A SOCIEDADE DA GATA

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Valentina desistira de dormir, queria chegar o mais rápido possível e pegou a estrada assim que saiu do restaurante. Na verdade, não conseguiria dormir, mesmo que quisesse. Sua mente e corpo encontravam-se em alerta.

Passando pouco das 4:00 a.m., ela e Priscila estavam na cozinha da casa de Antje.

— Filho da puta! Maldito Glover, é igual ao Hanks, se não for pior! — Priscila exclamou, esmurrando a palma da própria mão.

Priscila Jones, de estatura mediana e olhos castanhos claros, trazia os cabelos loiros cacheados em um corte curto desconstruído.

— Farei um chá calmante, para você, Valentina. Está precisando! — declarou Antje.

— Sério isso, "mamãe"? Eu preciso de uma bebida de verdade!

— Neh! Não precisa! Desde que horas não come?

Valentina não respondeu. O estômago revirava só de pensar em comida. Aquela altura dos acontecimentos, sua cabeça estourava de dor.

A holandesa, em seus mais de 60 anos, era branca, de estatura baixa e seus cabelos brancos eram curtos e lisos. Usava óculos de aros grossos e estava trajando um robe vinho e chinelos felpudos. Hesitou, porém, pegou a garrafa de uísque.

— Tudo bem, mas apenas uma dose!

Valentina bebeu de uma só vez e fez sinal pedindo outra.

Antje serviu-a.

— Para você nem mesmo uma dose, Priscila, você é a motorista!

— Qual é? Eu não disse nada, nem quero beber a essa hora...

— Ótimo! E sem "qual é"!

A cozinha de Antje era espaçosa e acolhedora. O balcão em cujos bancos estavam sentadas era comprido e largo.

Uma hora passou fácil por elas, enquanto conversavam.

— Você precisa relaxar, vá tomar um banho e dormir um pouco.

— Não tenho como relaxar, Antje.

— Precisa relaxar, o que podíamos fazer, por hora, está feito. Agora, só nos resta esperar o dia amanhecer e torcer para que as pesquisas de suas duas amigas surtam algum efeito. — ela se referia à amiga infiltrada de Valentina e à mulher do seguro, amiga de Priscila.

— Tenho certeza de que irá, Antje — disse Priscila. — Contamos com pessoas nos lugares mais estratégicos para conseguir informações sobre esse caminhão. Vamos, Valentina, todas nós precisamos dormir um pouco.

Sem entrar em detalhes, alertaram alguns caminhoneiros confiáveis para ficar de olho na placa, pedindo total discrição. Não podiam alertar a todos porque, de alguma forma, poderia chegar ao ouvido do Cão Grande que elas possuíam essa informação, e isso era tudo que não deveria ocorrer.

Valentina calou-se, sem nenhuma vontade de fazer o que lhe pediam, sentia-se culpada, frustrada e com muita raiva. Sobretudo, porém, estava preocupada, muito preocupada com Luiza. Temia que a machucassem. A verdade é que mesmo Erick Glover lhe garantindo sua integridade física, ela estava nas mãos de bandidos, pessoas sem escrúpulos, e Valentina temia que lhe fizessem algum mal, além da violência que já tinham cometido, o sequestro. Temia por seu emocional, seus pesadelos ainda não tinham ido embora, ela fugia de algo que realmente a machucara. E agora isso...

— Sem teimosia, Valentina, você não está se ajudando e tampouco pode ajudar sua namorada dessa forma. Se continuar assim, terá uma estafa, vai cair doente antes do fim do dia. Já não basta ter dirigido feito uma louca até aqui, fazendo um tempo recorde desnecessário? Quero que vá com Priscila e se recomponha, tome um bom banho, durma um pouco e coma algo. Faça-a comer, Priscila! Para vocês, Goedeavond... Boa noite! Ou o que restou dela...

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