FELICIDADE

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Luiza estava encantada pela recepção que tiveram naquele restaurante. Era uma gente alegre. Não. Era uma gente feliz. Gente simples, amável, hospitaleira, e que realmente gostava de Valentina. O sentimento, aliás, era recíproco. E vira algo que a impressionara: felicidade. Aquelas pessoas definitivamente eram felizes. Podia não saber mais o que era felicidade, havia muito tempo, porém era capaz de reconhecê-la ao se deparar com ela.

Depois do almoço, rodaram o pequeno povoado e conheceram outros amigos de Valentina. Estava surpresa e satisfeita por não aparecer nenhuma garota “amiga” da caminhoneira. Porém, sua satisfação acabou no último lugar a que foram.

A garota da livraria grudou no pescoço de Valentina e fez questão de agir como se ela não estivesse ali.

Luiza entendeu o recado e se retirou. Elas precisavam de privacidade.

Resolveu utilizar parte dos recursos que tinha para comprar algumas frutas e para a viagem. A geladeira de Valentina não tinha muitas coisas saudáveis. Também pegou um punhado de balas e distribuiu para as crianças, sentando com elas na praça do povoado. Após alguns, minutos foi incluída em uma brincadeira de adivinhação.

Contudo, Valentina voltou em menos tempo do que ela esperava, com um livro à mão e cara de poucos amigos, terminando com sua festa infantil.

De volta à estrada, ela estava introspectiva, e Luiza julgou que tivesse algo a ver com a moça da livraria, talvez a ex lhe tivesse ligado novamente e estragado sua diversão com Maria.

Luiza não quisera ser intrometida, apenas tentara puxar assunto para trazer de volta sua simpática companheira de viagem, apesar de que, aquele arzinho zangado, com as sobrancelhas franzidas deixavam a caminhoneira ainda mais sexy, se é que isso era possível.

Pensou que ela não a estivesse ouvindo porque Valentina não lhe parecia, até então, alguém que ignorasse as pessoas propositalmente. Ainda assim, pensou que talvez a tal Maria pudesse ter encrencado com ela por sua causa. Seria possível que Luiza fosse a empata foda de Valentina?

— Sinceramente, gostei dos seus amigos.

Silêncio.

— E eles realmente gostam de você.

Silêncio.

— Fiquei feliz por me levar lá.

Nada.

— Valentina! — chamou um pouco mais forte.

— O QUÊ!? — Valentina gritou impaciente.

Luiza não esperava por aquilo, não se parecia nem um pouco com o jeito com que ela a tratara o dia inteiro. Mas Luiza sabia que as pessoas poderiam mudar de humor, e ir do gelo ao fogo em questão de minutos... Ah, como sabia... Involuntariamente, estremeceu com aquele grito e se calou. Valentina não tinha como saber, entretanto, sua atitude lhe suscitara calafrios de medo, um medo que lhe grudara na alma, havia algum tempo.

Ela lhe pediu mil desculpas e Luiza garantiu que tudo estava bem e deveriam esquecer tudo.

— Está bem — a caminhoneira respondeu sem graça. — Mas somente se me disser o que queria antes.

Valentina estivera tão aborrecida, que nem sequer ligara o rádio. Luiza ficou olhando pela janela. Pensou em lhe dizer estar apenas querendo perguntar se poderia ligá-lo.

Após alguns minutos, resolveu falar.

— Não era nada importante, só queria saber se você pretende entrar para o Guiness — disse finalmente olhando para ela.

— Como assim?

— Suas transas são sempre rápidas assim? Porque, sinceramente, essa foi. Talvez a mais rápida da história.

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