Alice tem hiperfocos curiosos. Um deles é o trabalho. Sim, um gosto diferente, mas uma de suas maiores paixões é corrigir redações! Por isso ela vive fazendo cursos a esse respeito e treinando bastante.
Todo mês de dezembro, a moça costuma fazer correções para avaliações específicas. Fica afastada do trabalho regular e dedica-se exclusivamente às correções 24 x 7, sem se preocupar se é dia ou noite.
O grande problema deste hiperfoco é que Alice se esquece de comer, beber, dormir, tomar banho, usar o banheiro... além de ficar ansiosa pelo fim da meta diária e começar a coçar o braço - tanto que acaba se machucando e só percebe quando vê o sangue correndo.
Sim, caro leitor, amiga leitora, o hiperfoco pode parecer um superpoder, pode fazer Alice parecer sobre-humana, mas o preço disso costuma ser alto demais!
Cem a duzentas redações por dia, redações escritas por surdos, disléxicos, autistas, neurotípicos de todas as idades e níveis de conhecimento. Alice sente dores físicas com alguns tipos de erros, sente náusea, mantém-se acordada com Coca-Cola café apesar da exaustão mental que este trabalho a inflige. Tudo isso para quê? Para treinar a correção e melhorar para seus alunos.
É isso! Tudo que Alice faz - profissionalmente falando - é por eles. Sejam 35, 210, 450, enfim, sejam quantos alunos forem! Ela sempre vai se levar ao limite e, cada dia, empurrar este limite um pouquinho mais longe, para que possa oferecer o melhor possível. O melhor de si.
Talvez seja insanidade, talvez seja hiperfoco, talvez seja amor mesmo... Jamais saberemos ao certo o que move Alice a estudar tanto, treinar tanto, ler tanto... Contentemo-nos em assistir às suas aulas, ter explicações complexas da Gramática Normativa, ouvir as fofocas literárias e escrever textos e mais textos até alcançarmos uma nota aceitável, pois nota máxima, Alice não atribui nem aos textos que ela mesma escreve! Imaginem nestes textos sobre ela, então! Esperemos que nunca leia! Sempre haverá algo a melhorar...
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O cativante universo de Alice
Non-FictionAos 39 anos descobrir que é autista não é algo muito feliz, principalmente quando passou todo esse tempo tentando se encaixar e tendo plena consciência de ser diferente, mas sem saber o motivo.