CAMPOS E ALBUQUERQUE

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Houve o lance com a Paola e o fato de não ter conseguido andar rápido o suficiente para cumprir seu prazo. Somente isso já deveria ser bastante para instigar Valentina a ir em busca de sua morena, porém, parecia que ela precisava de um incentivo a mais para se decidir, e o universo o providenciou. A coincidência da Vidente saída do seu sonho dizendo-lhe que deveria ir atrás "dela" enquanto ainda sabia onde encontrá-la, convenceu-a em definitivo. Aquilo só podia significar uma coisa: ela precisava ir atrás de Luiza.

Sabia, pela troca de mensagens, onde Luiza estava, aonde Bonnie estacionara. Considerando que andara poucos quilômetros durante o dia, com alguma sorte, poderia alcançá-las antes que saíssem, ou mesmo, ainda na estrada.

Agora sim, ela conseguia rodar no limite da velocidade permitida com a sua carga. Era isso, antes ela não conseguia porque precisava ir atrás "dela", embora toda aquela história não fizesse realmente muito sentido.

Me aguarde, Luiza, estou indo te buscar!

Depois que o sol se pôs, ela se comunicou com Bonnie, que lhe disse a hora que pegariam a estrada novamente.

Valentina não quisera pedir à amiga que a esperasse, seria atrasá-la. Entretanto, pelos seus cálculos, ela as alcançaria ainda na parada ou, em último caso, perto dali, em algum lugar da estrada.

Parou o Possante e, quando desceu, andou alguns passos, avistou o caminhão de Bonnie já em manobra.

Saiu em disparada, gritando pelo estacionamento.

— Ei, esperem! Para! Bonnie, Para!

Algumas pessoas que estavam por ali, chegando ou saindo, olhavam-na, interessadas.

Calculou o caminho e cortou alguns corredores do estacionamento, parando finalmente em frente ao possante de Bonnie, gesticulando com os braços levantados e pedindo que parasse.

Ela parou e Valentina correu para o lado do carona. Subiu os degraus e abriu a porta que Bonnie destravara.

— Fica comigo, Luiza! Daqui a dois dias, eu entrego minha carga e te levo para onde você quiser. São só dois dias. Fica comigo e eu te levo. Pra onde você quiser... — falou tudo rapidamente, num fôlego só.

Estava ofegante pela corrida e pela emoção. Luiza fitava-a entre surpresa e assustada. Abriu a boca, mas fechou de novo, sem responder logo, deixando suspensa a respiração de Valentina.

Valentina pensou que o coração lhe sairia pela boca, ante aquele silêncio. Parecia que uma eternidade resolvera colocar-se entre sua oferta e a resposta dela.

Luiza mordeu os lábios e soltou uma respiração profunda, como se tivesse guardado o fôlego por muito tempo.

— Valentina... — a voz dela era um sussurro. Valentina levantou as sobrancelhas, em um gesto involuntário de expectativa. — Achei que nunca fosse pedir! — ela abriu um sorriso lindo e Valentina respirou fundo.

Luiza abriu o cinto de segurança e se jogou em cima dela, agarrando seu pescoço de supetão. Valentina ainda estava nos degraus e quase perdeu o equilíbrio, mas se segurou a tempo.

A caminhoneira beijou-a como se fosse a última vez.

— Muito bem, Valentina! Gostei de sua atitude! — Bonnie disse, e bateu uma palma que reforçava o que ela dizia.

Acabaram o beijo, porém, fitavam-se hipnotizadas. Valentina desviou o olhar daquele castanho profundo com dificuldade e o pousou sobre sua amiga, que sorria abertamente para elas.

— Obrigada, Bonnie, mas eu não poderia deixar minha linda carona escapar para outro caminhão assim.

— Desculpe-nos Bonnie, sei que te atrasamos ontem para você me dar esta carona...

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