𝟏𝟗 • 𝐏𝐫𝐞𝐩𝐚𝐫𝐚𝐭𝐢𝐯𝐨𝐬

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𝓑𝓸𝓫𝓫𝔂 𝓝𝓪𝓼𝓱

É manhã de sexta e eu estou trancado no quarto da minha filha, quebrando a cabeça para montar esse berço.

Já faz um mês que estou em casa de atestado, me recuperando daquele maldito incidente na central. Eu estou bem, todos os machucados já cicatrizaram, inclusive o corte no supercílio. Fui segunda-feira ao hospital retirar os pontos e fazer um raio-x da costela para acompanhar a cicatrização e, graças a Deus, está tudo bem. O médico me disse que eu posso fazer atividades de baixa intensidade, mas que não era para abusar tanto. E como um bom paciente que eu sou, cá estou eu desobedecendo às ordens do doutor.

Athena não pode nem sonhar que eu estou mexendo com isso agora ou ela me mata. Ela está me falando há semanas para comprar e montar o berço logo, mas eu fiquei prolongando, dizendo que faria depois com calma. Mal sabe ela que eu comprei semana passada pela internet o modelo pelo qual ela estava apaixonada desde que descobriu a gravidez.

O berço chegou anteontem à tarde quando ela estava dormindo, eu guardei nos fundos da garagem e quis fazer uma surpresa. Eu sabia que hoje ela tinha um compromisso de trabalho relacionado a algumas pendências no caso do roubo ao museu liderado por Axel e seus capangas brutamontes — me dá nervoso só de lembrar daqueles homens.

Aproveitei que ela saiu bem cedo e me programei para montar o berço enquanto ela estivesse fora. Para ela não desconfiar muito, não levantei junto com ela, continuei "dormindo" até a hora em que ela veio me dar um beijo de despedida e me avisar que estava saindo. Depois, foi só esperar o barulho do carro dela e colocar o meu plano em prática.

Eu só não sabia que isso demorava tanto!

Eu já montei e desmontei a estrutura dele umas três vezes e ainda não descobri como continua errado.

Eu tinha me esquecido do quanto é trabalhoso ser pai, ainda mais depois que eu decidi comprar um berço nada convencional, cheio de peças e detalhes.

Desmontei tudo pela quarta vez e decidi levantar do chão para pegar a caixa do berço e olhar o manual, após ter me convencido de que eu não precisaria ler nada e que iria montar de primeira. Grande ilusão.

Só o trabalho de encaixar, parafusar e deduzir onde se encaixa cada peça deve ter durado umas duas horas ou mais.

— A mamãe vai te matar quando chegar! — May parou em frente à porta do quarto, me pegando no flagra.

— Eu sei disso — entrei na pilha rindo. — Estou montando o berço da sua irmã, não conte pra ela! — pedi.

— Ah — deu um ar de riso. — Com certeza, a mamãe vai querer saber como é que isso se montou sozinho! — entrou gesticulando, fazendo sinal de aspas com as mãos.

— Eu invento alguma coisa.

— Hum! — parou na minha frente, me encarando com os braços cruzados.

— Pensei que só iria acordar mais tarde.

— Perdi o sono. E eu sabia que você iria ficar sozinho, então vim te vigiar pra ter certeza de que não está aprontando.

Fiz uma cara sarcástica.

— Mas pelo visto está! Eu só queria saber o porquê do bonito estar de bermuda e sem camisa com esse ar-condicionado tão gelado em cima de você!

Suspirei, revirando os olhos.

— E não vira a cara não! Sabe muito bem que, se ficar gripado, a mamãe vai falar horrores na sua cabeça! Nem era pra estar mexendo com isso agora, ainda mais no Alasca que está esse quarto!

ℭ𝔥𝔞𝔪𝔞𝔰 𝔇𝔬 𝔇𝔢𝔰𝔱𝔦𝔫𝔬Onde histórias criam vida. Descubra agora