MARCELA NUNCA TEVE um dia tão improdutivo na escola.
Suas anotações estavam praticamente em branco. Se fosse questionada sobre o tema de cada uma das aulas, não seria capaz de responder convincentemente. A garota ficou praticamente o tempo todo de orelhas em pé, tentando escutar a conversa das garotas que se sentavam atrás dela na classe.
Estava desesperada por alguma vantagem, por menor que fosse, para seu encontro com Jonas Levi no dia seguinte. Sua chantagem seria mais convincente se ela pudesse ao menos fingir que sabia um dos segredos do grupo.
É claro que o trio de garotas tinha escolhido aquele dia para ficar a aula inteira conversando sobre o que vestiriam no aniversário de Giorgia Levi.
Aparentemente, a festa seria elegante. As garotas falavam, inclusive, de sair do país para comprar roupas, sendo que a festa seria dali a um mês. Marcela nunca tinha viajado para o exterior, mas sabia que passagens aéreas não custavam pouco, ainda mais se compradas em cima da hora.
A garota se perguntou o que Andrea diria se as gêmeas pedissem para fazer o mesmo. A madrasta vivia dizendo que não tinha dinheiro o suficiente para tudo que Marcela pedia, e se recusava a mexer em sua herança a menos que fosse para pagar a mensalidade da escola e seu plano de saúde.
Segundo Andrea, aquilo era para o seu próprio bem, e um dia Marcela a agradeceria.
Frustrada pela ausência de fofocas, Marcela deixou sua mente vagar. Pensou em Theo. Na perspectiva de que o garoto que a fazia suspirar teria mais em comum com aquelas pessoas do que com ela mesma.
Talvez Theo não pertencesse ao grupinho imediato de amigos das gêmeas. Mas a festa era exclusiva e Giorgia Levi era uma garota muito popular. Seus amigos eram igualmente populares, como os de Jonas. Se Theo estava sendo convidado pessoalmente pelo irmão da aniversariante, isso significava que... bem, provavelmente, já tinha cruzado olhares com Marcela no colégio em algum momento dos últimos dois anos.
Era estranho saber que ele estivera sempre por perto. Quem sabe do outro lado do corredor. Observando-a, julgando suas roupas de segunda mão, e seu rosto sem uma gota de maquiagem.
Enquanto Marcela escrevia seu nome falso naquele mesmo caderno que tinha diante de si.
Essa era a parte que mais machucava. A ciência de que, em circunstâncias normais, os dois nunca se conheceriam. Não eram tão parecidos quanto a garota tinha julgado.
Sua fantasia de que um dia teria coragem para revelar a ele sua identidade também tinha caído por terra, derrotada.
Encantado: Ella, estou começando a ficar preocupado. Você não me responde desde sexta-feira. Desde aquela chamada de vídeo. Eu preciso saber como você está. Aconteceu alguma coisa?
Marcela olhou para o celular pousado em sua perna, sob a carteira. Concluiu que, agora que Theo não precisava fingir que frequentava outra escola, não fazia sentido não enviar mensagens para ela durante o horário da aula.
Ela engoliu em seco, cheia de mágoa.
Porque, finalmente, tinha entendido o óbvio.
Só havia um motivo para Theo estar tão preocupado com aquela ligação.
Se ele não soubesse quem a garota era, não haveria motivo para que ele se preocupasse com o fato de que Jonas Levi estava diante do celular com uma chamada de vídeo aberta. Se a situação fosse inversa, Marcela estaria preocupada com a possibilidade de que ele tivesse testemunhado alguma conversa constrangedora envolvendo a madrasta, ou pior, que visse seu quarto no sótão.
Mas não era isso que o estava preocupando.
Encantado: Ella, me diga o que está na sua mente. É o que nós fazemos.
Ela decidiu arriscar. Não tinha nada a perder.
Ella: Estou pensando no porquê de você ter escondido de mim que faz parte da panelinha dos populares da minha escola. No motivo de você ter me enchido de mensagens desde sexta, todo preocupado com o que eu vi por trás daquela chamada de vídeo. Você claramente sabe quem eu sou. Só eu que estive no escuro esse tempo todo sobre quem você é, o que só pode significar que você não me queria em sua vida perfeita. Você diz que eu sou sua melhor amiga, a pessoa com quem você quer conversar todos os dias, mas me quer nem longe da sua rodinha no intervalo. De suas festas.
Encantado: Marcela...
Seu nome estava na tela. A confirmação de todas as suas suspeitas. O que deveria me fazê-la se sentir melhor, mas tinha o efeito era o oposto.
A garota se curvou diante do celular, com medo de que alguém pudesse ler o diálogo por cima de seu ombro.
Ella: Há quanto tempo você sabe que eu sou eu?
Encantado: Não muito.
Ella: Não muito QUANTO?
Encantado: Em uma das nossas conversas, você soltou o nome do nosso professor de história. Quando estávamos estudando juntos, você repetiu uma piada que ele fez em sala de aula e eu me toquei que, por improvável que pareça, nós frequentamos a mesma escola e estamos no mesmo ano. Pouco tempo depois, você mencionou as gêmeas. Então, eu soube, mas nunca tinha visto Antônia e Alice com uma terceira companhia. Fui até a sua casa e fiquei parado esperando para ver quem entrava e saía. E eu te vi.
Ella: Foi quando você me contou o seu nome falso.
Encantado: Sim.
Marcela prendeu a respiração enquanto ele continuava digitando. Ela queria olhar para trás, conferir se alguma das garotas estava digitando. Todas elas estavam dentro do quadro de suspeitos.
Mas ela não tinha coragem. Era como se alguma parte dela ainda não estivesse pronta para descobrir a verdade. Como se quisesse se segurar à utopia por alguns minutos a mais, antes de descobrir que o seu Príncipe Encantado, na verdade, era uma pessoa horrível.
Encantado: Sei que meu comportamento é de um maníaco, mas tenta entender. Eu precisava ter certeza de quem você era. Ao mesmo tempo, eu precisava me certificar de que você nunca descobriria quem eu sou. É melhor assim, para nós dois.
Ella: Quem é Theo?
Encantado: Como assim?
Ella: Quem é Theo? Não tem ninguém na escola com esse nome, e foi o nome que você me disse.
Encantado: Eu não posso te dizer
Ella: Vou saber quem você é se eu souber?
Encantado: É improvável, mas não é impossível. Não posso arriscar.
A dor da rejeição veio como uma pontada no estômago.
Ella: Eu vou descobrir quem você é. Não importa o que eu faça, ou até onde eu precise ir. Não importa o que eu tenha que fazer.
Antes que ele pudesse responder, Marcela colocou o celular no modo avião, para impedir que as mensagens dele fossem entregues. Não conseguia bloquear seu número, e não lhe parecia ser a atitude mais esperta. Ainda estava muito distante de fazer ideia de quem ele realmente era.
Não fale com estranhos, a voz de seu pai soou perfeitamente em sua memória. Marcela não fazia ideia de quão alto seria o preço de ignorar esse conselho.
𖥔‧₊˚ ⊹˖ ࣪ ⊹*:・゚✮
n/a: e o plot esquenta...
hey babes <3
teorias teorias teorias?
com amor, B
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Cinderela às avessas
Ficção AdolescentePalácios, vestidos brilhantes e sapatinhos de cristal não fazem parte da realidade de Marcela Leone. Órfã de mãe desde bebê e de pai pela metade de sua vida, a garota foi obrigada a convencer seu coração sonhador de que não há fadas madrinhas ou prí...