19

50 3 1
                                    

Desço as escadas e todos estão tomando café em silêncio, meus olhos se encontram com os de Wagner e ele sorrir para mim. O ator me entrega um potinho com frutas cortadas e um garfo, então começo a comer. Olho para Teresa e ela come um sanduíche de queijo e presunto, enquanto encara a bancada. Alberto põe um pouco de café em uma xícara e passa para Teresa.

Então, ouvimos um forte barulho no portão, todos pulam de susto. Teresa se levanta rapidamente e corre para a sala, nós a seguimos. Ela liga a TV nas câmeras de segurança e nos deparamos com uma quantidade muito maior de zumbis do que havia ontem.

- Será se eles sabem que estamos aqui? - Teresa questiona com aos mãos na cabeça.

Os zumbis batem no portão com muita violência, repetindo o som estrondoso de antes.

- Eles vão acabar conseguindo entrar. - digo aflita.

- Precisamos ir embora - Teresa diz olhando para todos nós e Alberto aponta confuso para ele e Wagner, fazendo minha amiga revirar os olhos - Sim, todos, inclusive vocês dois!

- Vou colocar comidas nas bolsas! - digo prontamente.

- Vou ajudar você. E vocês dois - Teresa aponta para Wagner e Alberto - pensem em alguma distração, pois se abrirmos o portão com todos aqueles monstros ainda na frente, vai ser impossível de passar, eles também podem quebrar as janelas do carro e.... Bom, e vamos todos virar comida de zumbi.

Wagner e Alberto consentem com a cabeça. Eu corro para a cozinha enquanto Teresa sobe ao quarto de hóspedes para pegar nossas malas e colocar a comida dentro.

Abro o armário e tiro todos os enlatados, percebo que minhas mãos estão tremendo. Claro que estou nervosa, sempre amei assistir séries e filmes de zumbis, mas estar no meio de um apocalipse desse tipo é surreal, tanto que ainda tenho dúvidas sobre estar sonhando, talvez em coma depois da alergia de amendoim.

- Aqui - Teresa diz jogando duas malas no chão, ela olha para o armário aberto e suspira - acho que não teremos o suficiente.

- No bunker podemos fazer uma horta - eu digo tentando alcançar seus olhos - podemos plantar e ainda existe um sistema de reaproveitamento da água! Tomamos banho e água passa por uns canos, não sei como funciona, mas sei que volta limpa depois, prontinha para mais banhos!

- E a água para beber?

- Tem muita! Muita mesmo! - digo com confiança - vai dar certo.

- Você se preparou muito bem para um apocalipse - ela diz rindo e pegando os enlatados.

- Sempre tive medo que algo acontecesse e eu não pudesse proteger você - digo colocando uma lata de milho na mala.

- Helena... - escuto Teresa falar com uma voz de choro.

Olho para minha amiga e vejo lágrimas caindo em suas bochechas, ela põe as mãos no rosto e começa a soluçar com o choro. Não vejo Teresa chorar assim desde quando me encontrou trancada no banheiro do lado de fora do orfanato. Era de manhã e ainda não haviam me deixado sair, eu estava encharcada da água da chuva que entrou pela janelinha, fraca e com fome.

Teresa gritava implorando para que os funcionários me tirassem dali, chorava copiosamente enquanto batia na porta do banheiro, tentando abrir e me falando que tudo ficaria bem, éramos tão pequenas. Mas hoje ela chora do mesmo jeito, uma mulher adulta, que criou fortalezas ao seu redor para nunca mais sofrer como uma criança desamparada, agora ela não consegue conter o desespero e a tristeza que transbordavam dentro de si. Abraço minha amiga e seguro minhas lágrimas.

- Vamos ficar bem - eu digo.

- Me desculpa por estar sendo tão grossa com você - ela começa a enxugar seu rosto - eu só não quero que sua vida esteja mais em perigo ainda. Você é minha melhor amiga, minha irmã, a única família que eu sempre tive, não sei o que faria sem você na minha vida.

- Teresa, você é minha família e será para sempre quem eu mais amo nesse mundo. Eu não tive uma mãe, nem uma irmã e muito menos um pai, mas eu sempre tive você. E eu já disse que vamos morrer bem velhinhas, numa cadeira de balanço e fofocando sobre a vida alheia. Bom, agora vamos ter que mudar essa visão para cadeiras dentro de um bunker, talvez. - A faço rir - vamos ficar bem.

Ficamos abraçadas por um tempo até que Teresa se recompõe e passa a arrumar a mala junto comigo. Ela pega alguns remédios dentro da caixa de emergência e corre para o banheiro, pegando certos produtos de higiene.

- São só algumas horas até a capital - eu digo confusa por ela estar colocando papel higiênico na mala.

- Não sabemos o que podemos encontrar.

- Gente morta.

- Metade morta.

Wagner e Alberto entram na cozinha e nos assustamos.

- Acho que conseguimos pensar em uma boa distração. - Alberto diz animado.

- Vamos fazer quatro coquetéis molotov - Wagner explica - dois vamos jogar no lado da casa, na direção contrária a qual vamos pegar.

- Os outros dois - Alberto continua - vamos jogar neles, assim que abrirmos o portão. Assim eles se distraem com o barulho e o resto fica queimado demais pra conseguir atacar o carro.

- Mas nós não sabemos se eles realmente se distraem com barulho - Teresa diz.

- Vamos ter que arriscar - entro na conversa - de qualquer forma, o fogo neles já vai ser de grande ajuda.

Casualmente rodeados de Zumbis  | Wagner MouraOnde histórias criam vida. Descubra agora