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De volta ao set de filmagem, tenho a oportunidade de observar melhor o lugar. A cena de hoje será feita a céu aberto, começaremos pelo meio do filme, onde a minha personagem tenta matar o personagem do Wagner.

- Preparada pro primeiro dia? - Ouço a voz de Wagner ao meu lado, ele é um fantasma? Não escutei seus passos.

- Extremamente nervosa, com medo de quebrar um braço meu ou de alguém.

- Você vai se sair bem, fez aulas com o Kimoro, não é? Então, vai dar tudo certo, ele não é o melhor treinador de cenas de ação por acaso.

- Se eu quebrar um braço seu, espero que bote a culpa no Kimoro.

Ele solta uma gargalhada longa e ficamos em silêncio por um breve momento.

- Aliás, é bom rever você - Ele diz me dirigindo um aperto de mão.

Cumprimentei todo mundo da equipe menos ele, como posso ter esquecido?

- Ah, sim! Esqueci de cumprimentar você, cumprimentei todo mundo assim que cheguei então já estava com a sensação de que não precisava mais dar nenhum oi, mas esqueci que você não estava lá quando cheguei e...

- Helena, tudo bem - ele tem um leve sorriso no rosto - Eu só estou feliz em rever você.

- Fico feliz em rever você também

Por que não consigo simplesmente agir normalmente perto de pessoas?

- O céu não deveria estar ensolarado para a cena de hoje? - Pergunto

- Sim, o diretor disse que a previsão era de sol, mas que vamos ter que gravar com o céu nublado assim mesmo.

- Aquela nuvem parece muito estranha, eu acho que vai chover.

- Não, creio que não. É só uma nuvem, vai já passar.

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Estou no banco da van completamente encharcada. No rádio diz que talvez seja o pior temporal que Lanena já presenciou em 10 anos. Sinto o carro parar bruscamente e me assusto.

- O que aconteceu? - Teresa pergunta ao motorista.

- Senhora... o carro deu pane total.

Entro em pânico.

- Meu Deus, o que a gente vai fazer? Não existe nem Uber nesse inferno de cidade!

- O hotel não é tão longe daqui, podemos ir andando e mandar alguém vir buscar o carro - Teresa diz como se fosse a melhor ideia do mundo.

- Teresa? Que ideia absurda! Podemos ser sequestradas!

- O que? A gente andava na chuva quando criança, pra lá e pra cá.

- Isso porque éramos órfãs sem dinheiro para um ônibus se quer! Sem opções!

Escuto uma buzina forte do lado de fora e quando olho pela janela vejo uma van preta parecida com a nossa.

- São sequestradores, eles não descansam nem com um temporal? - Eu digo choramingando.

Meu telefone toca.

- Wagner? - Eu atendo com voz de choro.

- O carro de vocês deu problema? - Wagner pergunta.

- Pane total? - Pergunto olhando pra Teresa e ela afirma que sim com a cabeça - Pane total.

- Vocês podem vir comigo e depois mandamos um guincho para buscar o carro.

Teresa puxa o celular da minha mão.

- Estamos indo agora mesmo! Muito obrigada, senhor Wagner!

Pulamos da nossa van para a de Wagner, nosso motorista vai no banco da frente, enquanto atrás estamos eu, Teresa, Wagner e Alberto, seu agente.

- Muito obrigada, nosso hotel nem fica tão longe, poderíamos ir andando... não precisava se preocupar - digo apertando meus braços, esqueci minha coberta na outra van.

Teresa me encara desacreditada.

- Jamais, isso seria perigoso. Vocês poderiam ficar doentes ou algo mais sério poderia acontecer. - Wagner diz tirando sua coberta e a colocando em mim

- Tipo sequestro? - Teresa me encara.

- Talvez?

Casualmente rodeados de Zumbis  | Wagner MouraOnde histórias criam vida. Descubra agora