Algumas luzes dançavam e iluminavam o teto sobre ela.
Vinham de uma das imensas e hormônicas janelas que compunham o charme do lugar, onde as cortinas foram deixadas abertas de propósito.
Naquele início de madrugada fria, ela não queria ficar no escuro.
Honestamente, não era medo, ela não temia às trevas, mas naquele momento, sua alma ansiava por um pouco de luz.
Ela precisava de um traço de claridade em sua vida.
Deitada em sua larga e espaçosa cama, Maya encarava o teto de seu quarto, tentando decifrar o formato que as sombras adquiriam com as faíscas de luzes projetadas pelos carros que ainda circulavam pela Rue de Grenelle, no Tour Eiffel, onde ficava o seu apartamento.
Ela decidiu não voltar para casa naquela noite, optando por passar o final de semana na cidade.
Às vezes, o casarão era quieto demais.
Deitou—se relativamente cedo e já tinha decidido dormir há algum tempo, porém naquela noite, sua habitual insônia havia caprichado na dose!
— Que ótimo! — Grunhiu, imprimindo todo o deboche que conseguia.
A porcaria da falta de sono estava de parabéns daquela vez. Já tinha recorrido à algumas boas – e altas — doses de um Macallan 1926, whisky mais antigo da coleção: Fine and Rare de Macallan, destilado na mesma data constituída em seu nome.
Era um clássico muito apreciado por ela e naquele momento, tinha sido o escolhido na missão de entorpecer seu corpo e sua mente, que estavam em completo alvoroço desde o misterioso e estranho encontro de horas atrás.
O que tinha sido tudo aquilo?
Não, o tempo verbal tem que ser outro!
O que vem sendo tudo isso?
Maya pressionava as têmporas no intuito de forçar seu cérebro a compreender àquela maluquice.
Já havia repassado o explosivo encontro repetidas vezes e em todas elas, as mesmas — infernais — sensações lhe invadiam.
Remexeu-se na cama, incomodada com os perigosos rumos que seus pensamentos queriam tomar.
Ok! Toda a sua razão gritava para se afastar e evitar a presença de Carina ,
''Fique longe dela''' porém... algo muito mais profundo a impelia em direção a ela.
Maya atribuía essa confusão toda à curiosidade em saber quais eram os reais objetivos de Carina e, acima de tudo, quais eram as intenções de quem ela acreditava estar por trás daquilo.
Um sorriso um tanto sádico e melancólico surgiu no rosto pouco iluminado de Maya.
Era loucura, ela sabia, mas, fosse o que fosse, há muito ela não se sentia tão viva e tão alerta.
Há muito seu corpo e sua mente não reagiam e se estimulavam em relação a nada.
Mesmo com o risco e o perigo eminentes, no íntimo, ela apreciava aquela sensação, aquela pontada de vida em sua existência quase vazia.
As palavras de Andy ecoavam em sua mente:
"E diga-se de passagem, uma isca sensacional, não!?"
Mordeu seu lábio sem nem se dar conta, passando uma das mãos nos fios dourados.
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Deserve You
FanfictionReleitura da obra "A Ordem do Labrys: Crônicas da Herdeira" de "Juliana Lucena" "Não se aproxime demais ... é escuro aqui dentro." Uma das habilidades mais incríveis que o Tempo possui, é a capacidade de absolver ou amaldiçoar. Entretanto, ironicam...