ANGÚSTIA

232 37 5
                                    

As duas caminhoneiras não tiveram alternativa que não fosse obedecer.

— O que vocês querem? — Valentina perguntou, assim que desceu.

— Quieta! O que não queremos é ouvir suas vozes! — respondeu secamente um deles.

Elas foram encostadas à lateral do caminhão e revistadas, simultaneamente, por dois homens diferentes, uma revista rápida e limpa, serviço profissional. As únicas coisas achadas com elas foram os celulares, que eles confiscaram, jogaram no chão e pisaram em cima, esmigalhando-os.

Vestidos de preto, eles agiam em sincronia perfeita, como se estivessem bem ensaiados ou muito acostumados àquele trabalho.

Enquanto acontecia a revista, um homem subiu na cabine e abriu o capô, para que outro mexesse em algo.

O cara da cabine desceu e circulou o caminhão, mas elas não tinham visão perfeita do que acontecia, pelo ângulo em que se encontravam.

— Pronto! — não levou três minutos e o homem do capô o fechou.

Foi tudo muito rápido. O homem que revistara Priscila, apontou o cano do fuzil para a sua cabeça.

O que revistara Valentina dirigiu-se a ela.

— Vocês vêm conosco. Mas antes tenho uma encomenda especial para você.

Após aquele informal aviso, ele acertou dois socos em seu estômago. Valentina se dobrou de dor, com a mão na barriga.

— Eu normalmente não bato em mulheres, mas isso faz parte do pacote deste trabalho — disse o homem.

— Valentina...! — Priscila chamou, instintivamente ameaçando dar um passo em sua direção.

— Quieta! — o capanga que revistara Priscila advertiu, fazendo-a parar.

Algemaram-nas e colocaram em veículos distintos, no banco de trás. Ambas viajaram ladeadas por dois homens, sendo um deles o homem da revista de cada uma. Na frente iam apenas os motoristas.

Os outros dois, do capô e da cabine, entraram no caminhão delas e todos seguiram em comboio, o carro em que ia Valentina foi à frente, e o que levava Priscila seguiu atrás do caminhão.

— Aonde estamos indo? — Valentina perguntou.

— Quieta! — disse o homem que lhe revistara e batera.

Valentina pensou que ele estava pessoalmente encarregado dela, e o que revistara Priscila estava encarregado da amiga.

Somos muito importantes, cada uma tem seu próprio capanga.

*****

Às 9:00 a.m., Luiza e Debra tomavam o desjejum no balcão da cozinha.

Luiza acabara de comer meia pera e brincava com um copo de suco de laranja, a despeito de toda a variedade que sua anfitriã dispusera à sua frente.

— Você precisa se alimentar, sabe disso, não é?

— Sei, sim, Debra, você me repete isso a cada meia hora, pelo menos.

Luiza ponderou que perda de apetite em situações extremas não era uma característica sua. Contudo, embora não quisesse preocupar a nova amiga, ela somente conseguia ingerir pequenas quantidades de poucos alimentos, a cada refeição. Sabia que Debra estava certa, precisava alimentar-se, mas...

— Sabe o que eu acho, Luiza? —
Debra fitou-a com uma expressão iluminada e Luiza respondeu não com a cabeça. — Acho que a nossa melhor alternativa hoje é ir ao shopping.

Longe daquiOnde histórias criam vida. Descubra agora