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- Acho que já podemos parar por aqui - Teresa diz ao chegarmos no meio da estrada, faltam apenas alguns km até a saída da cidade - parece vazio.

Wagner para o carro e respira fundo.

- Eu posso ir - insisto.

- Tudo bem, Helena, eu quero ir - ele segura minha mão.

Fito os olhos do ator e me sinto segura, ele vai ficar bem. Vamos todos ficar bem. Wagner sai do carro olhando ao redor, fecha a porta com cuidado e dá a volta até a tampa do combustível.

- Você poderia ter ido - Teresa implica com Alberto.

- O quê? - ele se assusta - Você quem tava no comando, deveria ter sido a primeira a se voluntariar.

- Eu não sei se você lembra, mas eu atirei na cabeça de um zumbi alguns minutos atrás!

Reviro os olhos com a briguinha dos dois, normalmente eu estaria rindo, mas estou muito tensa para isso. Vejo pelo retrovisor que Wagner já está retornando e respiro aliviada, porém, a sensação dura pouco, pois vejo um morto vivo saindo da mata da estrada.

- Wagner! - Grito em desespero.

Teresa baixa o vidro do carro e atira na cabeça do zumbi, mas vários outros começam a surgir da mata e começam correr em direção a Wagner. Empunho o taco de beisebol que trouxe por segurança e saio do veículo sem pensar duas vezes.

- Helena, não! - Teresa grita e sai do carro também.

Wagner é derrubado no chão por um monstro ensanguentado, os gritos do zumbi são ensurdecedores. Explodo a cabeça do morto vivo com o taco de beisebol, isso faz com que sangue seja espirrado em todo meu corpo. Escuto tiros e sei que Teresa deve ter matado mais um, ela está me dando cobertura.

Estendo minha mão para o ator, mas antes que ele possa segurá-lá eu sou atacada, caio no chão e vejo a face do monstro que tenta me morder. Os olhos são vermelhos, a boca ensanguentada, ele rosna enquanto analisa o meu rosto. A única coisa que o impede de arrancar o meu pescoço é o taco de beisebol que seguro contra o seu pescoço. Olho para o lado buscando por ajuda e Wagner está sendo atacado também. Teresa corre em minha direção e aperta o gatilho de sua arma, mas não há mais munição. É isso, vamos todos morrer aqui.

Então, o inesperado acontece, escuto tiros e todos os zumbis são derrubados. Teresa me ajuda a tirar o mostro totalmente morto caído em cima de mim, estou tremendo. Wagner se levanta e corre em nossa direção.

- Vocês estão bem? - ele segura em meus ombros e me analisa dos pés a cabeça, ele tem lágrimas em seus olhos.

- São só vocês três? - escutamos uma voz masculina

- Tem mais um no carro, pai! Ele tava se tremendo mais do que vara verde, eu vi pelo binóculos - agora é a vez de uma voz feminina muito jovem.

Um homem e uma menina saem da mata, estão vestidos com roupas do exército, ele carrega um fuzil em mãos e ela uma arma pequena que não faço a mínima ideia de qual seja o nome.

- Quem são vocês? - Wagner questiona se posicionando em nossa frente.

- Seus salvadores! - a menina pula.

- Emília, por favor... - o homem estala a língua - a gente só deu uma ajuda, podem ir agora. Os próximos devem chegar em 10 minutos, o barulho já deve ter atraído eles. Adeus.

- Pai... você prometeu que a gente iria ajudar - a menina puxa a roupa do homem.

- E a gente ajudou, estão vivos - o homem cochicha.

- Só pergunta, por favor! - ela insiste.

O homem de bigode respira fundo e revira os olhos.

- Temos um bunker onde sobreviventes estão se juntando, ainda há espaço, mas eu aviso logo que iremos verificar se algum de vocês é uma dessas pragas e eu mesmo vou apertar o gatilho!

A menina balança freneticamente a cabeça em afirmação, parece estar orgulhosa do pai.

- Nós vamos sair da cidade, mas obrigado - Wagner responde desconfiado.

- Sair? - a menina pula - vocês não sabem que aqueles idiotas fascistas nos prenderam aqui pra morrer?

- O quê? - Teresa, que estava ajoelhada, cai de vez no chão.

- Aqueles babacas políticos fascistas desgraçados nos trancaram aqui e estamos abandonados, odeio todos eles!! - ela grita.

- Emília, sem gritar ou vai chamar mais pragas ainda - o homem diz calmamente - bom, vocês não querem ir, então boa sorte!

- Venham com a gente! - a menina chega mais perto - o bunker não é longe daqui, vocês terão água, comida e um lugar pra dormir.

- Filha, não insiste...

- Nós vamos - Alberto sai ofegante do carro - nós vamos.

- A gente nem sabe se eles estão falando a verdade, nem sequer os conhecemos! - Wagner responde o amigo.

- Vamos morrer de qualquer jeito! Sabemos que nos abandonaram, você viram a televisão! Nos deixaram para morrer! - Alberto cambaleia.

- A gente não pode confiar neles - Wagner insiste.

- Nós vamos - eu digo.

Sei que não é comum confiar em estranhos que acabaram de atirar em diversos zumbis para salvar nossas vidas, mas o que eles dizem faz sentido. Fomos abandonados aqui, é claro que a cidade deve estar cercada e trancada para que o vírus não se espalhe pelo mundo todo. Se formos até a fronteira da cidade com a capital ou seremos mortos ou vamos voltar fracassados, com riscos de sermos atacados por uma multidão de zumbis no caminho.

- Eu quero ir - Teresa diz, ela tem um olhar perdido - eu não quero morrer.

Olho para Wagner e percebo que ele está tendo um conflito interno.

- Por favor - seguro sua mão.

- É mesmo seguro lá? - ele pergunta para o homem.

- Sim! Somos poucos e nos protegemos. Meu pai é o mais legal e corajoso, como vocês puderam ver. Mas eu também sou muito boa, então não precisam temer.

- Olha, não temos muito tempo pra esperar vocês decidirem, vocês vem ou não? - o homem já está sem paciência.

Wagner levanta do chão e corre até o carro, colocando metade do seu corpo para dentro do veículo, escuto um clique, é o porta malas se abrindo. O ator, com a ajuda de Alberto, tira nossas malas.

- Vamos - ele diz.

Eu e Teresa levantamos do chão e todos nós seguimos pai e filha adentro da mata, espero que seja o certo a se fazer.

Casualmente rodeados de Zumbis  | Wagner MouraOnde histórias criam vida. Descubra agora