𝟐𝟑 • 𝐏𝐨𝐧𝐭𝐨 𝐝𝐞 𝐄𝐛𝐮𝐥𝐢çã𝐨

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𝓑𝓸𝓫𝓫𝔂 𝓝𝓪𝓼𝓱

...

— Depois do que aconteceu, eu liguei pra emergência por impulso — retomei a palavra, já estava no meio do caminho de contar tudo a ela, não vou parar justo agora. — Assim que eu consegui ter a real noção do que fiz, me deu um desespero, como eu iria provar que não foi intencional?...

— Mas não foi, certo? — arqueou as sobrancelhas, intrigada.

— Não, pelo menos acho que não!... Eu estava cansado daquilo tudo, então eu não tenho certeza se foi realmente legítima defesa...

— Como não, Bobby? Ele estava bêbado e drogado! Ele podia ter te matado ou sabe lá o quê!

— Bom... não seria a primeira vez que um bêbado e drogado mataria alguém!

Athena franziu o cenho, inclinando a cabeça levemente para o lado, buscando entender o porquê da minha afirmação.

— Como assim? Do que você está falando, Bobby?

Suspirei com desdém, pensando em como ela se esqueceu da pior coisa que eu já fiz na vida.

— Até parece que isso é um segredo pra você, né?... O bêbado drogado sou eu, ou você se esqueceu de que o meu pai não foi a única pessoa que eu matei?

Athena me encarou séria, indignada com o que acabei de dizer.

Não é a primeira vez que Athena escuta isso de mim, mas vai ser a primeira vez que ela vai saber a história completa. Que o meu vício não é uma coisa recente e sim que ele começou quando eu tinha 15 anos depois da morte do meu pai.

O meu relacionamento com álcool e drogas é um demônio antigo que me assombra sempre que acho uma brecha.

— Eu tenho mais coisas enterradas do que você imagina! Tudo o que eu te contei sobre a morte da minha família durante esses anos que estamos juntos foi a parte rasa de toda história!... Por exemplo, você não sabe que eu virei alcoólatra ainda na adolescência!

Eu posso ver o espanto se instalar sobre o seu rosto e, de quebra, a conclusão de que a minha afirmação sobre ela não me conhecer direito se tornar verídica à medida que ela me observa. Eu não julgo a sua reação, aliás, não é todo mundo que é casado com um homem que não permite ser conhecido totalmente.

Eu estou disposto a mudar isso, quero contar a ela tudo aquilo que já escondi e ainda escondo por medo de ser julgado e mal compreendido.

Estou encarando todos os meus traumas com unhas e dentes por dois motivos, o primeiro porque ela merece saber toda a verdade sobre mim e o segundo porque eu preciso colocar tudo para fora rápido. Isso está entalado na minha garganta há anos.

Respirei fundo, encarando o seu rosto confuso, percebendo o vazio tomando conta do meu olhar e criando coragem para continuar. Sei que estou parecendo frio em relação a tudo isso, mas é porque eu não tenho mais o que fazer, já estou tão desgastado mentalmente e fisicamente que eu estou contando tudo como se fosse um psicopata sem sentimentos, sendo que, no fundo, eu tenho a clara sensação de que a minha alma está sendo dilacerada pouco a pouco com uma lâmina afiada, a cada pedaço que conto.

E, no final das contas, eu só estou tentando me manter firme para não desmoronar junto com toda essa avalanche.

— Quando os bombeiros chegaram e viram que não tinha nada a se fazer a não ser recolher o corpo, eu fiquei sozinho por algumas horas até a minha mãe voltar, ela estava morando em outra cidade... E foi exatamente nessa brecha que tudo começou! Eu estava em choque com tudo o que aconteceu, parecia que alguém tinha me resetado porque nem chorar eu consegui chorar. Não tem quando alguma coisa te deixa tão atordoado que você simplesmente trava e só vai ter real noção daquilo depois?

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⏰ Última atualização: 4 days ago ⏰

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