ℭ𝔥𝔞𝔪𝔞𝔰 𝔇𝔬 𝔇𝔢𝔰𝔱𝔦𝔫𝔬

𝟐𝟐 • 𝐎 𝐏𝐚𝐬𝐬𝐚𝐝𝐨 é 𝐏𝐫ó𝐥𝐨𝐠𝐨 • 𝟐/𝟐

𝓑𝓸𝓫𝓫𝔂 𝓝𝓪𝓼𝓱

...

— Pode ficar calma, não precisa me olhar assustada... eu não sou um monstro.

O meu olhar cai ao ver Athena com um semblante assombrado depois que mencionei ter matado o meu pai. Sei que isso é assustador, mas infelizmente é verdade, não do modo convencional... foi um acidente... de novo um acidente.

— O que você fez? — perguntou receosa.

— Foi um acidente, não foi intencional... eu posso te explicar tudo do começo? E o motivo de eu querer tanto desenterrar esses segredos?

Assentiu para mim.

— Ótimo!... Bom, eu sei que isso é assustador, mas não precisa ficar com medo, como eu disse não foi intencional e logo você vai entender o porquê isso aconteceu...

— Eu não estou com medo de você, Bobby, eu só não esperava por isso!

— Que bom! — respirei aliviado, por um momento eu pensei que ela tinha ficado com medo de mim. — Eu vou começar de novo se não se importar, e se por um acaso eu parecer frio, por favor entenda que eu só estou lutando muito pra me controlar e não desabar.

Inspirei fundo me virando para ela ficando na sua frente.

— O motivo de eu estar te contando isso, Athena, é que eu não quero mais esconder as coisas de você, muito menos mentir quando me perguntar algo... hoje, antes de ter uma crise eu estava pensando em você e na nossa pequena, principalmente em você! Pensei que talvez você tivesse perguntas sobre mim, mas que provavelmente nunca fez porque sempre soube que era um assunto delicado... então se tiver alguma pergunta, pode falar, ou se quiser eu posso contar tudo de uma vez.

Athena me encara respirando pausadamente como se estivesse repassando o pouco que eu contei até agora. Ela já ficou um pouco apreensiva e eu nem contei nada, estou com medo da reação dela.

— Por que você resolveu me contar isso só agora? — indagou com uma voz calma.

— Porque eu passei anos sem deixar você me ver por completo... sempre tive muito medo de ser julgado ou mal compreendido.

— Eu nunca te julgaria... você só me pegou de surpresa, entende?

Assenti.

— Olha, ao invés de eu te fazer perguntas, por que você não me conta tudo de uma vez? Começa tudo de novo. Prometo que eu vou tentar te entender e te escutar... sem julgamentos.

— Ok!

Fechei os olhos respirando fundo por um segundo, me preparando para revirar todos os meus traumas... e então... comecei a colocar tudo para fora.

— Quando eu era garoto eu era apaixonado pelo meu pai, ele era o meu herói. Tim Nash era o nome dele. Eu cresci pensando que ele era o melhor homem do mundo, o salvador da cidade, mas isso era apenas a visão de um menino de 9 anos... Quando eu tinha 14 anos, o meu pai recebeu um prêmio de coragem depois de um salvamento praticamente impossível em uma fábrica incendiada. Nesse dia eu fiz um presente pra ele, montei um livro com o nome de todas as pessoas que ele já tinha salvado... coloquei de tudo, matérias, fotos, agradecimentos, tudo o que se pode imaginar... nessa época eu ainda o idolatrava.

— Parece pai de comerciais de TV — acrescentou.

— Até certo ponto, sim, pelo menos era o que eu pensava... O meu irmão, Charlie, achava tudo o que eu fazia ridículo, dizia que eu era filhinho de papai e idiota por ver nosso pai assim. Eu nunca entendi o porquê de tanta indiferença, até que em um domingo eu acordei com os meus pais discutindo na sala... a minha mãe estava brigando com ele por estar bêbado às 8:00 da manhã. Assustado com toda aquela gritaria, eu saí do quarto pra tentar entender o que estava acontecendo. O meu irmão me parou no corredor dizendo que não era uma boa ideia ir até lá... ele tentou me convencer várias vezes a não ir, mas eu o ignorei... quando eu entrei na sala eu vi eles brigando feio... e a cena que eu não esqueço até hoje... o meu pai bateu com força no rosto dela e ela quase caiu em cima da mesa de vidro... na hora eu fiquei em choque, assistindo o meu irmão indo pra cima dele pra defender a minha mãe — engoli seco evitando que as lágrimas se formassem nos meus olhos.