24. welcome to new york

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"Like any great love, it keeps you guessing
Like any real love, it's ever-changing
Like any true love, it drives you crazy
But you know you wouldn't change anything"

(Taylor Swift - Welcome To New York)

Millie's POV

-Você vai ficar me ignorando mesmo? - Flora perguntou, cutucando meu braço como uma criancinha tentando chamar atenção. 

-Você não vai me contar nada mesmo? - rebati e ela gargalhou, negando com a cabeça e se ajeitando no assento do avião.

Fazia uns vinte minutos que tínhamos embarcado (na primeira classe dessa vez) e estávamos esperando que todos os outros passageiros também se acomodassem.

Ainda nessa manhã, enquanto tomávamos café com a minha família, eu pude notar que Flora estava agindo de um jeito estranho. Percebia ela me olhando quando achava que eu não ia perceber. Também estava sorrindo demais para o seu celular e parecia estar tramando alguma coisa. 

Eu sei, eu poderia parecer louca se não estivesse certa! Quando eu perguntei se algo tinha acontecido, ela começou a rir e mudar de assunto. Eu insisti e Flora confessou que tinha sim um segredo e que eu logo descobriria o que era. O quão absurdo é isso?

-Quint, eu já falei que é uma surpresa!

-E eu já falei que não gosto de surpresas!

-Ninguém mandou você ser tão inteligente e perceber que estou escondendo algo... - Flora deu de ombros - Eu não falei nada pra te deixar na expectativa! Você acha que eu gosto de te torturar? 

-Ah, eu tenho certeza que sim - respondi e ela riu mais uma vez. Comecei a mexer no meu celular, apenas para ter um motivo para não olhar para Flora e continuar firme fazendo meu drama - E pare de me elogiar, não foi inteligência nenhuma. Você que é óbvia demais.

-Sou nada. Você me conhece como ninguém, fica difícil tentar te enrolar...

Revirei os olhos, um pouco irritada. Será que Flora não sabia que a namorada dela tem ansiedade? O que custava que ela me contasse de uma vez?

Claro, eu sei que essa surpresa será uma coisa boa. O sorrisinho bobo de Flora não deixa margem para que eu imagine o contrário. Mesmo assim, eu não consigo parar de pensar nisso e com certeza continuarei assim durante todo o voo de quase quatro horas até Nova Iorque. A palavra que Flora usou é realmente perfeita para a ocasião: tortura.

As comissárias de bordo passam por nós e pedem que coloquemos os cintos de segurança pois o avião já irá decolar. Faço isso de maneira quase automática, ainda com a cabeça na surpresa de Flora. 

É só quando o avião começa a ganhar velocidade na pista e eu percebo a tensão no corpo de minha namorada que lembro de um detalhe importante: Flora morre de medo de altura.

Óbvio que meu coração amoleceu com a imagem de Flora de olhos fechados e a testa franzida. As dobras de seus dedos estavam ainda mais esbranquiçadas por causa da força com que ela segurava os braços de seu assento. 

-Ei... - sussurro. Flora vira o rosto minimamente em minha direção, mas não abre os olhos.

Eu me aproximo devagar para não assustá-la e entrelaço nossos dedos. Um pequeno sorriso aparece em seu rosto e ela aperta minha mão com mais força, continuando com os olhos fechados. Eu faço o oposto: mantenho meus olhos bem abertos, decorando pela milésima vez cada detalhe do rosto da minha namorada irritante e insuportavelmente linda.

-Eu amo você - sussurro enquanto o avião sobe cada vez mais. Um sorrisinho presunçoso nasce no rosto de Flora, mas seu tom de voz é doce quando ela me responde.

-Eu te amo mais, Quint.

//

-Você já viajou para Nova Iorque alguma vez, Quint? - Flora me pergunta, tirando um de seus fones de ouvido.

O questionamento repentino me assusta um pouco, já que estávamos em silêncio por um bom tempo. A viagem era longa, então aproveitei para cochilar enquanto Flora lia em seu Kindle e ouvia música.

-Não, nunca...

-Que engraçado, né? - ela sorri e eu já sei que vem provocação por aí - Você, estadunidense, nunca visitou Nova Iorque. Eu, escocesa, já visitei umas dez vezes.

-"Engraçado?" Isso se chama capitalismo e má distribuição de renda, meu amor.

Flora ri e concorda com a cabeça, me oferecendo um de seus fones. Quando o coloco no ouvido e escuto as primeiras batidas da música, entendo sua intenção. Ignorando seu medo de altura, Flora abriu a pequena cortina da janela do avião para que pudéssemos ver a cidade de Nova Iorque das alturas com a música "Welcome To New York" de trilha sonora.

"Everybody here was someone else before
And you can want who you want
Boys and boys and girls and girls
Welcome to New York, it's been waitin' for you"

//

-Quando é que eu vou descobrir? Agora? - pergunto um pouco sem fôlego, sem entender porque estamos andando com tanta pressa na sala de desembarque do Aeroporto Internacional John F. Kennedy.

Tenho a plena consciência de que estou parecendo o Burro do Shrek desde que botamos o pé para fora do avião, perguntando a todo momento sobre a tal surpresa para Flora. Os seguranças que nos acompanham já não devem aguentar ouvir a minha voz.

-Logo, meu amor - Flora sorri, dando um beijo demorado em minha bochecha e entrelaçando nossos dedos com delicadeza enquanto finalmente saímos da área de desembarque. Essa sua atitude quase me distrai.

-"Logo", quando?

-Isso não depende exatamente de mim, Quint.

-Como não? Depende de quem, então? 

Flora não me respondeu de imediato, parecia procurar por algo ou alguém no meio do "mar" de pessoas que esperavam os passageiros. O sorriso que surgiu em seu rosto me fez entender que ela tinha encontrado o que procurava. Olhei na mesma direção e não acreditei.

Saks e Perry estavam nos observando com sorrisos gigantes, balançando um cartaz escrito "Princesas Baird & Quint".

Antes que eu pudesse raciocinar, minha amiga já estava me abraçando com força. Perry foi cumprimentar Flora com entusiasmo, mas não consegui ouvir o que eles estavam conversando. Quando foi que a Flora ficou tão amiga dos meus amigos?

-Que saudades, Millicent! - Saks exclamou, se afastando do abraço. Ela parecia até um pouco... emocionada? - Essa viagem foi um ótimo test-drive para depois que nos formarmos! Já vi que se não estivermos no mesmo lugar você esquece que eu existo, né? Vou precisar viver enfiada na sua casa, quer dizer, no seu Palácio...

-Deus me livre! - Flora brincou, apenas para provocar Saks. Minha amiga riu e foi abraçar Flora também.

-Obrigada por não ter feito mais do que a sua obrigação e nos dar essa viagem de presente, Baird. 

-Oi? - encarei Flora, surpresa - Você pagou tudo?

-Uhum, nosso hotel e nossas passagens foram cortesia da Flora - Perry explicou. 

-"Capitalismo", né? - Flora encostou o cotovelo no meu braço, me provocando. Eu ri e a beijei sem me importar por estarmos no meio de uma multidão. Isso já estava virando rotina.

-Ai, que nojo vocês duas! - Saks gritou, entrando no meio da gente sem mais nem menos. Eu, Flora e Perry rimos da interrupção exagerada - Bora, vocês querem ficar nesse aeroporto pra sempre? Temos uma cidade pra visitar!

The Great War || Rocksalt (Sua Alteza Real)Onde histórias criam vida. Descubra agora