23 | doce de abóbora

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ENCANTADO: MARCELA, EU te imploro. Não tenho o direito de te pedir nada, mas se a nossa amizade já significou alguma coisa para você, eu te peço, desista disso. Você não sabe no que está se metendo. Eu sei. Essas pessoas não são de confiança. Jonas Levi não é de confiança.

— Ele não tem o direito de te dizer o que fazer — comentou Jonas sobre a mesa da cozinha, com o celular de Marcela na mão, examinando a última mensagem de Theo. Ele ignorou completamente o insulto à sua idoneidade, o que não passou sem que a garota notasse.

Jonas estava visitando novamente, para que pudessem aprofundar a inquirição sobre a identidade de Theo. Dessa vez, Jonas se certificou de dizer aos seus amigos do grupinho que passaria a tarde com uma garota, para ver se Theo reagiria.

— Isso praticamente confirma que ele é um de vocês. Do seu círculo íntimo.

Jonas apenas a encarou, a expressão vazia. Então, assentiu.

— O que especifica um pouco mais a nossa lista de suspeitos, mas não nos deixa mais próximos de descobrir quem ele realmente é.

Marcela serviu uma porção de doce de abóbora que tinha acabado de tirar da panela na frente dele, em um prato de cerâmica turquesa que tinha pertencido a sua avó. A mãe de seu pai era a quem se devia crédito pela receita do doce, que Marcela tinha aprendido ao ler um antigo livro de receitas que seu pai manteve na biblioteca.

Jonas olhou para o doce com curiosidade.

— Você fez isso?

— Sim — ela se virou para o fogão para pegar um pouco para si mesma. — Eu adoro.

— Acho que nunca comi um doce feito com abóbora — confessou ele, ainda reticente. Marcela imaginou as sobremesas que Jonas e sua família deviam ter o hábito de consumir. Certamente algo tão simples como um doce de abóbora caseiro nunca foi depositado na mesa elegante dos Levi.

— Não sabe o que está perdendo.

— Acho que você devia encerrar comunicação com essa pessoa. — Jonas falou, indicando o celular com as sobrancelhas e pegando uma colher para experimentar o doce.

— Está quente — avisou ela. — Cuidado com a língua.

— Você bem gostaria que eu queimasse a língua para não precisar mais falar disso — provocou ele, e Marcela aceitou a instigação sem humor. — Corte o papo com esse covarde. É o meu conselho.

— Não me entenda mal, Jonas — ela o interrompeu, se sentando à mesa no lugar de frente ao garoto. — Eu não tenho ilusões. Não acho que essa ida ao aniversário da sua irmã vai ser o ponto alto do meu conto de fadas, e que vou conhecer o amor da minha vida e dançar com ele a noite toda. A única parte remotamente convergente entre a minha situação romântica atual e a dos contos de fadas é o fato de que nenhuma das duas existe.

Os olhos de Jonas ainda estavam sérios. Uma colher pairava entre eles, meio caminho à boca, ainda fumegando. Marcela esfregou as mãos no avental, desconfortável.

— Pelo menos o príncipe tinha uma vantagem nos contos de fadas. Um sapato de cristal mágico que só serviria em sua donzela. Nós, nem isso — ele bufou, esmorecido. Então, sua expressão se suavizou. — Eu só queria ter certeza de que esse encontro com Theo vai ser seguro para você. Como não consigo fazer isso, me parece mais racional tentar te dissuadir.

— É fácil para você falar. Eu não tenho centenas de amigos, como você. Na escola, todo mundo me ignora. Aqui em casa, só falam comigo para me pedir coisas. Nem um "por favor" eu escuto. Acho que não estou pronta para renunciar ao único amigo que eu tenho.

Cinderela às avessasOnde histórias criam vida. Descubra agora