UM FILME DE TERROR

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Luiza precisava proteger Valentina, por isso enviou secretamente outro email para Patrick.

Email on

Luiza: Vou fazer um trato com você, eu me entrego, sem resistência e você deixa Valentina em paz.

Patrick: Eu aceito, minha ursinha. Conte-me como faremos isso.

Luiza: Primeiro prometa. Vai deixá-la ir.

Patrick: Prometo. Eu só quero você de volta, ela não me interessa.

Email off

Assim, eles combinaram um segundo plano, diferente daquele armado com Valentina.

E quando o reencontro com Patrick aconteceu, Luiza não teve reação. A porta que ela deixara destrancada se abriu, eles entraram e ela não teve reação. Por mais que já o esperasse, a visão de Patrick a paralisava. Todo o pesadelo que vivera nas mãos dele reacendeu em sua memória. O sentimento primário que a pessoa dele lhe acordava era pânico, um verdadeiro pânico incrustado em sua alma por meses e meses seguidos de espancamento, tortura física e psicológica, sexo forçado, pois o sexo acontecia por coerção, sempre que ele queria, uma vez que ela não sentia vontade ou desejo de estar com alguém que a torturava. Ele nunca perguntava se ela queria e, algumas vezes, mesmo ela nunca contestando, ele ria dizendo que a vontade dela não importava, e satisfazê-lo fazia parte dos seus deveres de esposa.

Porém, ela decidira não demonstrar seu medo, ele não teria esse prazer.

Ele chegou com aquele sorriso... O sorriso de Patrick era-lhe como um passe livre dado pelo próprio demo para uma longa estadia no inferno. Quando ele diminuiu a distância dos passos entre eles e a segurou, aproximando seu rosto sorridente do rosto dela, o cerco dos seus dedos em torno do seu braço era o elo da corrente que, por força, os condenados ao fogo eterno deveriam arrastar pela eternidade, o fogo das crenças punitivas.

Seu hálito refrescante e mentolado tinha o repugnante ardor do fogo da danação perpétua, quando ele respirou sorridente perto do seu rosto. Por fim veio o beijo, símbolo da amizade e do amor, transformado para sempre no paradigma da traição, vergonha imortalizada nas folhas dos evangelhos. O cálice de fogo derramado sobre a pele dela, direto dos seus lábios fez-lhe fechar os olhos em redenção à certeza da fatalidade que a enredava.

Mal pôde olhar para Debra e Maya, que ficaram com ela e agora jaziam desmaiadas no chão, sendo esse seu destino invejável, comparado ao dela.

Patrick, seus capangas e Luiza desceram em silêncio pelo elevador. Os capangas tinham um semblante fechado, Patrick esboçava um ligeiro ar sorridente, seu braço colocado por sobre os ombros dela, em uma ostensiva afirmação de posse.

Um dos homens abriu a porta traseira de uma limusine, e ela entrou seguida de Patrick. Dois homens entraram na frente. Os outros dois entraram em um segundo carro e os seguiram.

Luiza tentou sentar do outro lado, afastada dele, mas ele a puxou para junto de si.

— Eu senti tanta falta de você, minha ursinha — colou a boca à sua e a beijou.

Ela sentiu náuseas, com o gosto dele. A mão passeava nos cabelos dela, a outra pousava em sua face.

— Você gosta do nascer do sol, minha ursinha? Minha primeira esposa amava. Vou lhe mostrar um lugar lindo, aonde costumávamos contemplar o nascer do sol.

Ela não respondeu. Aliás, ainda não dissera nada, seguia calada para seu destino.

Ele serviu champanhe, ela pensou em recusar, mas conhecia bem demais aquele homem e sabia o papel que deveria representar para ele.

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