TODO MUNDO JÁ havia se recolhido quando Marcela finalmente terminou as tarefas do dia. Lavar as cortinas e pendurá-las de volta completamente sozinha sempre era uma tarefa cansativa. A casa era enorme e tinha muitas, muitas janelas.
Porém, a garota conseguiu aspirar os carpetes e passar algumas roupas, o que era um grande adianto, em especial, porque na manhã do próximo sábado, não precisaria acordar tão cedo.
Ou seja, eu poderia ficar na internet até um pouco mais tarde, se tomasse o cuidado de ser discreta.
As gêmeas tinham comprado máscaras faciais de argila francesa e se deitaram cedo para poder testar o produto, que deveria ser usado à noite.
Andrea, por sua vez, decidiu dormir cedo, porque, segundo a própria, precisava "parecer disposta" na manhã seguinte, quando teria uma reunião importante no trabalho. Era organizadora de eventos e um cliente importante – ou seja, cheio do dinheiro – estava cogitando a empresa para... bem, Marcela não sabia exatamente os detalhes. Tinha adquirido o costume de ignorar a madrasta quando esta começava a falar sobre si própria.
A única coisa que Marcela sabia era que teria que sacrificar algum de seus fins de semana para trabalhar sem receber um tostão no evento em questão, caso Andrea fechasse o negócio.
A garota ficou tentada a acordá-la duas horas mais cedo na manhã seguinte, com barulho de panelas batendo e do aspirador de pó ligado. Mas não valia a pena ter que sofrer as consequências de sua ira. Ou sacrificar as horas extras de sono que havia cobiçado a semana inteira.
Encantando: Não vai jogar hoje?
Marcela encarou a mensagem, debaixo das cobertas, com o fone de ouvido conectado ao celular. Até queria jogar um pouquinho, mas estava exausta. Um músculo de sua coluna, em particular, estava queimando do esforço para erguer as cortinas molhadas e colocá-las no lugar. Não conseguiria ficar sentada na cadeira dura que usava para ficar no computador.
Por isso, estava usando aquele tempo na internet para atualizar meu perfil e revisar o layout para aplicativo móvel que tinha feito para a sua personagem, com motivos de abóbora e camundongos fofinhos. Tudo bem cinderelesco.
Ella: Acho que não. Quero descansar um pouco.
Encantado: Aceita companhia?
Ela cogitou a possibilidade. A fada do sono ainda não tinha passado nem perto de suas pálpebras, com seu pozinho mágico anti-insônia. Além disso, Marcela pensou, ela e Theo mal tinham conversado naquele dia.
Olhou para o relógio. Sete minutos para a meia-noite.
Ella: Claro, mas só até meia-noite, ok?
Encarou a tela, esperando que aparecesse uma resposta. Mas, para o seu mais absoluto pânico, não foi o que aconteceu.
A tela ficou preta e uma frase que Marcela Leone nunca imaginou ter diante de si apareceu:
Encantado te convida para uma chamada de vídeo.
Theo queria conversar com ela por vídeo?
Como em imagem, som, e o rosto dele do outro lado da tela?
Ela não podia acreditar. Depois de todo aquele tempo conversando com ele todos os dias, mas só por mensagem ou no jogo, ela finalmente conheceria o rosto por trás de sua única companhia. Da única pessoa que a entendia de verdade. Daquele com quem Marcela podia passar horas conversando sem ficar entediada, ou tímida, ou ter vontade de enfiar a cabeça em um buraco.
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Cinderela às avessas
Teen FictionPalácios, vestidos brilhantes e sapatinhos de cristal não fazem parte da realidade de Marcela Leone. Órfã de mãe desde bebê e de pai pela metade de sua vida, a garota foi obrigada a convencer seu coração sonhador de que não há fadas madrinhas ou prí...