11

52 1 0
                                    


Um ano após minha carreira decolar, o Brasil inteiro já me amava. Eu consegui conquistar o coração das crianças, dos adultos e idosos, mas também atraí atenção de pessoas nojentas e malucas.

Quando terminei de gravar minha primeira novela, já com negociações de contratos para filmes e séries, Teresa e eu nos mudamos do nosso mini apartamento alugado e compramos uma casa dentro de um condomínio. Foi então que meu pesadelo começou. Uma vez eu estava correndo e um vizinho, Davi, parou para conversar comigo, rasgou elogios a novela e a minha atuação, pediu uma foto comigo e eu fui simpática, dei atenção e tirei a foto. No dia seguinte, ele foi até a porta da minha casa para me chamar para correr, eu disse que não iria pois estava ocupada, "você vai desistir de nós?" foi o que ele me disse. Fechei a porta na sua cara e corri para trancar a casa inteira, também avisei Teresa - que não estava em casa.

Dois dias depois, recebi centenas de flores, diversos perfumes e ursos de pelúcia de vários tamanhos, todos tinham um pequeno bilhete escrito "perdão", o destinatário era Davi. Liguei para Teresa e ela me disse para ficar trancada em casa, mantendo os "presentes" guardados como provas, pois quando voltasse iríamos para a Delegacia, mas aquele homem voltou antes. Enquanto eu tomava um vinho, esperando por minha amiga, ouvi um barulho vindo da cozinha, parecia que uma janela havia sido quebrada, levantei assustada.

Antes que eu pudesse correr ou pensar em alguma coisa, o vizinho apareceu em minha sala, sangue pingava de suas mãos, mas ele sorria com os olhos cravados em mim.

- Você gostou dos presentes? - Ele disse ofegante - Quis me desculpar por tentar forçar você a correr.

- Minha amiga está vindo aí, eu acho bom você ir embora agora - Digo quase vomitando de medo.

- Helena, não precisamos terminar por uma bobagem como aquela... você não queria correr, eu queria... - Ele tem um sorriso maligno - Estamos bem agora? Já que me desculpei.

O homem começou a se aproximar de mim, eu senti todos os pelos do meu corpo se arrepiarem da pior forma possível, precisava correr dali. Ele era bem mais alto e forte do que eu, nem as técnicas de autodefesa, que aprendi vendo vídeos na internet, poderiam me ajudar ali.

- Não chega perto de mim! - Eu gritei, imediatamente senti o choro se acumular em minha garganta - Vai embora da minha casa agora!

Tentei tirar meus pés do chão para correr, mas eles pareciam enraizados ali.

- Meu amor, casais brigam o tempo todo, você não precisa ficar assim.

- Casais? Você está completamente maluco! Nós nos conhecemos há menos de uma semana. Escuta, vou falar mais uma vez, vai embora da minha casa agora!! - Apontei meu dedo trêmulo em seu rosto.

Meu gesto pareceu irritar o homem, na verdade, ele ficou transtornado. Davi correu muito rápido em minha direção e agarrou meu pescoço com apenas uma mão, eu estava sendo estrangulada.

- Você é uma vagabunda! - Ele me jogou no chão, fazendo com que eu batesse a cabeça.

Olhei para o chão e vi sangue, alguma parte do meu rosto, ou minha cabeça, estava sangrando.

- Flertou comigo na reunião de fãs, mas agora você nega? - Ele grita - Você se mudou pra esse condomínio por minha causa, porra! Agora se faz de desentendida? O que foi? Tem muito ator querendo te comer, então decidiu largar o merdão aqui? Puta do caralho!

- Eu não sei do que você está falando, para, por favor - Já não conseguia mais conter minhas lágrimas.

- Meu amor... - Ele se agachou ao meu lado no chão - Não chora, desculpa, desculpa.

Ele passou sua mão ensanguentada acariciando meu rosto.

- Só me deixa em paz e vai embora - Eu digo enojada.

- Eu não posso, você é minha, Helena. - Davi voltou a me estrangulador, até que escutei a porta se abrir, mas ele não pareceu prestar atenção nisso, pois estava focado em mim. Os olhos dele estavam arregalados, seus lábios demonstravam um sorrisinho de satisfação.

Até que ele caiu ao meu lado, e lá estava Teresa, com um machucado na mão após ter acertado o vizinho com a garrafa de vinho, mas ele não ficou inconsciente, apenas um pouco desorientado. Minha amiga me puxou do chão e corremos dali até o carro. Quando entramos, pude ver o homem correndo a todo vapor atrás de nós.

Após irmos à delegacia, foi descoberto que Davi tinha um altar meu em sua casa, várias fotos minhas, lixos meus e notícias impressas. Ele era obcecado por mim. Soube que ele está de condicional hoje em dia.

Nem preciso falar que eu e Teresa nos mudamos daquele condomínio, passamos a tomar aulas de autodefesa, mas minha amiga ainda não confiava apenas na luta corporal. Ela começou a ter aulas de tiro, conseguiu permissão para portar uma arma e, desde então, anda com ela para lá e para cá. Também apareceu um dia com um relógio comunicador, eu só precisava apertar um botão que ele funcionava como um walkie-talkie e eu poderia conversar com ela.

Eu sei que se um zumbi atacá-la, ela irá ficar bem, mas também sei que ela irá voltar ao hospital para me tirar de lá, pois não sabe que saí cedo.

- Meu relógio! - Eu grito olhando para a tela do celular sem sinal - Onde está meu relógio? Eu estava com ele quando vocês me levaram ao hospital.

Wagner põe uma mão em seu bolso e me entrega o dispositivo azul.

- Teresa me pediu para guardar - Ele diz.

O relógio apita e escuto a voz de minha amiga.

Casualmente rodeados de Zumbis  | Wagner MouraOnde histórias criam vida. Descubra agora