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Após a declaração de Alberto, todos ficamos em silêncio por uns segundos, até que Wagner corta o ar.

- Verdade... Alberto está certo, vocês não são um incômodo - Ele aperta suas próprias mãos - Por favor, fiquem o tempo que for preciso.

Teresa e eu nos entreolhamos, sei que o melhor é aceitar a proposta do dono da casa, evitando transtornos quanto ao deslocamento, mas também gostaria muito de evitar transtornos quanto aos meus sentimentos. Rimou, que clichê.

- Tudo bem - Eu cedo - Somos muito gratas pela ajuda de vocês.

- Sim, vocês estão salvando as nossas vidas - Minha amiga diz sorrindo.

Voltamos a comer o café da manhã e eu me deparo com uma pasta de amendoim ao lado dos outros alimentos. Nunca provei, via apenas em filmes internacionais, então decido colocar um pouco em meu pão.

- O diretor também disse que algumas pessoas da equipe estão doentes, aparentemente virose - Teresa diz enquanto passa manteiga em seu pão- então qualquer sintoma, avisem imediatamente, por favor.

Todos assentem.

Após comer todo o pão com pasta de amendoim, começo a me sentir estranha, um pouco de falta de ar e coceira. O que está acontecendo? Esses não são sintomas de virose, certo?

- Helena? - Wagner parece preocupado - Você está bem? Seu rosto está com algumas bolinhas vermelhas.

Tento falar, mas minha voz sai fraca e desisto quando sinto dor. A falta de ar começa a ficar pior.

- É uma reação alérgica! O que ela comeu? - Teresa corre para pegar a chave do carro e eu aponto para a pasta de amendoim.

- Pasta de amendoim! - Wagner grita.

Quando percebo, o ator está me carregando no colo até o carro. Wagner me coloca gentilmente no banco de trás e permanece lá comigo. Posso ver Alberto correndo para seu carro, então Teresa entra no nosso e pisa fundo.

- O hospital não é longe daqui, vai ficar tudo bem - Wagner diz enquanto segura minha mão. Seus olhos estão vermelhos?

Estou com muita dificuldade de respirar, sinto que irei desmaiar a qualquer momento. Espero não morrer assim, seria uma morte muito sem graça.

Quando chegamos ao hospital, o ator me carrega novamente. Depois disso, não me lembro muito bem o que aconteceu, tudo estava embaçado e lento, mas lembro dos gritos de desespero de Teresa. Ela sempre foi tão centrada em situações tensas, acho que eu realmente estava quase morrendo. Também lembro de Wagner gritando, como não ouvir, eu estava em seus braços.

Acordo em uma cama de hospital, sinto como se tivesse engolido quinhentos kilos de areia, minha garganta dói e meu corpo também. Ao meu lado, sentado em uma cadeira, está Wagner. Assim que percebe o meu acordar, ele se levanta.

- Oi... as enfermeiras falaram que você acordaria logo, pensei que estavam tentando acalmar a gente - Ele se aproxima da cama - Como você se sente, quer dizer, não precisa falar se estiver com dor.

- Eu sinto que fui atropelada por um ônibus, mas ficar sem falar é inconcebível para alguém tagarela como eu. - Digo com dificuldade.

- Ah, eu não conheço ainda o seu lado tagarela. Por favor, não coma mais amendoim, espero ainda poder ouvir você falar por horas e horas - Ele fala baixinho com um sorriso.

Antes que eu possa reagir, Teresa entra na sala.

- Helena. - Ela diz firme, mas vejo lágrimas brotando em seus olhos - Como você pôde esquecer que quando tínhamos quatro anos de idade, o orfanato ganhou pasta de amendoim de uma gringa metida à filantropa e, ao comer uma pequena quantidade, você passou mal?

Casualmente rodeados de Zumbis  | Wagner MouraOnde histórias criam vida. Descubra agora