Destination

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Carina encarava sua imagem no espelho, mas na verdade estava com sua mente distante. Os cabelos molhados, ainda respingando gotículas de água, indicavam que ela havia acabado de sair do banho. Olhou para a sua cama vazia e desfeita e lamentou a ausência de seu amor.

Pousou seus olhos na porta entreaberta de seu guarda-roupa que sustentava um grande saco plástico que envolvia um vestido que havia ganhado de Maya e que seria o que usaria naquela noite. A sua grande noite, como a sua amada já estava se referindo ao momento do lançamento de seu livro. Sabia que deveria estar esfuziante de alegria, mas não conseguia relaxar. E isso tinha tudo a ver com os acontecimentos dos últimos dois dias, desde a chegada da Cúpula da Ordem e das terríveis notícias trazidas por elas.

Assim que soube do real motivo do afastamento de Maya, que algo passou a lhe incomodar, mas até então não era algo palpável ou que pudesse verdadeiramente levar a sério.

Sua racionalidade lhe dizia que seria impossível alguém prever algo tão pontual como a morte de outra pessoa, mesmo já tendo um pouco de prova dos poderes da pequena pitonisa. Porém, não apenas Maya a levava a sério, como toda a Ordem também e a presença daquelas mulheres importantíssimas em sua cidade, atribuiu um medo real sobre a ameaça.

Estava evitando pensar nisso, mas falhava intensamente, e ter Maya distante e apreensiva, só piorava seus receios e medos. Estava sendo perfeito tê-la de volta, mas nos dois últimos dias elas mal tiveram tempo de estarem juntas, pois ela entrou em uma série de reuniões com as demais mulheres, verificando repetidas vezes, todo um esquema de segurança.

Nem se quer voltou para dormir com ela nas últimas noites, passando-as no hotel onde as demais estavam hospedadas. O clima, que deveria ser de entusiasmo e empolgação, estava tenso e carregando de apreensão.

Até seus amigos, que desconheciam as supostas ameaças que ela sofria, já estavam percebendo a mudança repentina em sua atitude e em Maya.

Até mesmo questionavam os carros pretos parados no lado de fora do café e para todo lugar que ela ia. Assim como a presença constante de duplas de mulheres suspeitas frequentando assiduamente o café.

Abriu o zíper e afastou o plástico que envolvia o lindíssimo e delicado vestido que ganhara de Maya. Acariciou o tecido cor de champanhe com discretos detalhes em vinho, sua cor favorita.

O retirou do cabide e o encostou conta o corpo, por sobre o robe que usava e encarou seu reflexo diante do espelho.

Pensou no tempo que sua amada passou escolhendo-o e soube que fora ela mesma quem o comprou, pois o cartão escrito à mão por ela lhe dizia isso.

Pegou o mesmo que repousava sobre a caixa de sapatos que também foram um presente dela, e releu pela enésima vez.

"Para um momento tão especial quanto esse, deverias usar algo que represente a sua conquista e a mulher que és. Assim que o vi, pude enxergá-la nele. Saiba que estou muito orgulhosa por você e ainda mais por tê-la em minha vida.
Je t'aime."

"Também te amo!"

Suspirou.

— A Maya realmente tem muito bom gosto. – Arizona disse sorridente da porta do quarto.

— É, ela tem sim. – Soltou o bilhete sobre sua escrivaninha e entregou o vestido para a amiga.

— Eu certamente precisaria trabalhar uns três meses para poder comprar só esses sapatos. – Tentou descontrair o clima pesado que sentiu assim que entrou no apartamento.

Ela era a única com quem Carina podia conversar acerca de seus temores e ela não conseguia fazer ideia do que a amiga poderia estar passando. Arizona, por ser da Ordem, sabia que o Martelo era um grupo extremamente perigoso e suas ameaças reais. Quando soube que a vida de sua amiga estava em risco, alarmou-se.

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