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Quando o carro entra na rua, podemos ver pessoas correndo, parecem desesperadas. A adrenalina ainda está tomando conta do meu corpo.

- O que será que está acontecendo - Wagner diz dirigindo com cuidado para não bater os poucos carros parados no meio da rua.

- Você nunca viu um filme de zumbi na sua vida? - Eu digo irritada.

- O que?

- Um homem esquisito com os olhos amarelados pulou na frente do carro, você decide sair para falar com ele! - Eu suspiro - O mesmo homem começa a se requebrar todinho pronto pra te atacar e você continua parado?

- Eu fiquei em choque - Ele grita contido.

- Eu disse pra você não ir, eu disse pra você voltar pro carro! É por isso que as pessoas morrem logo no início em filmes de zumbi, elas nunca acreditam que um zumbi é um zumbi! - Eu grito indignada.

- Mas como você pode ter tanta certeza? - Ele grita também.

Wagner para o carro bruscamente, tiro meus olhos dele e os torno em direção ao que está na frente do carro, uma mulher grávida grita desesperada enquanto cruza as mãos em sinal de misericórdia. Consigo ouvi-la pedindo por socorro, ela corre para se aproximar do carro, chega a janela do meu lado e começa a batê-la. Seus gritos de socorro me doem o coração, sinto medo de abrir a porta, mas seus olhos não estão amarelos, talvez ela não esteja doente e possamos levá-la conosco. Porém, antes que eu consiga deixá-la entrar, um homem surge do nada e ataca a mulher a minha frente, ele morde o pescoço dela com extrema brutalidade. A mulher grita, ainda pedindo por socorro. O ator pisa no acelerador e saímos dali.

- Está aí a sua confirmação - Eu digo passando as mãos no rosto.

- Isso não pode ser verdade, zumbis? Mortos vivos? Impossível. - Wagner parece transtornado.

- Teresa! - Dou um pulo - Ela foi ao supermercado com Alberto!

Pego meu celular para ligar para minha amiga, mas não há sinal.

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Teresa

- Espero que Helena seja liberada logo, parece que a cidade inteira está nesse hospital - digo tirando uma máscara descartável da bolsa - Ok que o hospital é minúsculo, mas Santa Ana também.

Alberto e eu caminhamos pelos corredores cheios de pessoas tocindo, espirrando e vomitando, tomara que não seja uma nova pandemia. Alberto segue o caminho calado até o carro, quando fechamos as portas ele decide cortar o silêncio.

- Eu acho que estou apaixonado por você. - Ele diz olhando em meus olhos, vejo suas mãos tremendo.

- Alberto pelo o amor de Deus... - Dou partida no carro - Nós transamos uma vez só, você não está apaixonado por mim, acredite.

- Teresa... - Ele ajeita seus óculos - Eu realmente tenho sentimentos fortes por você, desde quando nos vimos pela primeira vez no set de filmagens.

- Ontem? - Eu solto uma risada.

- Você não acredita em amor à primeira vista?

- Não, eu acredito sabe em que? - Ele aproxima seus ouvidos - Em atração a primeira vista, você só me achou gostosa, acontece. Eu me atraí pelo seu jeito nerd meio executivo meio secretário. Como eu disse, acontece.

Vejo que ele se encolhe no banco, fico com dó, mas o que posso fazer? Quando nos beijamos no beco ao lado do hotel, eu disse que era algo casual, que não significava nada. Também o lembrei disso quando transamos na escada, sim, transamos na escada enquanto os outros dormiam. Foi arriscado, confesso, mas loucamente excitante.

Ele é sarado, gentil, tarado e bonito, como na música da Rita Lee, mas eu não quero compromisso por enquanto. Prefiro manter meus sentimentos longe de homens. Chegamos ao mercado, o estacionamento está um pouco vazio.

Santa Ana é uma cidade pequena, as pessoas não usam muito carros para se locomover por aqui, mas até mesmo para essa cidade, o estacionamento está vazio.

- Eu vou por esse lado e você por aquele, pode encher o carrinho com o que quiser, vamos tentar abastecer a casa por dois meses, o tempo que terminam as gravações - Alberto diz evitando me olhar.

Enquanto caminho pelo corredor verifico todos os alimentos que não possuem amendoim, ou risco, na composição e vou jogando no carrinho. O mercado está bem vazio, não cheguei a ver a caixa na entrada, mas deve ser uma daquelas adolescentes que não quer o negócio dos pais, se eu fosse uma pessoa ruim levava tudo.

Avisto uma pessoa jogada no chão quando dobro um corredor, do outro lado está Alberto, nos entreolhamos e começamos a andar em direção ao que parece ser uma mulher. Após andar por uns cinco segundos, percebemos que a mulher começou a se mexer, ao levantar devagar ela faz alguns barulhos estranhos, acho que escuto seus ossos quebrarem? Vejo que seus olhos estão amarelos, ela derrama lágrimas de sangue. A mulher se levanta num ímpeto e olha na direção do agente, agora percebo várias mordidas em seu braço esquerdo. Escuto um grito vindo dela, meus ouvidos doem, quando percebo, ela se prepara para correr na direção de Alberto.

Para ser sincera, eu nunca acreditei que um apocalipse zumbi poderia acontecer. Helena que sempre se preocupou com isso. Porém, após assistir, forçadamente, inúmeros filmes de mortos vivos ao lado dela, eu aprendi que as pessoas que morrem primeiro são as que nunca acreditam que um zumbi é um zumbi. Rapidamente pego uma panela de pressão na prateleira ao meu lado e corro na direção daquele ser não identificado.

Quando bato a panela com toda força em sua cabeça, ela cai no chão, mas ainda se mexe. Avanço com a panela mais duas vezes até que seu crânio se parte.

- Teresa, você... - Alberto está se tremendo - Uma pessoa.

- Pega o seu carrinho, vamos botar a comida no porta malas agora. - Eu digo cochichando, mas Alberto ainda encara a mulher com o crânio rachado no chão. - Alberto, eu acredito muito que vamos morrer caso não saíamos daqui agora.

O agente olha em meus olhos e assente. Corremos com os carrinhos até o automóvel e jogamos tudo rapidamente no porta malas do carro, enquanto olho atentamente ao redor, não há sinal de mais ninguém. Quando fechamos o porta malas, percebo um homem vestido de segurança caminhando em nossa direção, mas ele olha para o céu. Sinalizo para Alberto correr em silêncio para o carro, mas o homem percebe nossa presença assim que nos mexemos novamente.

O segurança dispara em nossa direção e eu não tenho escolha a não ser pôr a mão por detrás da minha jaqueta de couro marrom e empunhar minha pistola. Espero o homem chegar mais perto, percebo que o chaveiro no bolso de sua camisa tem a foto de uma garotinha de franja, atiro duas vezes, a primeira pega em seu ombro e a segunda em sua cabeça, onde eu queria acertar. Ele cai no chão.

Ao entrarmos no carro, eu rapidamente dou partida para nos tirar dali.

- Você tem uma arma? - Alberto está surtando, eu deveria ter deixado aquela mulher devorá-ló?

- Liga pra Helena ou para o Wagner, eles precisam sair daquele hospital - Eu digo, agora com o desespero batendo.

- Não tem sinal - Alberto diz com nossos celulares em mãos.

- O Walkie-talkie! - Eu lembro do dispositivo que entreguei a Helena quando ela foi perseguida por um maluco dois anos atrás - Pega minha bolsa aí no banco de trás!

Casualmente rodeados de Zumbis  | Wagner MouraOnde histórias criam vida. Descubra agora