MEDO

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O grito de Valentina fez Luiza estremecer e virar de imediato para a porta.

Medo. Foi o que sentiu. De não conseguir explicar-se sobre o mal entendido e desfazer a interpretação errônea que Valentina evidentemente fizera da cena que vira. Medo de perder a mulher que amava. Mas também da figura ameaçadora de Valentina.

— QUE PORRA...?!

Os olhos dela lhe causaram medo. A feição trazia uma expressão assustadora de espanto, susto e... ameaça. O corpo dela retesava-se, as mãos fecharam-se, a respiração alterou-se, a postura ereta; o corpo ainda mais alto por conta do salto que usava lembrava um felino, uma bela felina em posição de ataque, ainda mais pelo olhar verde repentinamente acinzentado, que prometia um ataque fatal e irreversível às suas presas.

Luiza não soube dizer se foram segundos, fração de um segundo ou toda uma eternidade, mas um incontável tempo passou por elas.

— Valentina... — Luiza ouviu a própria voz, mas não saberia dizer se foi ela mesma quem pronunciou o nome da namorada, ou quando; se foi dentro daquele tempo ou depois dele, não saberia nem precisar se sua voz soara mesmo no recinto ou apenas na sua cabeça.

Depois daquele tempo incontável, tudo se passou simultaneamente rápido e em câmera lenta. Valentina respirava depressa e, sem desviar os olhos, continuou em silêncio, em posição de ataque felino, esperando não por uma explicação, antes por uma mágica que desfizesse aquela cena, que ela nunca houvesse acontecido, que Luiza e Torres jamais houvessem estado sozinhas naquele banheiro, muito menos naquela duvidosa posição em que as encontrou.

Olhando o estado quase insano da namorada, Luiza desejou a mesma coisa. Sentiu Torres levantar-se atrás de si, e a mão dela absurdamente pousar na sua cintura, enquanto a voz dela dirigia-se perigosamente à mulher que as encarava da porta.

— Calma, Valentina, não é o que você está pensando...

Luiza não teve tempo para reagir, nem contra a mão de Torres no seu corpo, nem à reação de Valentina. Não sabia se ela andou, correu ou realmente saltou como uma tigresa. Nem sabia o que foi, se um soco ou outro golpe qualquer. Quando percebeu, o braço dela passava a centímetros do seu rosto. Ouviu o baque da mão dela no rosto da outra e um barulho de um corpo batendo em algo duro, como concreto. Virou-se e ela avançava para Torres, que encostada à parede, levantou o braço e se defendeu do golpe seguinte.

Torres amparou o golpe de Valentina, contudo, a outra mão da adversária já se preparava para nova investida.

Luiza pulou em suas costas, tentando tirá-la, entretanto, além de extremamente forte, ela não parecia ouvir-lhe.

— Valentina, pare! O que você está fazendo? Valentina! VALENTINA! PARE!

Segurou seu braço e ela se virou com o golpe armado na outra mão. Luiza congelou, pensando que a namorada fosse atingi-la, mas Valentina a fitou e parou. Torres aproveitou-se disso e atacou Valentina com um golpe, que ela simples e agilmente amparou com um braço. Livrou-se de Luiza, e imobilizou a outra junto à parede, os pés no ar, acima do chão, para ficar à altura dela.

— Como ousa?! — ela disse, expulsando cada palavra vagarosamente boca afora.

Ela mantinha o corpo junto ao de Torres, impedindo que movimentasse as pernas, o tronco prensava um braço, a mão segurava o outro, enquanto os dedos da outra mão apertavam-lhe a garganta.

Luiza viu Torres ficar vermelha repentinamente e seus olhos arregalaram-se. Preocupada, saltou novamente em cima da namorada, tentando em vão puxar seu braço e sua razão de volta.

— VALENTINA, POR DEUS, VOCÊ VAI MATÁ- LA!

Julgou que Torres morreria sufocada, estava extremamente vermelha e os olhos pareciam que saltavam das órbitas.

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