𝓑𝓸𝓫𝓫𝔂 𝓝𝓪𝓼𝓱
É de manhã e eu não consigo voltar a dormir. A conversa que tive com May ontem, me perguntando sobre os meus pais, não sai da minha cabeça.
Embora eu tenha me desligado disso durante a madrugada incrível que tive com Athena, esses pensamentos voltam a rondar a minha mente. Já faz um tempo que eles não me assombram, de algum modo eu havia conseguido guardar as memórias da minha infância dentro de um buraco negro no fundo do meu córtex pré-frontal, mas parece que esse buraco negro cuspiu isso de volta a partir do momento que escutei ela perguntando sobre eles.
Eu não sabia como reagir, fui pego desprevenido e de guarda baixa — afinal, eu não preciso me proteger da minha filha —, então eu obriguei o meu cérebro a processar uma resposta rápida que dissesse a verdade, mas que não desse detalhe. Usei o que estávamos fazendo como escudo para evitar que ela visse os meus olhos assim que eu dissesse que os meus pais estavam mortos.
Obviamente, ela percebeu a fragilidade do assunto e logo se desculpou. Eu não a culpo por perguntar, não tinha como ela saber, por isso agi como se nada tivesse acontecido para não deixá-la mal... mas por dentro... a minha cabeça virou um caos.
Não importou que as minhas atitudes subsequentes não tivessem demonstrado o que realmente estava se passando no meu psicológico, porque, como sempre, eu tenho uma saída de emergência quando isso acontece, me fazendo agir naturalmente. Só que depois que eu passo por ela... é um caminho sem volta... eu acabei de dar munição aos meus traumas, deixei que eles crescessem sem eu notar e agora que essa minha saída de emergência não me fornece mais estímulos para agir normalmente, essa onda imensa de pensamentos obscuros tomam conta de mim... e eu não tenho controle... apenas me pego sentado na poltrona do quarto encarando Athena dormir.
Os meus pensamentos não estão ligados a ela, não como eu queria que tivesse, e sim me dizendo que ela é casada com um homem que ela nunca conheceu de verdade...
A minha cabeça está um turbilhão, tudo o que já aconteceu comigo está misturado e fazendo um redemoinho dentro do meu cérebro. A única coisa que eu consigo fazer no momento é ficar imóvel na poltrona, abraçado à minha perna direita sobre o assento, olhando fixamente o rosto da minha esposa, que parece dormir serenamente.
Ela não sabe nem um terço sobre mim! Como eu deixei que isso acontecesse?... Eu sou uma fraude! Quem eu quero enganar? Eu não deveria estar aqui!... Eu não deveria estar aqui! Deveria ter morrido naquele incêndio!... Eu sou muito egoísta, muito, muito, muito, muito, muito!...
— Bobby? — ouço a sua voz preocupada adentrando nos meus ouvidos, me libertando da minha própria tortura. — Você está bem? Te chamei três vezes e você não me respondeu!
Consigo retomar o controle parcial da minha mente. Novamente, tenho acesso para enxergar o que está na minha frente e logo vejo o seu semblante aflito.
— Estou... estou bem!
— Não, você não está! Bobby você está pingando de suor!
Olho para baixo e vejo o suor escorrendo pelo meu peito, meus braços e pernas estão molhados, sinto como se tivesse uma cachoeira nas minhas costas.
— Amor... me diz alguma coisa, você não está bem!
Respiro profundamente, encarando os seus olhos fitados nos meus.
— Surtei... perdi o controle!
— Por quê? O que aconteceu? Deixa eu te ajudar!
— Eu surtei porque você é casada com um homem que nunca conheceu!
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ℭ𝔥𝔞𝔪𝔞𝔰 𝔇𝔬 𝔇𝔢𝔰𝔱𝔦𝔫𝔬
Fanfiction(EM PAUSA!) Após sobreviverem a um naufrágio do seu navio de lua de mel, o casal Bobby Nash e Athena Grant-Nash se veem diante de um novo desafio inesperado: A chegada de uma filha no seu relacionamento. No entanto, a felicidade do casal é totalment...
