PEDE A ELA

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Luiza não acreditara quando Debra lhe disse que Valentina estava na portaria querendo subir para vê-la, no meio da noite.

— A casa é sua, Debra, e entra quem você quiser, mas se Valentina entrar aqui, eu saio. Vou embora a pé, se preciso, mas não quero ver essa... caminhoneira nem pintada de ouro! Sinceramente!

— Tudo bem, Luiza, ela não vai entrar, ninguém vai te obrigar a falar com ela, era o que faltava.

Pela manhã, Debra batia um bolo, experimentando uma receita nova.

Luiza não queria parecer ingrata, mas desejava muito estar longe quando Valentina voltasse. Sabia que ela e Priscila tinham saído cedo para uma viagem curta de cinco ou seis dias.

— Só estou pedindo que fique mais um pouco comigo.

— Não, Debra, você está querendo que eu fique para dar tempo de Valentina voltar.

— Não vou negar que eu gostaria que vocês se entendessem, mas não sou tão intrometida assim. Na verdade, gostaria que você ficasse para dar tempo de Priscila voltar. Ainda estou de férias e você me faria companhia até lá.

— Desculpe-me, eu adoraria ficar, mas isso está fora dos meus planos agora.

— Está bem, deixe-me ao menos ver com o pessoal da empresa quando teremos uma carona para você.

— Ok.

— Experimente isso! — Debra lhe estendeu uma colher com um creme.

Ela experimentou. Estava sentada ao balcão, enquanto a dona da casa andava por toda a cozinha abrindo armários, pegando ingredientes e utensílios.

— Hummmm... isso está maravilhoso.

— Que bom...

Debra se sentou em um dos extremos do balcão e ficou mexendo no celular.

Os pensamentos de Luiza, teimosos e traiçoeiros foram para seu passado recente. Por mais que lutasse contra, eles sempre faziam isso, iam para perto daquela morena que lhe tirava a sanidade. Pensava nela, lembrava de seu rosto, de seu corpo, de sua voz e risada. Lembrava dos carinhos trocados, dos beijos, do amor vivido, cenas das duas vinham a todo momento à sua memória, contudo, também vinha a última cena que lhe doía em algum lugar ainda mais inalcançável do que a saudade.

Valentina...

Era tanta a falta que ela lhe fazia, que Luiza sentia raiva de si. Aquele nome e aquela figura alta e sexy formaram seu último pensamento antes de dormir na noite anterior e o primeiro ao acordar pela manhã. Seu corpo chamava por Valentina e não tinha como explicar a ele que deveria esquecer-se dela. Como lhe explicaria, quando ela mesma não podia entender isso?

Valentina... filha da puta, eu te amo tanto... e, neste momento, te odeio tanto também...

Limpou uma lágrima disfarçadamente.

Inferno, achei que nem tinha mais lágrimas para chorar.

A quem ela tentava enganar, afinal? Não fazia mais nada quando ficava sozinha. Chorara à noite antes de dormir, de manhã ao acordar, no banho... A cor dos seus olhos acabaria mudando para vermelha.

— Ok, Luiza, em cinco dias. Daqui a cinco dias... O quê? Você não me acredita? Falei com o responsável direto pelas contratações e itinerários de cargas. Em cinco dias terá um caminhão direto para Albany, NY.

— Desculpe-me, Debra, não é que não acredito em você. Não acredito que tenho que esperar tudo isso — mentiu descaradamente. — Deve ter um jeito de chegar, fazendo "baldeação"... Hã...?

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