A BELA E A FERA

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— É claro que sim, Priscila, é claro que eu sei o que vi! — Valentina respondeu à pergunta da amiga, com veemência. — Eu não quero mais ouvir falar nessa mulher. Se vocês são minhas amigas evitem tocar no nome daquela...

Entrou apressadamente no banheiro e fechou a porta. Não era só por querer chorar de novo. Era também, porque com "aquela mulher" ela se referia a sua Luiza. E era ainda porque desejava tirar aquelas imagens da cabeça, e suas amigas definitivamente não estavam ajudando. Finalmente, era porque ela não sabia responder à pergunta de Priscila. Tinha medo de estar certa e temia estar errada.

Quando ela abriu a porta daquele banheiro da balada, seu mundo só enlouqueceu... ela enlouqueceu... E se armou. Ódio. Dor... Foi tudo o que sentiu. Queria socar, estrangular, queria acabar com a raça de Torres. A fera estava de volta nela.

Valentina orgulhava-se de ser dona de suas ações, gostava de fazer as coisas com calma, pensar antes de agir para não colocar os pés pelas mãos. Ela tinha porte de arma, porém, andava armada apenas para proteção. Sabia lutar, tinha consciência de sua força excessiva, e sempre usava a luta como atividade física ou possível defesa, se necessário. No entanto, conhecia bem a fera que lhe podia habitar em situações extremas. Ela aparecera uma vez, ao descobrir a traição de Garcia.

Sua Luiza... ela estaria mesmo...? Não podia ser... Não, claro que não! Devia haver uma explicação! Naqueles segundos que passaram por elas, o pensamento sem palavras de que haveria uma explicação atravessou sua cabeça e talvez ela até tenha pensado em ouvir a namorada, porém, quando avistou Torres se levantando e colocando a mão na cintura de Luiza, da sua Luiza, e ainda dizendo a famosa frase clássica: "Calma, Valentina, não é o que você está pensando..." Valentina perdeu todo o rastro de racionalidade que lhe restava, a vontade de ouvir dissipou-se. De alguma forma, aquele gesto e aquelas palavras que lhe soaram tão sarcásticas concretizaram os temores que lhe iam na cabeça. Voou em cima dela, agredindo-a. Ia puni-la e ensiná-la. Valentina só desejava que Torres pagasse por estar com seu amor naquele banheiro. Desferiu o primeiro golpe e acertou seu rosto em cheio, atingindo-a bem próximo do olho esquerdo, jogando-a na parede. Foi até lá pronta para terminar o serviço, mas Torres se defendera. Preparava-se para desferir o próximo golpe, quando sentiu alguém segurando seu braço. Instintivamente virou o punho armado para atingir esse alguém também, mas quando viu tratar-se de Luiza, parou.

De alguma forma, olhá-la naquele momento tentando impedi-la de continuar a socar Torres, acendeu nela ainda mais o ciúmes e o ódio, contudo, estranhamente causou-lhe também uma enorme necessidade de protegê-la de si, a bela despertava a sensibilidade por baixo da pele da fera.

Por que, Luiza?

Torres tentou aproveitar-se da situação para atingi-la. Contudo, a fera estava pronta, todos os seus sentidos estavam alerta. Ela se defendeu e a prensou contra a parede.

Torres filha da puta! — pensou.

— Como ousa?! — perguntou bem próxima ao seu rosto.

Apertava sua garganta e sentia um prazer especial em vê-la perder o fôlego, a pele ficando vermelha, os olhos saltando das cavidades.

— VALENTINA! PARE...! — ouviu a voz de Luiza chamá-la, de algum canto que parecia mais na sua cabeça do que, de fato, naquele banheiro e a olhou novamente.

Naquele momento o rosto doce que amava, causava-lhe dor, mas era o rosto dela e, de alguma forma, a situava. Luiza estaria destinada a ser sempre seu ponto de equilíbrio, seu alicerce?

Então por quê? POR QUÊ?!

Olhou de novo para o rosto vermelho de Torres e a soltou. Ela escorregou pela parede e caiu sentada. Porém, Luiza aproximou-se dela.

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