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Valentina Foster

Chegamos a Chicago há alguns minutos. Percorremos ruas e mais ruas até meu endereço, até a casinha desbotada de lilás, com cercas brancas e um curto gramado, onde havia vivido a vida inteira.

Observo pela janela do carro, atenta às casas familiares ao redor. Era uma vizinhança calma e tranquila, não muito luxuosa, mas confortável.

Rebecca e seu irmão mais novo, Mattias, se provocaram durante todo o trajeto até aqui. Foi engraçado e me arrancou algumas risadas, o que ajudou a aliviar o cansaço da longa viagem.

"Você está ficando cada vez mais velha, Becca..." ele zoava, fazendo minha treinadora ficar vermelha de raiva, e então continuava "Precisa desencalhar logo, Becca..."

Eu segurava o riso no banco de trás, fingindo que não escutava os sussurros furiosos dela, que o repreendiam e disparavam inúmeros palavrões.

Rebecca não era velha; longe disso, estava no auge dos 30 anos e atraía olhares furtivos por onde passava, mesmo com toda a seriedade e — ouso dizer — amargura, em suas feições...

Mas, assim como eu, Rebecca não precisa de companhia. Afinal, nós temos a patinação.

Ela ainda seria uma ótima atleta, se não tivesse abandonado a patinação cedo demais... Consigo imaginá-la na pista, sob os holofotes, sorrindo e recebendo troféus, concedendo entrevistas e invejando a maioria das mulheres de sua idade...

O carro estaciona na porta da minha casa, me tirando dos pensamentos. Eu salto para fora, junto com minha mala e sigo para a calçada.

— Até logo, Tina... — ela se inclina para me olhar pela janela e acena com a cabeça — Diga a sua mãe que a reunião está de pé...

Eu aceno de volta, com um sorriso agradecido mas o cenho franzido.

Que reunião?

— Até, treinadora...

— Foi ótimo te conhecer, Valentina! Adios! — Mattias buzina, arrancando com o carro em seguida. Consigo ouvir as reclamações de Rebecca daqui...

Suspiro, desfazendo o sorriso, enquanto encaro a porta branca a alguns passos à minha frente...

Eu sabia que mamãe viria correndo, me abraçaria e me encheria de perguntas e broncas... Eu estava preparada para isso.
Mas não estava preparada para quando ela notasse que havia algo de errado, que havia algo me incomodando... Então eu sigo para a esquina, entrando na lojinha de conveniência dos Tanaka's.

Dou um "oi" para a atendente e sento-me sozinha, desfrutando de um macarrão instantâneo, pensando nos prós e contras de minha vida.

Porra, não pensei que quase beijar Ivan me deixaria tão atordoada assim. E pior, não pensei que fosse me frustrar ser ignorada por ele.

No fim de tudo, só minha carreira era uma certeza. E não importa o que vai acontecer, eu não vou largar meu futuro — como Rebecca fizera — ou deixar alguém me largar — como Nellie, mamãe, fizera.

Eu seria glacial, como Ária brincara. E confesso que isso também havia me incomodado...

— Desculpe a intromissão... — uma mulher de cabelos castanhos sorri, apontando pra a menininha ao lado — Minha filha gostaria de tirar uma foto com você...

Eu observo a garotinha, que sorri de orelha a orelha com um tablete gigante em suas mãos.

Sinto-me hesitar, mas não consigo negar. Então levanto, deixando a comida de lado

GLACIAL HEARTS ❄︎ TINA & IVANOnde histórias criam vida. Descubra agora