MESMO SABENDO QUE havia uma alta probabilidade de que Jonas Levi a enviasse uma mensagem depois de obter seu número de telefone, isso não fez com que Marcela ficasse menos surpresa com o convite que recebeu na manhã seguinte.
Jonas Levi: Jonas aqui. Quer tomar um café hoje à tarde?
Em reação automática de seus mecanismos de defesa, ela digitou uma rápida resposta:
Ella: Não posso. Preciso estudar, tenho prova na quinta.
Havia mesmo uma prova na quinta, mas Marcela não precisava estudar para ela. Só queria uma desculpa para poder voltar atrás nessa história de aceitar a ajuda daquele garoto a descobrir a identidade de seu Príncipe Encantado mentiroso.
A garota não tinha engolido direito aquela história de que Jonas Levi tinha se comovido tanto com seu drama pessoal, que tinha decidido ajudar. Compaixão não era algo que Marcela esperava de pessoas como ele.
Não tinha muito experiência com compaixão de maneira geral, se estava sendo sincera consigo mesma.
Além de quê, ele era daquele grupinho. Com eles, sempre havia um preço a ser pago. Ela mesma já testemunhara algumas de suas transações. Jonas, por sua vez, tinha se oferecido para ajudá-la sem pedir nada em troca, o que era desconcertante.
Jonas Levi: Filosofia, não é? A minha prova é na sexta. Podemos estudar juntos, se você quiser. Você deve ser boa na matéria, a julgar pelos livros que vi na sua cabeceira.
Então, era nisso que ele estava reparando quando fiscalizou seu quarto. A pilha de livros surrados, que outrora tinham pertencido a seu pai, e que ela própria estava usando para estudar. As notas de Marcelo Leone nas margens eram de grande ajuda.
Marcela começou a digitar uma resposta. Não precisava estudar filosofia, porque estava em dia com a matéria, mas isso não significava que não tinha que compensar a sua falta de aptidão para biologia e matemática. Seu tempo era limitado. Tomar um café com ele seria improdutivo. Além disso, terça-feira era dia de passar roupa – uma tarefa tediosa que lhe tomaria a maior parte da tarde.
Ela apagou o que havia digitado. Constatou que não tinha mais que reservar seu tempo para conversas com Theo à noite, porque Theo não era quem dizia ser e, como ele se recusava a dizer quem era, ela se recusava a falar com ele.
Ela tinha, afinal, tempo para um café.
Ella: Certo. Mas só se eu puder escolher o lugar.
𖥔‧₊˚ ⊹˖ ࣪ ⊹*:・゚✮
A ESCOLHA DO local não tinha nada a ver com uma preferência específica de Marcela, e sim com o seu orçamento. Tinha algum dinheiro guardado embaixo de seu colchão, mas era pouco. Algum trocado que tinha reunido em gorjetas quando trabalhou nos eventos da empresa da madrasta, ou o troco do supermercado, nas raras ocasiões em que Andrea lhe dava dinheiro em vez de entregar o cartão de crédito.
Era uma espécie de reserva de emergência, e a garota se recusava a tocar no dinheiro a menos que fosse de extrema necessidade. Mesmo assim, não era nenhuma fortuna. Certamente não era o bastante para nem para respirar dentro de um dos estabelecimentos chiques que Jonas e seus amigos frequentavam.
Por isso, sua pedida tinha sido por um café pequeno e simples, que custava três reais em uma cafeteria igualmente pequena e simples no centro da cidade.
Jonas adentrou o estabelecimento quinze minutos após o horário combinado. Sua aparência polida contrastava com a frugalidade do local. Exceto pelos cabelos loiros, sempre bem penteados, que naquela tarde estavam meio úmidos, evidenciando os cachos naturais. Em vez de sapatos de couro, ele usava tênis. Marcela não se lembrava de tê-lo visto vestido de maneira tão casual, nem mesmo na escola.
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Cinderela às avessas
Teen FictionPalácios, vestidos brilhantes e sapatinhos de cristal não fazem parte da realidade de Marcela Leone. Órfã de mãe desde bebê e de pai pela metade de sua vida, a garota foi obrigada a convencer seu coração sonhador de que não há fadas madrinhas ou prí...