ℭ𝔥𝔞𝔪𝔞𝔰 𝔇𝔬 𝔇𝔢𝔰𝔱𝔦𝔫𝔬

𝟏𝟐 • 𝐎 𝐅𝐢𝐥𝐦𝐞 𝐝𝐨 𝐍𝐨𝐬𝐬𝐨 𝐀𝐦𝐨𝐫 • 𝟏/𝟐

𝓑𝓸𝓫𝓫𝔂 𝓝𝓪𝓼𝓱

Dois meses se passaram desde aquele maldito incidente comigo. Demorou um pouco para eu conseguir ficar sozinho em casa sem que qualquer barulho me assustasse. Doutor Frank como sempre, teve bastante trabalho comigo e mais uma vez conseguiu me colocar nos trilhos novamente.

Athena insistiu bastante para eu denunciar os dois detetives que me torturaram, mas eu não quis levar adiante. Eles já me machucaram bastante "só" com aquilo, eu não queria fazer dois novos inimigos iniciando um processo que dentro de pouco tempo estariam livres de novo. Então, eu apenas optei por esquecer tudo o que aconteceu naquele dia e tentar viver como um homem normal — como se isso fosse possível para alguém com o psicológico todo remendado.

Por incrível que pareça eu estou bem. Não tenho uma crise de pânico desde o ano passado depois do nosso cruzeiro de lua de mel que quase acabou comigo sendo executado por piratas na frente da Athena ou então com nós dois mortos — pois é, eu tenho uma lista extensa de traumas.

Agora, tudo o que eu tenho feito é seguir com as minhas consultas semanais com o doutor Frank e pensar somente no futuro. Confesso que essa nova realidade da Athena, grávida prestes a ter um bebê em menos de dois meses, está me deixando bastante empolgado e ansioso para acontecer logo.

Eu estava na cozinha tentando fazer alguma coisa que Athena conseguisse comer. Ela tem andado com muita náusea por essas últimas semanas. Cada hora era com algo diferente. Parece que todo o enjoo do início da gravidez ficou guardado para vir só agora, fora a constante mudança no humor que está me deixando louco. Hora ela está rindo até do vento e dois minutos depois está com raiva até do som da minha respiração. Esses dias, eu fiquei umas duas horas mudo porque até o timbre da minha voz estava irritando ela — o que eu não faço, por amor?

Eu ainda vou enlouquecer até às 38 semanas!

— Nossa... mais que cheiro é esse? — franziu o nariz atravessando a cozinha vindo até mim abanando o ar na frente do seu rosto.

— É o seu preferido! — respondi meio confuso. — Tiras de frango grelhados com um pouco de molho vermelho que eu acabei de fazer e, creme de leite... tipo um estrogonofe só que de frigideira.

Resmungou negativamente para mim com uma cara nada boa.

— O que foi?

— Eu tô enjoada, o cheiro só piora! — respondeu um pouco manhosa.

— Amor — meus ombros caíram. — Essa é a milésima coisa que eu tento fazer... você comeu ontem a noite e não ficou enjoada!

— Mas agora eu tô! — fez um biquinho como se fosse uma criança.

Suspirei, desacreditado em como ela pôde ter mudado o paladar pela centésima vez em menos de 12 horas.

Isso está me deixando maluco.

— Desse jeito eu vou acabar enlouquecendo, a cada minuto aparece uma coisa diferente que você odeia.

— Ninguém mandou me deixar grávida! — suspendeu uma das sobrancelhas enquanto sentava na bancada meio emburrada.

Fiquei observando ela por um instante, analisando a sua expressão para tentar desvendar o que ela queria.

— Tá... pela sua cara, eu sei que está com fome, mas também sei que não quer o frango — ela concordou, acenando com o queixo apoiado nas mãos. — Então, você quer comer o quê?

— Qualquer coisa que não seja frango? — bufou.

— Uma alcatra com aquele molho madeira que você adora?