EU ESTOU AQUI

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Valentina levantou e se aproximou dela parando à sua frente, aqueles olhos castanhos ficaram enormes, fitando-a com intensidade. Valentina a puxou e abraçou muito forte. Luiza se agarrou a ela.

— Ele... não a matou, Luiza. Não mesmo! — Valentina disse após um tempo. Afrouxou o abraço segurando-a próxima e mergulhando em seus olhos. — Ele a feriu e a deixou com cicatrizes, mas você foi... Você "é" forte. Você ainda é essa menina linda e espirituosa que faz piadas bobas de situações sérias. Você é essa mulher linda que se preocupou em não se tornar indiferente ao sofrimento alheio. Você lutou bravamente e fugiu de uma situação impensável de onde muita gente grande não conseguiria — colocou a mão espalmada em seu peito. — Você ainda está aqui, sobrevivente e viva. Sua alma linda e forte pulsa bem aqui, e eu e todos que a conhecemos podemos senti-la. Eu posso senti-la e me orgulho muito de você, Luiza. Sou muito feliz por ter o privilégio de conhecê-la. Feliz por ter sido escolhida pelo universo para estar ao seu lado, neste momento tão delicado.

As pálpebras de Luiza baixaram lentamente, escondendo os olhos castanhos, e ela finalmente chorou. Lágrimas escorriam silenciosamente por seu rosto. Valentina abraçou-a novamente e deixou que ficasse por longos minutos molhando seu ombro.

— Eu... ainda não sei se você é real... — ela disse à Valentina, quando as lágrimas cessaram, a cabeça ainda deitada no seu ombro, o soprar da respiração indo e vindo em seu pescoço.

— Serei enquanto você também for.

Valentina desconfiou que ela sorria. Porém, Luiza finalmente se soltou dela e andou pelo quarto, passando as mãos pelo rosto e pelos cabelos, tentando recompor-se. Ela era a visão mais linda que Valentina já tivera. Uma visão de sonho ou de delírio...

— Ei, vocês têm que ver isso! — era a voz de Priscila vinda da sala. As duas correram até lá.

— O que foi? — perguntaram juntas.

Priscila não respondeu. Olhava para a TV. Debra chegou à sala logo depois delas.

Uma repórter contava sobre a queda do Cão Grande, mostrava as inúmeras e imponentes instalações da Hound Co. e falava sobre galpões clandestinos. Mostrou o lugar que Valentina, Priscila e seus amigos caminhoneiros estouraram, chamando-o de cativeiro. Falou sobre o tráfico humano e de drogas, do o roubo de cargas, da prática de sequestros e chantagens, havia muita sujeira por baixo daquele tapete.

— Olha lá! — Priscila gritou. — É a Antje!

De fato, Antje falava sobre todo o sofrimento e luta dos caminhoneiros contra Hanks, contava como fora o cerco e liberação do local e das pessoas cativas nos vagões.

— Aeeeee Antje! — comemoraram com gritos aplausos e assobios, quando ela acabou de falar.

— Agora esse filho da puta vai ter o que merece! — Debra falou enfática e todas olharam para ela. — O quê? Isso é exatamente o que ele é, um grande FDP!

Todas concordaram e aplaudiram Debra.

A reportagem falou ainda sobre a possibilidade de a justiça embargar as empresas e bloquear os bens do Cão Grande, até apurar todos os crimes cometidos pelo dono da Hound Co. e poder devolver os bens roubados ou adquiridos ilegalmente, sob chantagens, a seus devidos donos.

— Puxa, isso será bom para você, hein Valentina? — Debra disse entusiasmada, abaixando o som da TV.

— Então... é... Sobre isso... Eu preciso dizer a vocês... — hesitou.

— Dizer o quê? Fala logo, Valentina! — Priscila mostrava-se impaciente, ante a demora da amiga.

— Eu... nunca perdi nada para o Cão Grande. Eu nunca voltei a jogar.

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