25 - Bem me quer, mal me quer.

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Rebeca ficou ali comigo até a chuva passar completamente e seu irmão vir buscá-la igual a um raio. Esperei seus xingamentos, esperei ele descarregar sua fúria contra mim, mas tudo que ganhei foi um abraço.

- Valeu por ter encontrado a minha irmã, cara. Eu estava ocupado demais. - Alex falou, passando o braço pelos ombros da irmã dele.

- Por nada, cara. - Respondi, olhando para ela que estava de cabeça baixa. - Garcia, tudo bem com você?

- Urrum. - Ela murmurou meio distante, com os pensamentos na lua.

Os acompanhei até a porta. Queria que ela pelo menos olhasse para trás, mas isso não aconteceu. Ruminei se teria cometido algum gafe com ela, mas ao que parece, era apenas coisa dela mesma.
Fechei a porta e me joguei no sofá, com o coração á mil. Eu sentia o cheiro do tamanho da encrenca em que eu estava me metendo.

Encarei o teto. Eu precisava manter distância dela, ficar o mais longe possível. Era capaz de eu me apaixonar por Rebeca e ela nem ao menos corresponder.
Pior do que isso, seria acabar minha amizade com Alex de anos por causa da irmã dele e eu não queria isso.

Tomei uma decisão: eu iria parar de ficar indo para lá, evitar até de treina-la na academia... Era melhor assim.

[...]

Acordei com o alarme do meu celular, indicando que já eram cinco horas da tarde e eu precisava me arrumar para ir trabalhar.
Tomei um banho e me arrumei, calçando meus tênis esportivos. Escovei os dentes com cautela, daqui uns dias precisava fazer a manutenção do meu aparelho.

Peguei meu velho e companheiro skate, descendo para a sala. Eu já tinha deixado um lanche preparado antes e comi o mesmo o mais rápido que pude, não sem antes tomar uma dose corriqueira de Creatina e pré-treino.
Sai de casa de bom humor. A chuva realmente me deixava de bom humor, juntamente com aquele friozinho que ficava.

Nos meus fones de ouvido eu escutava memory reboot slowed, que fazia parte da minha playlist favorita para treinar.
Enquanto ia caminhando, digitava no celular apressadamente, com um sorriso no rosto. A pessoa do outro parecia estar disposta a conversar comigo.
Apaguei a tela do celular e coloquei o skate no chão, pegando impulso. Eu tinha uma moto perfeita em casa, mas eu sempre preferia ir de skate, uma modalidade que eu amava desde moleque.

Eu estava ciente dos meus minutos de atraso, não estava nos meus planos parar, até escutar uma voz de uma garota próxima à mim que me fez parar.

- Ei! Você aceita comprar essa flor? - Olhei bem para ela. Eu não estava afim de comprar nenhuma flor, mas ao analisá-la, fiquei com pena da garota. Ela deveria ter por volta dos treze anos. Apesar disso, os girassóis que ela trazia eram naturais e chamativos. Foi impossível resistir.

- Eu quero. - Falei e a garota sorriu. Me estendendo rapidamente dois amarrados com uma fita unindo-os. Tirei do bolso uma cédula e a entreguei.

- Seu troco...- Murmurou.

- Pode ficar. - Sorri e ela deu uma risadinha. Peguei as flores e coloquei o skate de baixo do braço, imaginando o que eu faria com aquelas flores.

Eu não poderia levar para a minha mãe porque a casa dela ficava muito longe daqui; não poderia levar para a Larissa porque ela estava trabalhando agora.
O que eu faria? Daria a uma pessoa que passasse na rua? Não. As pessoas de Chicago não costumam aceitar presentes de desconhecidos e eu me recusava a passar um mico daqueles.

Dei uma risada e peguei uma das flores, fazendo um ato idiota que eu costumava ver as pessoas mais velhas fazendo antigamente.
O girassol tinha muitas pétalas.

- Bem me quer, mal me quer. Bem me quer, mal me quer...- Que idiota eu estava sendo. Fui falando a medida que as pétalas iam escapando de meus dedos, até parar justamente em: - Bem me quer! Será que ela bem me quer? - Neguei com a cabeça.

Coloquei o skate no chão e peguei impulso novamente, enfiando o girassol que sobrou no bolso. Fiz um acordo comigo mesmo: a primeira mulher da academia que aparecesse na minha frente, eu daria o girassol!
Dito e o feito. Assim que pisei os pés na escadinha para entrar, a primeira mulher que apareceu na minha frente foi justamente a que eu queria manter distância.

Rebeca estava ali fora, como de costume. Dessa vez estava de short legging e um blusão maior que ela. Fiquei pensando se tinha a ver com o quase estupro daquele dia. Apesar de tudo, ela não me falou quem era aquele cara, quando deu início a perseguição e tudo mais, e eu também não queria pressioná-la a contar tudo aquilo. Um dia quem sabe, ela me contaria.

Meu rosto estava para pegar fogo e meu coração estava acelerado demais. Quando eu ia me aproximando, ela se virou de costas e começou a andar para dentro da academia. Acho que nem tinha me visto.

- Garcia! - Chamei e imediatamente ela parou e se virou na minha direção, assustada.

O girassol no meu bolso estava intacto, ainda bonito.
As moças da academia notaram minha chegada e se viraram na nossa direção.
Não era assim que eu queria que todos soubessem da garota que eu gosto.
Escutei um murmúrio alto quando estendi o girassol na direção dela, que estava de olhos arregalados.

- Eu comprei esse girassol na rua e... - Nunca tinha gaguejado antes. Não na frente de uma mulher. - Pensei em você, e... e... aceita? - Eu estava suando frio, com medo dela me dar as costas e não aceitar.

Todo mundo nos olhava e sei que ela não gostava daquilo. Não era meu intuito chamar atenção de todo mundo para a gente.

- Rodrigues, que lindo! - Os olhos dela pareciam estrelas brilhantes no seu noturno. Meu coração deu cambalhotas de felicidade, quando ela estendeu a mão e pegou o girassol, levando até próximo a seu nariz e cheirando. - Nossa. Ninguém nunca tinha me dado um presente assim antes. - Então, só vi o momento em que ela se jogou em meus braços e me abraçou apertado, se afastando logo em seguida.

Tenho certeza que fui no céu e voltei com aquele abraço.

***
Seguinte...

Como Consertar Meu Coração.Onde histórias criam vida. Descubra agora