12 | contos de fadas modernos

59 16 40
                                    

MARCELA PASSOU O de semana todo utilizando qualquer minuto de tempo livre que tinha para tentar desvendar a identidade de seu príncipe nem tão encantado.

Praticamente montou um dossiê com tudo que pôde reunir de informações públicas sobre Jonas e Giorgia Levi. Investigou a fundo as redes sociais dos irmãos, até os primeiros registros de anos antes.

A garota, Giorgia, era um beco sem saída: tinha amigos demais, estava sempre em festas e todas as suas fotos recebiam dezenas de comentários. Era praticamente impossível, dentre todos aqueles perfis, identificar algum indivíduo que tinha relação próxima com os irmãos Levi para que Marcela pudesse identificar a familiaridade que Jonas tinha com a mãe de Theo.

Por exemplo, a última foto que Giorgia havia disponibilizado – uma imagem da garota no espelho, com um vestido justo e brilhante, envolvida por uma echarpe felpuda cor de rosa – tinha duzentos comentários. A penúltima foto – a garota sorrindo em um ensaio para seu aniversário de dezoito anos, com os cabelos pretos arrumados em um penteado elegante e um vestido perolado que se destacava em sua pele retinta e favorecia sua figura esguia – tinha o dobro.

Giorgia repostava imagens instantâneas de seus convidados agradecendo pelos convites. Mas era impossível garantir que Theo tinha feito o mesmo. Além de quê, eram muitos convites.

O perfil de Jonas era ainda pior. A única foto em que ele aparecia era uma imagem de um treino de esgrima, e o garoto estava completamente coberto pelo uniforme e pela proteção. Se Marcela já não soubesse sua aparência, a única coisa que poderia atestar pela sua foto de perfil é que ele tinha pele branca e cabelos loiros.

As outras fotos eram quase etéreas: uma coleção de relógios antigos, uma escultura, cadeiras aveludadas do que parecia ser um teatro antigo, páginas puídas de livros de poesias.

Seu celular estava praticamente explodindo de mensagens de Encantado. Ele a entupia de perguntas sobre a ligação. Se Marcela a tinha atendido. Se tinha conversado com alguém. Que ele devia ter ligado por engano, clicado sem querer no símbolo do telefone que ficava na tela de mensagens.

Ela não o respondeu. Não tinha certeza de conseguiria falar com ele normalmente, sem endereçar o elefante cor-de-rosa que havia entre os dois desde a última sexta-feira: a boa chance de que eles estudassem na mesma escola, ou, ao menos, já tivessem cruzado caminhos no Mundo Real.

Se ao menos ela conseguisse descobrir quem ele era antes de precisar revelar a si mesma...

Marcela concluiu que não teria alternativa. Sua melhor chance de descobrir a identidade de Theo era colocando as mãos na lista de convidados do aniversário de Giorgia Levi.

E, a menos que cometesse alguns crimes de identidade, só havia uma maneira de conseguir.

Jonas Levi.

𖥔‧₊˚ ⊹˖ ࣪ ⊹*:・゚✮

NA MANHÃ DE segunda-feira, Marcela se atrasou de propósito nas tarefas. Assim, a madrasta e as gêmeas, impacientes, a deixaram para trás e seguiram suas rotinas como se ela não existisse.

Em circunstâncias normais, isso a deixaria irritada, porque teria que pegar o ônibus e provavelmente se atrasaria para a aula.

Mas não naquele dia.

Ela precisava encontrar Jonas Levi. Sozinho. E antes de a aula começar. Já tinha passado dois dias inteiros remoendo aquela situação, e não sobreviveria a mais um minuto sem dar o próximo passo em seu plano.

Por ter conferido obsessivamente as redes sociais de todos da panelinha, já que Jonas fazia mais o tipo misterioso e não postava quase nada, a garota descobriu que os meninos do grupinho popular costumavam tomar café juntos, todos os dias, em uma cafeteria requintada que ficava no bairro privilegiado onde a maioria deles morava. Nas fotos marcadas de Jonas, praticamente dia sim e dia não havia algum registro de um dos garotos em um estabelecimento chamado Café du Jour.

Marcela já tinha ouvido um boato de que eles tomavam cafés batizados antes de ir para a escola. Melhor ainda, concluiu. Seria mais fácil de arrancar alguma coisa de Jonas, se o garoto não estivesse cem por cento sóbrio.

Parada atrás de uma árvore na calçada oposta àquela em que ficava o indigitado café, Marcela observou enquanto Jonas Levi, Conrado Castellan e Enrico Achara conversavam às gargalhadas ao passo que davam goles em seus cafés caríssimos.

A garota sentiu um frio na barriga, pela primeira vez pensando que existia uma possibilidade real de que Theo fosse um daqueles garotos – à exceção, é claro, de Jonas, que poderia seguramente ser riscado de sua lista. O meu príncipe encantado é um garoto popular.

Ao menos, era popular suficiente para ter um relacionamento pessoal com a família Levi, que era praticamente ditadora do bom gosto entre a patota elitista que Antônia e Alice se desesperavam para impressionar.

Marcela exalou com escárnio, se dando conta de que estava parecendo uma psicopata, escondida na moita, esperando para encurralar um garoto. Seu conto de fadas era tão adverso que não conseguia nem se lembrar de uma história em que a princesa é quem tinha que correr atrás do príncipe.

Cinderela às avessas, era isso mesmo.

Os garotos se levantaram para pagar a conta. Parados diante do caixa, Marcela torceu para que não decidissem ir até a escola de carro. Alguns deles tinham motoristas, ela sabia. Tinha notado os carros pretos de janelas escuras que esperavam por eles ao fim de todos os períodos letivos, mas não sabia a quem o serviço atendida.

Ela teria de pensar rápido. Não poderia seguir Jonas se ele entrasse em um carro, e ele certamente não estaria sozinho se o fizesse. Todos os seus amigos eram suspeitos.

Em um momento de sorte inacreditável, Conrado e Enrico se enfiaram em um veículo que praticamente se materializou na frente do café. Mas Jonas Levi ficou para trás, destravando uma bicicleta comunitária em um aplicativo. Marcela revirou os olhos. É claro. Ele parecia mesmo ser desse tipo.

A garota atravessou a rua em poucos passos enquanto Jonas se virava com o cadeado eletrônico. Ela correu quando chegou à calçada.

Apesar da curta distância, se sentiu ofegar e ouviu seu coração disparando no peito. As palmas de suas mãos se umedeceram. Quando tinha ensaiado aquele momento em sua cabeça, não tinha cogitado a possibilidade de que estivesse nervosa.

Ela disse seu nome, percebendo que era a primeira vez que o fazia em voz alta.

— Jonas.

𖥔‧₊˚ ⊹˖ ࣪ ⊹*:・゚✮

n/a: eu sinto que esperei a minha vida inteira para apresentar esse personagem para vocês 🥹💖✨

capítulo curtinho, então, vamos conversar um pouco aqui para melhorar o engajamento da história:

1. qual você acha que vai ser o papel do jonas, vulgo mauricinho pomposo, a história da marcela?

2. ficou decepcionada por não sabermos ainda quem é o encantado?

3. por curiosidade, o que você gostaria que acontecesse na história?

com amor, B

instagram: boasmeninas
tiktok: boasmeninas

Cinderela às avessasOnde histórias criam vida. Descubra agora