PRÓLOGO

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A Vidente acabava de jantar, quando recebeu uma visão. Precisava dar um novo recado para outra pessoa. Lembrou-se de já ter avistado aquela mulher, havia cerca de um mês, em uma parada, embora só descobrisse seu nome agora, com a visão.

A Vidente tinha uma relação de sentimentos dúbios com o seu dom. Era prazeroso dar notícias alegres para as pessoas. Contudo, era horrível levar as tristes. Por isso, ela preferia perambular pelas estradas e receber mensagens para desconhecidos, a ficar parada e arriscar ver coisas relacionadas a pessoas de seu convívio.

Obviamente, existia o risco de receber uma dessas, eventualmente, visto não poder controlar seu dom. No entanto, aprendera cedo que, quanto mais longe estivesse daqueles que amava, menos perigo corria de aquilo acontecer. Era mais fácil que o Universo lhe mostrasse o futuro das pessoas com quem ela esbarrasse casualmente, por aí.

Havia já trinta e três anos que decidira sair pelo mundo, vivendo de trabalhos temporários, aqui e acolá, transformando-se em uma nômade solitária. Toda vez que começava a se apegar a alguém ou lugar, ela partia.

Isso não a impedira de ter amores, de amar e ser amada, porém, parecia que ela não nascera para viver um amor igual ao da caminhoneira de sua visão.

Mesmo conhecendo pouco, ou nada, os destinatários, a vidente sofria ou vibrava com seu infortúnio, ou felicidade, conforme a natureza do aviso que tinha para eles. Ainda que alguns fossem céticos e não escondessem isso, pois ela sabia que o Universo não falhava.

Não governava seus “poderes”, se governasse, os deteria para sempre. Entretanto, aprendera a conhecê-los.

O Universo jamais lhe trazia notícias “mais ou menos”, eram sempre boas ou ruins. Mas havia as que eram boas e ruins, iguais àquela que deveria entregar para Valentina Albuquerque. Era uma notícia horrível, contudo, era também uma notícia excelente.

Mais uma e vamos ver o que essa história nos aguarda.

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