28- Feita de dores e cicatrizes.

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Dei um sorriso bobo enquanto encarava a tela do meu celular. Perfeito. Perfeito demais para ser verdade.
Fazia tanto tempo que eu não me sentia daquela forma: cheia de expecativa, ansiedade e satisfeita comigo mesma.
Ao analisar um pouco sobre mim mesma, minha constante dor, talvez eu pudesse compreender que aquela dor da traição foi necessário para que eu pudesse me tornar uma pessoa mais forte. Talvez finalmente eu pudesse sarar aquelas feridas que não cicatrizavam, talvez eu pudesse ser capaz de amar a mim mesma.

Meu peito naquele instante se enchia de esperança, de vontade de desvendar todos os mistérios que estavam surgindo tão repentinamente na minha vida;
E algo mais. Algo que eu ainda não era capaz de descrever, tampouco tentaria, porque o amor deixa as pessoas dessa forma: perdidos.

[...]

Antes mesmo de o meu despertador tocar, eu já andava pelo quarto de um lado para o outro.
Hoje era o dia da entrevista e eu não fazia ideia de por onde começar. Talvez se eu tivesse uma melhor amiga, ela teria ideia do que fazer.

Contudo, respirei fundo e decidi que o melhor que eu poderia fazer era marcar um horário em um spar e salão de beleza. Nunca tinha tirado um tempo para cuidar de mim, e eu realmente precisava cuidar dos meus cabelos, unhas e pele. Assim, tomei um banho logo cedo, vesti um dos meus shorts favoritos e um cropped de alcinhas, juntamente com minha palete favorita, óculos de sol e saí do meu quarto, desejando voltar completamente
mudada.

- Vai aonde tão cedo? - Meu irmão perguntou, quando pedi a chave do seu carro.

- Salão de beleza. - Disse e joguei os cabelos para frente. - Não sei que horas volto.

- E eu? - Indagou, se referindo ao seu próprio carro.

- Ai sei lá, pega um táxis ou pede carona o Adrien. - Talvez eu estivesse muito mandona, mas era preciso. Fiz carinha de cachorro pidão e meu irmão suspirou, abaixando os ombros como quem diz "você venceu". Eu sorri, contente. Meu irmão não conseguia me dizer um não.

Satisfeita, cruzei a garagem e entrei no carro, dando a rede. Em minha mente, eu pensava no dia que tomei
a atitude de mudar de vida. Fico pensando no que teria acontecido se eu não tivesse tomado aquela atitude.
Ainda estaria chorando pelos cantos? Ainda estaria me apegando aos últimos resquícios dele? Teria sobrevivido a dor da traição? Tantas perguntas e todas elas tendo uma única resposta.

Enquanto dirigia, liguei o som do carro na música que não saía da minha cabeça nenhum instante: forever young.
Eu já tinha em mente qual salão eu iria primeiro, depois passaria num spar para um banho mais caprichado.  Assim que cheguei, estacionei o carro e desci, sendo invadida pelo flash de uma câmera virada no meu rumo rapidamente. Fechei os olhos com força e olhei pelo canto do olho, notando um papparazi escondido atrás de uma planta.

Andei imediatamente em sua direção, exalando raiva e ódio. Eu não era nenhuma famosa para ser invadida daquela forma!

- Você... você está tirando fotos minhas? - Perguntei, tão furiosa como uma onça-pintada.

- Ahh, eu... sim, não, quer dizer, sim! - Gaguejou, olhando para os lados todo atrapalhado. Era um rapaz mais ou menos da minha idade, com uma câmera fotográfica pendurada no pescoço. - É que... vou ser sincero. Uma foto sua está valendo ouro em algumas revistas e fui contratado para isso. Perdoe-me se invadi sua privacidade, é que, só estou fazendo meu serviço.

Respirei fundo, tentando me acalmar.
Aquele rapaz provavelmente não tinha culpa de nada, e eu o estava culpado por aquilo.

- É só que... eu não sou famosa e não gosto que invadam a minha privacidade desta forma. - Confessei. - Tirou a foto que queria? Vai ganhar seu salário MESMO com essa porcaria de foto? - Ele fez que sim. - Ótimo, pois, eu peço, por favor, não invada mais a minha privacidade. Eu estou tentando me divertir ali. - Apontei para o salão e o rapaz sorriu, meio amarelo, fazendo que sim imediatamente.

Dando por encerrado, agasalhei os óculos e adentrei o salão. Havia várias mulheres espalhadas pelo mesmo e várias sentadas, esperando a sua vez.
O espaço era simplesmente maravilhoso, e fiquei pensando que poderia ter vindo em um salão antes.

- Olá, querida! - Uma mulher elegante se prontificou. - Vem comigo.

Sem entender absolutamente nada, segui aquela mulher estranha e me sentei em uma das cadeiras, retirando os óculos e olhando bem para ela, que começou a analisar o meu cabelo.

- Seu cabelo é lindo, mas precisa de uma boa caprichada aqui e ali. Podemos mudar totalmente o seu visual - Ela disse, pegando no meu cabelo imediatamente, antes mesmo que eu desse um sinal a ela. Encostei as minhas costas na cadeira e relaxei, enquanto ela analisava os meus fios. - Ou podemos apenas fazer um alisamento, caso seja essa a sua opção. Você é quem sabe, querida.

- Podemos cortar as pontas e fazer uma franjinha...- Sugeri.

- Boa ideia. Seu cabelo claro é perfeito. - Então foi aí que começou todo o preparamento. Como aquilo era um salão de beleza, logo uma manicure e pedi cure veio cuidar dos meus pés e mãos, enquanto a mulher fazia algo no meu cabelo.

Durante todo o processo, permaneci de olhos fechados e até consegui cochilo um pouco, sentindo aquela sensação maravilhosa de estar sendo bem cuidada, ainda que
eu estivesse pagando por isso.
Tentei não pensar muito na entrevista assustadora que estaria por vir e nem nada do tipo, ao contrário, pensei em várias outras coisas boas, como naquele beijo imperfeito que tive com o Adrien a poucos dias atrás.
Se fosse o caso, eu gostaria de repetir aquela dose de pegação.

Acabei pensando nas voltas que o mundo dar e como eu estava satisfeita por ter chegado até ali.
Sinal de que nenhum sonho é impossível. Até pouco tempo atrás, nunca achei que abriria e tomaria conta de um estúdio de dança e que ele cresceria rapidamente, ainda que metade dessa fama toda - quase tenho certeza disso ‐ é por eu ser irmã do Alex, mas já é alguma coisa.
Pensei no desespero que foi ter encontrado o meu ex com a Tother, aquilo partiu meu coração de mil formas diferentes. E apesar de ter sido difícil, hoje reconheço que sou feita de dores e cicatrizes.
Talvez seja por isso o foco, a motivação que tenho todos os dias para tentar e tentar.

O tempo passou rápido, quando percebi, a moça já secava o meu cabelo com o secador. Estava satisfeita comigo mesma por ter decidido aquilo e ter toda aquela rodada de embelezamento.

***
Seguinte...

Tenho muitas ideias para escrever.

Como Consertar Meu Coração.Onde histórias criam vida. Descubra agora