𝟏𝟎 • 𝐍𝐚𝐭𝐚𝐬𝐡𝐚 𝐊𝐢𝐥𝐛𝐞𝐫

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𝓑𝓸𝓫𝓫𝔂 𝓝𝓪𝓼𝓱

Há 23 anos conheci uma mulher, Natasha Kilber, na época éramos jovens, eu tinha 21 e ela 19 recém completados. Nos conhecemos durante o curso de formação de bombeiros em Minnesota. Eu gostava dela e ela de mim, mas ninguém se declarou para ninguém, o que resultou apenas em uma amizade — nenhum dos dois se via assim — Essa relação permaneceu dessa forma, pois nem eu e nem ela tínhamos coragem para dizer a verdade e dar o próximo passo.


Terminamos o curso juntos e, pela ironia do destino, fomos designados para o mesmo batalhão, o 217, em Saint Paul. Éramos uma dupla inseparável.

Logo assim que terminei o meu ano de experiência, comecei a me preparar para o concurso de CFO que aconteceria no próximo ano para me tornar oficial dos bombeiros e depois chegar ao cargo de Capitão. Esse sempre foi o meu objetivo, usar alguns concursos internos para subir mais rápido na hierarquia. Diferente de mim, Natasha não queria cargos altos de imediato, ela queria se especializar na sua função de paramédica para tentar uma vaga no Centro de Resgate Aéreo, lidando com pacientes de alto risco.

Dois anos se passaram e foi exatamente isso que aconteceu, eu consegui passar no concurso para Oficial e ela conseguiu a sua vaga no C.R.A. O destino nos juntou e nós nos separamos, eu fui para outra cidade para começar a minha formação e ela foi para o Texas. Antes de nos separarmos de vez, marcamos uma festa em um bar com alguns amigos mais próximos. Claro que o resultado disso não seria nada bom. Como sempre, exagerei na bebida e ela também. Na época, a gente saía para comemorar qualquer coisa e terminava como dois bêbados.

O resultado desse happy hour foi que a gente acabou transando. Por incrível que pareça não foi um completo desastre. Foi nesse momento que um falou para o outro o que realmente sentia, mas já era tarde demais, os planos mudaram e ninguém queria arriscar um romance que "começou" com uma transa.

O que era previsto aconteceu, a gente se distanciou e nunca mais se falou. Tive notícias dela, quatro anos depois. O nome dela apareceu no sistema dando como expulsa dos bombeiros por uso de narcóticos. O seu vício em álcool evoluiu para drogas.

Continuei recebendo notícias por alguns meses sobre ela estar entrando e saindo da reabilitação. Se eu não tomasse cuidado, eu seria o próximo. Na verdade, isso chegou a acontecer, eu fui pego trabalhando drogado, mas como estava em um cargo alto, passaram panos quentes para mim. Recebi apenas uma suspensão e reabilitação forçada. Quando isso aconteceu, eu já estava casado com Marcy, já tinha Robert e Brooke, ainda era pequena. Quase acabei com o meu casamento — antes, a gente tivesse se separado, pelo menos assim não estariam mortos por minha causa.

Os anos se passaram e nunca mais tive notícias ou contato com ela. Eu só não esperava que ela iria bater na minha porta.

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Eu estava terminando a minha pequena palestra no AA quando ao analisar com mais cuidado todas as pessoas que estavam me assistindo, percebi ao fundo um rosto familiar. De longe não consegui ter muita certeza de imediato, mas ao olhar novamente me dei conta de que era ela, Natasha Kilber. Ela apareceu na minha porta semana retrasada para me entregar uma pizza. Pensei que não iria vê-la tão cedo.

Cumprimentei alguns amigos após o término do nosso encontro. Lentamente, eu me aproximava de onde ela estava. Com certeza ela não estava nada bem, eu conheço aquele olhar vazio e sombrio de longe, volta e meia vejo um desses.

Desde que Wendall se foi me senti na obrigação de continuar o trabalho do homem que me ajudou. Sempre que vejo um visitante, me atento para prestar minha solicitação. Dessa vez não foi diferente. Me aproximei devagar, ela não me notou de imediato, tinha algo no chão que estava prendendo a sua atenção do mundo exterior.

ℭ𝔥𝔞𝔪𝔞𝔰 𝔇𝔬 𝔇𝔢𝔰𝔱𝔦𝔫𝔬 Onde histórias criam vida. Descubra agora