O tempo pareceu ser paralisado por alguns instantes diante da estarrecedora energia provinda daquela troca de olhares.
As demais pessoas não passavam de espectadores anônimos perplexos diante daquela visão. Carina sentiu todo o seu corpo formigar e a consciência a querer abandonar por várias vezes.
Cogitou tratar-se de estar diante de uma ilusão, que seu coração ferido estava lhe pregando uma peça de mau gosto (será?).
De certa forma sabia obviamente que não era uma ilusão ou apenas sua imaginação personificada diante dela. Visto que em seu íntimo aquela era a visão que mais desejou ter nos últimos tempos.
Perdeu as contas de quantas vezes fantasiou com aquele momento, a chegada dela, seu arrependimento... Dela correndo ao seu encontro e dizendo que tudo não passou de uma grande brincadeira infantil. Porém, nada do que pudesse imaginar, poderia prepará-la para o que via diante de si.
Ela estava realmente lá! Buscou sua voz, mas nada em seu corpo parecia querer lhe obedecer, pois estava sucumbindo ao poder emanado dela. Tentou se mover, mas seus músculos lhe contrariavam, e só o que lhe restava era sentir o tremor percorrer seu corpo.
Era dor!
Mas não uma simples dor física, era algo muito mais intenso e perturbador e isso tinha a ver com o estado deixado por aquela mulher que tanto amou, que tanto lhe machucou e que agora estava diante dela.
Buscou forças para raciocinar e percebeu que jamais pensou em ver Maya daquele jeito. Tão desarmada, tão vulnerável, tão humana!
E ficou claro para ela que a dor que sentia parecia machucar muito mais aquela mulher, que outrora sempre fora poderosa e não precisava de ninguém, mas que agora estava completamente entregue e à mercê.
Ousou se permitir sentir pena dela, mas algo bem em seu íntimo lhe impediu de ir além. Não sabia ao certo, mas era algo que começou a lhe embrulhar o estômago e fazer sua cabeça latejar. O que sua alma sentia estava começando a afetar seu corpo e podia sentir sob a pele uma agonia crescente.
— Maya! – Aquela voz pareceu trincar a frágil redoma que as envolvia, e as lembrou de que existiam outras pessoas no mundo, e algumas delas estavam bem ali, surpresas e algumas delas furiosas com aquela pequena "invasão". — Você não deveria estar aqui! – Gabriela levantou-se, tocando-lhe o braço. Como se acordada de um encanto, Maya piscou duas vezes e virou o rosto para olhar a mão que lhe segurava e seguiu seus olhos até alcançar a dureza estampada no rosto daquela mulher.
Pensou que seria fácil demais fazê-la em pedaços ali mesmo, só que ela não merecia aquilo, muito pelo contrário. Voltou a sentir as lágrimas retornando e assistiu a surpresa assumir o semblante de Gabriela.
A mulher mais baixa não conseguiu passar ilesa por aquela experiência. Foi como se ela pudesse ver através dos olhos de Maya toda a dor que a mulher estava sentido.
Pensou em tudo que uma mulher como ela precisou deixar de lado para estar ali. Em todo seu orgulho, pompa e soberba pisoteados. E ela sim sentiu pena da mulher diante de si.
— Essa é "a" Maya? – Uma voz verdadeiramente carregada de ira também se fez ouvir. Era Lúcia, mãe de Carina que se colocara bem à frente de Carina, esticando a mão para trás para tentar tocar em sua filha. Numa clara tentativa de proteger sua cria daquela que tão violentamente a havia ferido.
Um burburinho teve início assim que os presentes começaram a perceber o que estava realmente acontecendo ali e descobrirem quem era aquela misteriosa mulher que literalmente havia invadido a comemoração e que certamente não passava despercebido.
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FanficReleitura da obra "A Ordem do Labrys: Crônicas da Herdeira" de "Juliana Lucena" "Não se aproxime demais ... é escuro aqui dentro." Uma das habilidades mais incríveis que o Tempo possui, é a capacidade de absolver ou amaldiçoar. Entretanto, ironicam...