Capítulo 2

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[...]

Nina

Tem dias que viver dói.

Em pé ao lado da cama do hospital, vejo meu irmão dormindo, ligado a vários aparelhos. Seu rosto sempre corado, com um sorriso alegre apesar das dificuldades que enfrentamos, encontra-se sem vida, ele está pálido, a boca ressecada, agora está arroxeada, e seus estão olhos fundos devido à quantidade de peso perdida.

Dói ver meu irmão assim e não poder fazer nada. Dói saber que por um sistema de saúde falho, meu irmãozinho vai morrer, sem que eu possa fazer nada para que ele possa viver.

Essa droga de vida.

Inferno.

- Acompanhante do Jeon Jungkook? - Seco as lágrimas dos olhos ao ouvir o nome do meu irmão.

- Eu mesma.

- Boa noite, sou o Dr. Kim. Tive acesso ao histórico do paciente. Você é Jeon Nina? - Ele me questiona.

- Sim, ele é meu irmão. - Respondo, tentando inútilmente controlar a voz de choro.

- Sinto muito em não ter boas notícias, mas seu irmão teve uma piora no quadro. - Meu coração gela. - Não podemos adiar mais, a cirurgia precisa ser realizada nos próximos dias. O coração dele está fraco, temo que ele não sobreviva muito tempo sem a cirurgia.

Sem conseguir segurar, minhas lágrimas descem descontroladamente pelo meu rosto, balanço a cabeça negando, um soluço acompanha as lágrimas, logo estou uma bagunça entre lágrimas e choro engasgado.

Meu irmãozinho, não pode ser. Porque com ele? Podia ser eu, eu não importaria de trocar com ele de lugar.

- A senhora está bem? Aceita um copo de água? - O médico se aproxima, tocando meu braço para ter minha atenção. Meio desnorteada, olho para seu rosto que está completamente embaçado por causa das lágrimas.

- Qual o valor da cirurgia hoje? - Pergunto, tentando limpar as lágrimas e controlar minha respiração.

- 25.000.000,00 wons.

- Meu Deus! - Assusto com o valor. - Tenho até quando para conseguir esse dinheiro?

- O mais rápido possível, seu irmão não chegaria até o final desse mês sem essa cirurgia Senhorita. - Ele fala triste com a informação.

- E-eu... Posso ficar sozinha com meu irmão? - Pergunto, olhando para cama onde meu irmão está respirando tranquilo desacordado.

- Claro, queria poder fazer mais por você, mas infelizmente não está ao meu alcance.

- Eu vou dar um jeito. - Ele me olha com pena.

- Qualquer coisa é só chamar a enfermeira. - Ele fala saindo do quarto, finalmente me deixando a sós com meu irmãozinho.

Sem forças, me vejo caindo de joelhos no chão. Deixando as lágrimas tomarem conta dos meus olhos, deixando a postura de forte e positiva que venho assumindo na frente do meu irmão.

- Eu não posso viver sem você Kookie. - Sussurro entre ao choro desesperado, tentando fazer o mínimo de barulho possível.

[...]

- Alô, vendendo selinho.com, o que posso ajudar? - Fico muda ao ouvir a secretária falar do outro lado da linha.

Após a conversa com o médico, chorei a noite inteira ao lado do meu irmão. Abrindo mão do meu orgulho e escrúpulos, decido tomar a decisão que pode ou não mudar minha vida.

Vender minha virgindade.

Notando meu silêncio ao telefone, Yumi toma o celular das minhas mãos. Assumindo por mim, me afastando dela, volto a me sentar do lado do meu irmão no quarto, pegando em sua mão que está fria devido à dificuldade que seu coração encontra para bombear o sangue.

Desde que chegamos ao hospital ontem a noite, ele ainda não acordou. O Dr. Kim informou que é normal, pode ser que demore mais um pouco para ele despertar, frisando mais uma vez da importância da cirurgia para sua recuperação, já que ainda está em estado crítico e vai piorar se demorar mais.

Sem pensar, pedi para fazer uma ligação, na qual pedi à minha amiga para vir ao hospital. Não ter celular dificulta muito as coisas, mas graças a Deus consegui falar com Yumi, só não esperava ficar muda ao marcar uma visita ao escritório. É surreal a ideia de me deitar com um estranho em troca de dinheiro, mas na situação que me encontro, isso é o de menos.

- Claro, estaremos aí. - Yumi se aproxima, guardando o celular no bolso. - Marquei. Hoje à tarde vamos lá saber mais sobre. Você vai mesmo fazer isso? - Ela me questiona, aproximando do outro lado da cama, acariciando os cabelos do meu irmão.

- Eu não tenho outra opção...

- Podemos tentar mais uma vez um empréstimo, ou até...

- Já tentamos quatro vezes. - Suspiro.

- Desculpa, eu só queria conseguir te ajudar. - Ela abaixa a cabeça, ainda acariciando a cabeça do meu irmão. Sei que ela está tentando se forte, não desesperar, já que ela é tão próximo ao Kookie como é a mim.

A família da Yumi acolheu eu e meu irmão de uma forma, que só posso agradecer por tudo. Mesmo eles não tento muito, sempre me ofereceram comida e até mesmo carinho quando precisei ao perder meus pais. Sou muito grata por tudo, ainda mais pela minha amiga que sempre, em todas a situações está comigo.

- Está ajudando... Sem você, eu não teria a oportunidade desse leilão... - Sussurro, sem conseguir completar a frase. Falar em voz alta, torna tudo real, me vender não são bem aos meus ouvidos, mas é necessário.

- Amiga...

- Eu daria minha vida pelo Kookie. A virgindade é o de menos. - Falo baixinho, esgotada emocionalmente.

- Eu vou com você. Vou te apoiar...

- Não precisa perder dia de serviço por mim. Você já me ajudou muito.

- Vou avisar o Jisung que vou faltar, além de informar o motivo da sua falta hoje. Eu não vou deixar você fazer isso sozinha. - Ela fala pegando mais uma vez seu celular no bolso.

- Obrigada, não sei o que faria sem você...

- Você é minha melhor amiga, não me agradeça. Somos família, mesmo não tendo o mesmo sangue.

Vou agradecer mais uma vez, mas me calo ao sentir a mão do meu irmão se mover e notar seus olhinhos de Bambi olhar em volta, ficando seu olhar em mim.

- N-nina... - Ele fala com dificuldade. Abraço ele com cuidado, decido aos fios, ouvindo ele gemer com o movimento repentino que causo, ao tocar nele.

- Shiiiiii Kookie, vai ficar tudo bem. A irmã vai conseguir a cirurgia. Você vai ficar bem. - Yumi me olha com os olhinhos tristes, vejo ela afastar com o celular no ouvido. Fecho os olhos aproveitando o contato com meu irmão, aliviada por eles está consciente mais uma vez.

Eu vou fazer isso pelo meu irmão.

[...]

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