❝ 𝗘𝗹𝗮 𝗽𝗮𝗿𝗲𝗰𝗶𝗮 𝘂𝗺 𝗮𝗻𝗷𝗼. ❞
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Suspirei, olhando para o teto manchado e rachado. Meu peito sobe e desce lentamente, como se cada respiração fosse um esforço.
Por quanto tempo eu estava ali, deitada no chão frio e duro? Acho que algumas horas, mas o tempo parecia não ter mais sentido.
Minhas pernas pararam de formigar, mas não tive coragem de mexê-las. Parei de chorar há muito tempo, acho que não tenho mais lágrimas para derramar.
Tenho quase certeza de que tenho um corte na cabeça, mas também não tive coragem de verificar.
A sensação de algo quente escorrendo pela minha testa, agora seco, me deixa enojada. Fecho os olhos, tentando reunir a coragem que busco há horas para me levantar.
- Você tem que se levantar - digo a mim mesma, tentando encorajar meu próprio corpo a se mexer.
Minha voz soa estranha, quase irreconhecível, como se viesse de outra pessoa. Continuo olhando para o teto, respirando com dificuldade, tentando com todas as minhas forças dar comando para minhas pernas.
Devagar, lentamente, consigo levantar meus braços. Apoiei um cotovelo no chão áspero, sentindo a textura arranhar minha pele, fazendo o tronco do meu corpo ficar ereto com um esforço tremendo.
Demoro quase dez minutos para ficar de pé na sala. A blusa rasgada que cobria meus seios cai, me fazendo sentir o ar gelado do ambiente, me fazendo sentir mais vulnerável.
Olho para minha calça jogada em cima do sofá, ela foi a primeira coisa que ele tirou. Fecho os olhos com força, tentando afastar todas as memórias horríveis o mais longe possível.
Tento me focar em algo, qualquer coisa que não seja o que aconteceu, mas as lembranças me assombram.
Caminho lentamente pela sala, não tenho a chance de dar seis passos antes de sentir algo pontudo cortar a sola do meu pé. Grito, olhando instantaneamente para o chão.
Os cacos do abajur. Está por toda parte. Volto para trás, mancando, vendo o sangue cair em gotas do novo corte no meu pé.
Sinto meus pensamentos ficarem novamente desorientados. Olho ao redor, procurando algo que possa usar para estancar o sangramento. Mas então eu vejo, a peça final, jogada perto de onde eu estava deitada. Tento respirar, mas como posso lidar vendo minha calcinha coberta de sangue?
Minha visão começa a ficar turva, como se estivesse olhando através de um túnel estreito. O som ao meu redor se torna abafado, como se eu estivesse submersa. Tento focar em algo, qualquer coisa, mas minha mente está presa no horror do que aconteceu.
Minha respiração se acelera, tornando-se rápida e superficial. Parece que não consigo puxar ar suficiente para encher meus pulmões. O chão parece instável sob meus pés, e eu me sinto tonta, como se fosse desmaiar a qualquer momento.
- Respira, só respira - tento dizer a mim mesma, mas minha voz sai fraca e trêmula.
Fecho os olhos com força, tentando me concentrar em respirar devagar. Conto até quatro enquanto inspiro, depois até quatro enquanto seguro a respiração, e finalmente até quatro enquanto expiro. Tento repetir isso, mas cada vez que abro os olhos, a visão da calcinha ensanguentada faz o pânico voltar com força total.
Minhas pernas começam a fraquejar, e eu caio de joelhos, o impacto trazendo uma nova onda de dor. O mundo ao meu redor gira, e eu me sinto completamente impotente, presa nas memórias do estupro.
Em algum momento, eu adormeci. Não sei exatamente por que, mas talvez tenha sido quando meus pulmões se fecharam e me fizeram perder a consciência.
No começo, tudo estava confuso. Era como estar debaixo d'água, ouvindo apenas o barulho abafado e distante da água se mexendo. Então, como se meu corpo estivesse subindo para a superfície, comecei a escutar uma voz. No início, era um som incoerente, mas foi ficando mais nítido, mais alto.
- Sofia - a voz era doce, aveludada.
O primeiro toque que senti em meu braço foi suficiente para me despertar completamente. Soltei um gemido, empurrando minhas costas para longe, tentando fugir do toque e abrindo meus olhos.
A claridade era forte, batendo diretamente em meus olhos, me fazendo resmungar.
- Tá tudo bem, você está bem - a voz continuava. Eu olhei para frente, tentando buscar sentido no que estava acontecendo.
Então, mãos delicadas surgiram, segurando frouxamente minhas bochechas, fazendo meu rosto praticamente derreter no contato inesperado.
- Olha pra mim - escutei, e meu rosto lentamente foi se levantando.
Meus olhos se encontraram com os verdes, brilhantes como vidro. Era ela, a senhora K. A mulher estava milagrosamente ajoelhada na minha frente. Ela parecia um anjo, seu rosto sendo iluminado pela luz laranja da sala.
Minha garganta se prendeu. Tentei sorrir, tentei fazer qualquer coisa, tentar demonstrar alguma reação, mas tudo o que consegui fazer foi chorar.
As lágrimas desciam sem controle, meu peito estava atrofiado e o som engasgado do choro saindo sem cerimônia.
- Não tive tempo de fugir - disse depois do que pareceu uma eternidade. Minha voz estava rouca, arrastada, mais choro do que palavras.
Senti meu corpo ceder, os membros ficando moles.
- Eu sei - ela respondeu
A senhora K. me puxou gentilmente para seus braços, segurando-me com firmeza, mas com uma suavidade que eu mal podia acreditar. Senti o calor do seu corpo, a segurança do seu abraço, e por um momento, o mundo parou de girar.
- Você está segura agora - ela sussurrou em meu ouvido, acariciando meu cabelo.
Eu não sabia como, nem o porque, mas ela estava ali, me segurando em seus braços.
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𝑪𝒐𝒏𝒕𝒓𝒂𝒕𝒐 𝒅𝒆 𝒂𝒎𝒐𝒓
RomanceSofia é uma menina doce é gentil, porém ela está passando por um momento difícil em sua vida. A pouco tempo ela descobriu que seu ex-namorado fez um vídeo impróprio seu e a está chantageando. Sem muitas ideias de como resolver, ela contrata uma assa...