é o mínimo que eu poderia fazer já que, querendo ou não, ela é minha única família.
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sua mente obscura - Tom Kaulitz
Romance"𝒗𝒐𝒄𝒆̂ 𝒎𝒆 𝒇𝒂𝒛 𝒇𝒆𝒍𝒊𝒛... 𝒎𝒂𝒔 𝒆𝒖 𝒏𝒂̃𝒐 𝒎𝒆𝒓𝒆𝒄̧𝒐 𝒆𝒔𝒔𝒂 𝒇𝒆𝒍𝒊𝒄𝒊𝒅𝒂𝒅𝒆." Zoe Fischer é uma garota com um passado perturbador, trágico e cruel. As angústias antes sentidas já não oferecem tanta importância a essa garota...