ℭ𝔥𝔞𝔪𝔞𝔰 𝔇𝔬 𝔇𝔢𝔰𝔱𝔦𝔫𝔬

𝟐𝟔 • 𝐎𝐢𝐭𝐚𝐯𝐨 𝐌ê𝐬

𝓑𝓸𝓫𝓫𝔂 𝓝𝓪𝓼𝓱

Faz uns dias que toda aquela bagunça aconteceu. Estou tentando me manter na linha e não me sentir um idiota perto da minha esposa. Ela me deixou claro diversas vezes que eu não tenho motivos para me sentir assim, que eu não preciso ter vergonha de demonstrar o que está acontecendo na minha cabeça, mas é praticamente impossível. Eu sempre tive o pensamento de que um homem forte não demonstra as suas fraquezas ou os fantasmas que lhe assombram, então falar sobre isso é algo difícil e confesso que é muito constrangedor também.

Eu tenho muita dificuldade nisso. Quando tento falar, parece que tem um arame farpado na minha garganta me impedindo de falar e, na mesma hora, vem o nervosismo e uma vontade enorme de começar a chorar. Às vezes, no início, eu consigo me manter calmo, mas depois tudo desanda e acabo fugindo. Depois, não consigo encarar as pessoas como se nada tivesse acontecido, eu me sinto mal por isso, como se tivesse feito algo errado.

Athena conseguiu me puxar de volta e me afastar de todos aqueles pensamentos sombrios. Graças a ela, hoje estou melhor, ela tem feito várias coisas que eu gosto na tentativa de me fazer voltar ao normal. Ontem nós fizemos uma noite gastronômica, especificamente culinária italiana. Athena sabe mais do que ninguém que eu tenho uma paixão enorme por cozinhar e que eu também sou grande fã de comida italiana.

Cozinhar faz eu me sentir leve e esquecer as coisas, então eu posso afirmar que foi uma ótima investida da parte dela.

Nos divertimos bastante, ela me levou até o mercado e compramos vários ingredientes para fazer pizza — um dos meus favoritos quando se trata de comida italiana —, fizemos até uma competição da pizza mais criativa e quem conseguia comer mais pedaços. Eu quase ganhei, mas ela estava jogando em dupla. Foi engraçado eu ter usado esse argumento para disfarçar essa derrota, mas confesso que eu amei. Uma simples noite a sós, cozinhando juntos, me fez lembrar o que realmente é importante e o que de fato merece a minha atenção.

Ela não sabe, mas indiretamente ela me ensinou que olhar para o passado é uma opção ruim de se seguir, mesmo que seja para esclarecer alguns assuntos ou perguntas não respondidas, sendo que no final das contas ela não se importa como eu era e sim como eu sou hoje. Isso mudou a minha mentalidade, tomei a decisão de que tudo o que eu quero a partir de agora é focar no meu futuro e esquecer de quem eu era, voltar aos pensamentos que eu tinha antes de tudo aquilo acontecer e o primeiro passo da minha nova decisão, é planejar a chegada da minha princesinha.

Athena completou 32 semanas ontem, o que corresponde ao início da segunda semana do oitavo mês. Isso significa que falta pouco tempo para minha garotinha chegar, mas também que teremos uma maratona intensa de idas e vindas do hospital para fazer milhares de exames.

Hoje, a minha ansiedade acordou alta, mas dessa vez é por um bom motivo e estou sem efeitos colaterais, somente um frio na barriga desde a hora que levantei. Athena continua plena como sempre, quem fica queimando os neurônios, sou eu. Um grande exemplo disso é agora, faz uns quarenta minutos que ela está no chuveiro. Estou terminando de me arrumar e ela ainda nem começou.

Acho que ela está a fim de testar a minha capacidade de manter a calma e não surtar de ansiedade.

Enquanto estou terminando de calçar os meus tênis old school da vans, apenas com a calça jeans preta e o cinto afivelado, Athena saiu do banheiro enrolada em duas toalhas, uma no corpo e outra no cabelo, com a cara mais cínica do mundo.

— Amor, são quase nove, a gente vai se atrasar — parei o que estava fazendo, cruzando as mãos estendidas na frente do corpo, ainda sentado na poltrona.

— Eu me arrumo em um minuto — zombou revirando os olhos, passando na minha frente indo até o seu lado do guarda-roupa.

— Aham, sei! Você disse a mesma coisa... — deixou a toalha cair no chão de propósito. — Há quarenta minutos... — arrumei voz, admirando de cima a baixo o seu corpo virado de costas para mim.