AONDE VOCÊ QUISER

382 49 6
                                    

Deixar Valentina acenando-lhe naquele estacionamento afetou Luiza, mais do que ela esperava. Sentiu o coração apertado, desejou desesperadamente descer do caminhão de Bonnie e se jogar nos braços da "sua" morena linda.

Ah se liga, Luiza, para com isso. Valentina não é nada sua e não te deve nada. Você precisa seguir em frente e se concentrar em sua sobrevivência. Sinceramente, por mais que ela seja a pessoa mais carinhosa e protetora de que você consiga se lembrar, por mais que ela seja linda, gostosa e faça o sexo mais formidável que você já teve, ela não te deve nada. Ao contrário, ela já fez muito. Tinha graça, agora, Valentina deixar a vida dela de lado, suas obrigações e tudo, para te paparicar e te levar para onde você quiser. Tá bom...

— Você sabe, tenho duas entregas, a segunda é em Syracuse. Dali para Albany...

A voz de Bonnie parecia irreal, como se viesse de um tempo que ainda não ocorrera.

Luiza olhou para ela e sorriu fragilmente.

— Vai ser bom chegar.

Não era uma mentira completa, tinha esperanças de que fosse bom. Talvez em Albany ela pudesse dar um novo rumo à sua vida.

— Nada como chegar em nosso destino — Bonnie disse jovialmente.

— É... — a curta resposta foi seguida de um silêncio, em que voltou a pensar em Valentina.

— Você então não conhecia Iowa 80? — novamente Bonnie a chamava de volta à realidade.

— Não, infelizmente. É um lugar lindo, eu amei cada segundo passado lá.

Estava sendo sincera, cada momento passado ali fora especial, não somente pelo lugar, mas também pela companhia de Valentina. Ela fazia tudo parecer melhor.

Suspirou, parecia que tudo era motivo para pensar nela.

— Foi legal também conhecer Maya, ela é bem divertida.

— Maya é um amor, uma grande amiga.

Seguiram falando de Maya, Iowa 80 e depois emendaram outros assuntos sobre estrada, caminhões e afins. Bonnie era uma companhia agradável, era fácil conversar com ela, um assunto puxava outro. Ao fim, falou da noiva, de como se conheceram, trabalhando para Antje, e do amor que nascera aos poucos, dentro de uma grande amizade.

— Ficamos amigas logo de cara, Emily é doce, decidida, sincera, extrovertida (ao contrario de mim). Terminei um relacionamento, tava na fossa e ela me acolheu, me cuidou, uma coisa puxa outra, e eu tenho essa péssima mania de me apaixonar por minhas amigas... — sorriu. — Você sabe, nem sempre isso é uma boa ideia, às vezes dá muito errado.

— Pelo jeito deu muito certo dessa vez.

— Ah, sim dessa vez deu!

No fim da tarde, pararam para comer em um restaurante pequeno.

Bonnie era conhecida ali e foi cumprimentada pelo noivado.

Luiza pensou que a garçonete que as serviu era simpática.

— E como vai a Valentina? Faz tempo que não pinta por aqui — ela perguntou à Bonnie.

Luiza mudou de ideia, de repente.

De simpática essa oferecida não tem é nada! — pensou.

Bonnie fitou Luiza antes de responder à moça.

— Você sabe, nem sempre as rotas coincidem...

— Manda um alô pra ela, por mim, sim? Diga que estou esperando ela aparecer pra repetir a nossa... conversa.

Longe daquiOnde histórias criam vida. Descubra agora