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Chegando ao nosso hotel, avistamos uma enorme quantidade de pessoas saindo.

- Vou ver o que aconteceu - Alberto e Teresa Falam juntos. Os dois se olham e saem da van, cobrindo suas cabeças com seus casacos, o que não fez muita diferença já que o temporal os molhou totalmente em segundos.

Estou sentada olhando para o chão, ainda com frio.

- Muito obrigada pela coberta - digo a Wagner, sem tirar meus olhos do chão da van.

- Você estava chorando? - Ele pergunta tentando olhar em meus olhos.

- Não, meu rosto molhou com a chuva.

- A chuva deixou seus olhos vermelhos?

- Deve estar bem acida hoje.

Ele rir.

- Você fica bem nervosa com interações sociais, não é?

- Pensei que eu fosse uma atriz melhor - Claro que ele percebeu.

- Eu também era, quer dizer, ainda sou um pouco. O teatro me ajudou, mas continuo carregando em mim o meu eu que não sabe agir socialmente, só estou bem treinado agora.

Sinto um arrepio em minha nuca, não sei se é o frio ou o que ele disse. O fato de que o nervosismo pode nunca deixar meu corpo me deixa estremecida. Então, tiro meus olhos marejados do chão e os volto para Wagner.

- Então esse nervosismo nunca vai passar?

- Quando não sentirmos mais nada, é porque não somos mais humanos. Vai ficar tudo bem, você ainda é jovem, vai descobrir muitas coisas por si só sobre a vida.

- As revistas já disseram que envelheci muito em apenas 3 anos de carreira - eu solto uma risada - E olha que tenho só 25 anos, imagina o que vão falar quando eu completar 30.

- Eles são uns idiotas...

A porta da van se abre e Alberto e Teresa entram sem um pedaço seco em seus corpos.

- Temos um problemão - Teresa diz passando as mãos no rosto - O prédio está com perigo de desabamento e a Defesa civil está tirando todos de lá, nem pude subir para pegar nossas coisas.

- Eu e Teresa ligamos para as pousadas da cidade, mas estão todas tendo problemas com o temporal e não estão aceitando novos hóspedes por hoje. - Alberto diz limpando os óculos.

- E esse é o único hotel da cidade - Teresa suspira.

- Então estamos na rua? - Eu pergunto, parecendo mais uma constatação.

- Bom, eu tomei a liberdade de oferecer o quarto de hóspedes pra elas passarem a noite - Alberto diz olhando na direção de Wagner.

- Não, que isso! Vocês não precisam se incomodar, nós só precisamos fazer mais algumas ligações e vamos conseguir achar um lugar pra fi - um trovão extremamente barulhento corta minha fala, fazendo com que eu dê um pulo de susto e bata minha cabeça no teto do carro.

- Você está bem? - Wagner pergunta se aproximando de mim - Olha, vocês podem ficar no quarto de hóspedes o tempo que precisarem. Não será um incômodo pra mim, na verdade, o Alberto é bem chato, então vocês estarão me salvando dele.

- Obrigado - Alberto ajeita seus óculos com um dedo, percebo que Teresa o encara.

- Nós aceitamos com muita gratidão a ajuda, passaremos hoje a noite, mas amanhã mesmo vamos procurar outro lugar - Teresa agora tem seus olhos em Wagner - Muito obrigada, de verdade.

- Muito obrigada - Sorrio com gratidão para Wagner.

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A casa é enorme comparada a todas as casas de Lanena, talvez do mesmo tamanho do orfanato em que cresci com mais 100 meninas.

Eu e Teresa subimos as escadas até o quarto de Hóspedes.

- Você ia mesmo recusar uma ajuda dessas? - Teresa fecha a porta do quarto.

- Eu fiquei nervosa, ele oferecendo um teto pra gente? Me senti envergonhada - eu digo tirando minha roupa molhada.

- Você lembra quando a professora Jussara tirou você da fila da frente e te colocou no fundo da sala de aula?

- Meu Deus, pra que falar daquela bruxa uma hora dessas?

- Você já tinha 3 graus de miopia com apenas 12 anos, e não usava óculos, mas não reclamou da mudança de lugar.

- Eu consegui me virar.

- Você tirou várias notas baixas naquele bimestre e, mesmo assim, não falou pra Jussara que estava sendo prejudicada. Então, eu fui falar com ela, fiquei de castigo por reclamar, mas a direção ficou sabendo e colocaram você de volta na primeira fila.

- Você quer deixar claro que sempre me salva? - Enrolo a toalha em meu corpo, caminhando para o banheiro - Obrigada, Teresa! Você sempre foi minha salvadora.

- Eu quero te lembrar que você nunca fala por si mesma! - ela fala mais alto e eu paro no caminho para olhar pra ela - Helena, os funcionários do orfanato sempre diziam que éramos um incômodo e que devíamos ficar caladas, mas eles eram uns desgraçados que batiam em criança, então não podemos guardar o que falavam pra gente.

- Eu não guardo. - Reluto olhando para o chão.

- Então por que você sempre acha que é um incômodo? As vezes as pessoas oferecem ajuda simplesmente por serem boas e, as vezes, não vai te matar se você aceitar. - Ela olha para o chão - Eu vou perguntar se eles têm roupas limpas, já que a gente não tem nada.

Passar 18 anos da minha vida em um orfanato com adultos terríveis realmente me prejudicou. Eu sei que Teresa está certa, mas não quero enfrentar esses traumas, eu quero apenas esquecer.

Casualmente rodeados de Zumbis  | Wagner MouraOnde histórias criam vida. Descubra agora