- Estou achando que talvez eu possa ser autista.
- Alice, do céu, você não tinha percebido isso ainda?
Foi assim que descobri que sou autista! Numa consulta com a psicóloga, quando comecei a cogitar a possibilidade, ela me solta essa resposta. E, como disse o psiquiatra, se ela está comigo há quase 8 anos, já me conhece melhor do que eu mesma. Mas não acordei numa manhã chuvosa e pensei "seria tão legal se eu fosse neurodivergente".
Meu irmão, Danilo, um belo dia, mandou uma mensagem "Acho que eu sou autista." e eu perguntei o que o levava a acreditar nisso. Ao ler a resposta - que não lembro no momento - enviei, na intenção de tranquilizá-lo, que eu sou igualzinha! E esse diálogo foi gestado e recorrente durante uns 9 meses, até que ele me perguntou:
- Você já leu o livro "A diferença invisível"?
- Não! É bom?
- Não sei, mas vi que é de uma moça que descobriu ser autista aos 27 anos. É francês e em quadrinhos.
- Comprei, chega amanhã!
Não que eu seja uma pessoa ansiosa, mas quando se trata de livros, é meu ponto fraco! O livro chegou, li, porém, durante as primeiras páginas não consegui identificar a autista da história, pois ela parecia uma pessoa normal, afinal eu tinha os mesmos comportamentos, a mesma rotina rígida. Ela não podia ser a autista! Mas era...
Dias esperando a terapia e, então, a psicóloga me solta aquela resposta. Gente! Como eu pude não perceber isso, era óbvio - agora para mim também é!
- Você é sobrevivente do autismo - continuou minha psicóloga. Isso porque quando você era criança, pouco ou nada se falava sobre o assunto e você foi obrigada a se moldar para a sociedade que não sabia da sua diferença neurológica. E você conseguiu: está formada, pós-graduada (várias vezes, aliás), trabalhando, casada, é claro que com vários prejuízos e dificuldades que são normais à condição, mas você se saiu muito bem até aqui.
- E agora? O que eu faço?
- Agora aprende a ser autista e respeitar seus limites! Entenda como se regular em crises, o que fazer para evitá-las, controlar o hiperfoco, conviver com a ansiedade. Bem tranquilo... (irônica ela, né?!)
- Eu nunca pensei nisso!
- Mas sempre fez! Só precisa entender melhor o que é seu e o que sempre foi fingimento para se encaixar e diminuir o sofrimento.
- Eu nunca paro de pensar, isso já é sofrimento o bastante, agora vou ter que pensar mais ainda?!
- Isso é que dá ter altas habilidades!
- TER O QUE???
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O cativante universo de Alice
Non-FictionAos 39 anos descobrir que é autista não é algo muito feliz, principalmente quando passou todo esse tempo tentando se encaixar e tendo plena consciência de ser diferente, mas sem saber o motivo.