15 | um perfeito cavalheiro

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ÀS NOVE HORAS em ponto do dia seguinte, Marcela Leone estava sentada em um dos bancos que beiravam a piscina do centro esportivo do colégio, agarrando as bordas de concreto com as mãos. Os nós de seus dedos estavam brancos.

Sim, estava matando aula. Não, ela nunca tinha feito isso antes, mas sabia que a piscina era praticamente um ponto de encontro dos cabuladores, por ser a única parte da escola que não tinha monitores no corredor. E porque o professor de natação era muito afeiçoado ao canal de esportes e raramente inspecionava o perímetro, se isso significasse erguer os olhos do aplicativo em seu celular.

Cinco minutos depois, quando Marcela já estava se sentindo patética por acreditar que Jonas Levi apareceria, sua figura elegante despontou na grade que separava a piscina dos corredores. Ele caminhou garbosamente até ela.

Jonas usava a camiseta do uniforme pareada a uma calça de alfaiataria, e paletó. Em qualquer outra pessoa, a combinação seria ridícula, mas para ele funcionava.

O sol da manhã complementava seus cabelos loiros arrumados no penteado de sempre. Seus olhos estavam mais para um verde escuro naquela luz, e perfuravam a garota enquanto a distância entre os dois diminuía. Na mão direita, Jonas trazia uma pasta de couro marrom. A mão esquerda estava escondida no bolso da calça, mas sem deixar de fora um relógio que devia custar mais do que doze meses de salário-mínimo.

Marcela sabia exatamente quantos universos a separavam de alguém como Jonas. Como Theo. Mas isso não tornava os lembretes menos dolorosos

Theo deve ter vergonha de mim. Só podia imaginar a expressão em seu rosto quando descobriu quem Marcela realmente era. Com um lenço na cabeça e uma vassoura nas mãos, tirando as folhas de castanheira da calçada em frente à casa de seu pai. Seu rosto desconhecido deve ter queimado de vergonha da figura estranha de cabelo desgrenhado e roupas que não foram perfeitamente ajustadas para se moldar ao seu corpo. Sapatos de segunda mão.

— Aqui está, garota — Jonas, ainda de pé, a estendeu um bloco de papéis grossos dentro da pasta. Marcela a abriu imediatamente sobre o colo, ansiosa. A lista de convidados estava datilografada, não impressa.

Ela sentiu o peso do calhamaço em seu colo. Ele não estava brincando. Eram muitos, muitos convidados.

— Todos os convidados estão aqui? — Questionou, sem agradecer.

— Eu espero, realmente, que você não seja uma psicopata obcecada pela minha irmã, ou algo do gênero — Jonas ignorou a pergunta. — Seria terrível se eu fosse o responsável por uma tragédia.

— Sua irmã está fora da minha lista de suspeitos — Marcela disse.

— Ótimo.

— Ótimo — ela retrucou, no automático. Ao perceber que ele não tinha se movimentado para ir embora, Marcela revirou os olhos. — Obrigada — cuspiu, sua gratidão nada sincera.

— É só isso?

— Foi o que eu pedi — falou. — Estou agradecendo.

— E eu não recebo qualquer tipo de explicação para esse pedido nada usual?

Marcela abriu a boca para retrucar sua exigência com algum insulto, mas as palavras se perderam meio caminho à garganta. Era fácil não ser gentil com Jonas Levi, mesmo que a garota tivesse recebido de seu pai a educação de sempre ser amigável com as pessoas, mesmo as que não merecem.

Ela não devia simpatia a uma pessoa infinitamente mais privilegiada que ela, não só por suas posses, mas pelo simples fato de que o garoto não estava naquela situação humilhante.

Mas não foram suas boas maneiras que a interromperam. Foi a perspectiva de que não tinha ninguém para conversar sobre o que estava acontecendo. Se Jonas se virasse para ir embora, Marcela perderia sua única oportunidade de falar com alguém a respeito. Não tinha amigos. Deus sabia que não poderia falar com a madrasta, menos ainda com as gêmeas.

Cinderela às avessasOnde histórias criam vida. Descubra agora