Upside Down

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Desorientada, Carina abre os olhos tentando se acostumar à claridade turva e com alguma substância que fazia seus olhos arderem, mesmo ao longe, com pouca intensidade.

''O que... onde raios eu estou?'' Pensou, sem força para emitir qualquer som.

Forçava seu raciocínio a buscar qualquer resquício de consciência que pudesse ajudá-la a entender o que estava acontecendo exatamente.

Gradativamente, começou a discernir alguns sons e seus olhos captaram uma cena confusa, desconexa.

As vozes soavam dissonantes, escandalosas. Gritos? Risos? Algumas ecoavam desesperadas e outras se divertiam com o que quer que estivesse acontecendo ali.

Havia pessoas amontoadas num espaço não tão grande, não era possível saber quantas. Ela não entendia muito bem, mas algo na atmosfera daquele lugar era sombrio, fazendo os pelos de sua nuca se eriçarem.

Uma densa camada do que parecia ser uma neblina a impedia de enxergar mais além ou qualquer detalhe significativo. À medida que seus olhos e seus ouvidos se adaptavam, conseguiu obter certa clareza.

Carina estava distante, fora do alcance, somente observando. Na medida em que ganhava compreensão do cenário que a cercava, o choque e a incredulidade ganhavam força, deixando-a horrorizada.

Foi então que Carina a avistou. Não conseguia enxergar seu rosto, nem mesmo o das outras pessoas que ali estavam, mas sentia o terror e o desespero que emanavam daquela mulher.

Existia algo mais, uma energia que lutava contra o medo palpável que fluía do coração daquela moça, mas ela não foi capaz de identificar. O que estava acontecendo?

A mulher tinha seu corpo amarrado a uma grossa estaca de madeira, com os braços pendurados acima de sua cabeça. Mesmo antes de seus olhos assimilarem aquilo que presenciava, seu olfato e paladar já haviam se aguçado, permitindo que Carina constatasse que a neblina turva que lhe ardia os olhos era de fato, fumaça.

Fogo. Ainda assim, era difícil enxergar.

Onde ela estava?

O que ela estava fazendo ali?

Que inferno era aquele?

Carina tentou se mexer, mas não sentia seu corpo.

Meu Deus... Aquilo era uma fogueira? A mulher estava sendo queimada viva? Quem era ela?

A angústia avassaladora se acumulava em seu peito. Ela precisava ajudá-la, mas como?!

Carina se debatia tentando sair do lugar, mas seus membros não lhe obedeciam. Outra vez, com maior intensidade, Carina pôde senti-la.

Todo o pânico, todo o pavor e... Deuses, o que era aquilo?

No olho do furacão, por um milésimo de segundo, a energia antes não identificada apresentou-se novamente, numa sensação que transcendia absolutamente tudo.

Seus sentidos foram invadidos com tamanha potência que não sobrara espaço para mais nada. Era uma devoção sussurrada, uma adoração inigualável, incondicional.

Mas, por quê? Ou quem. Carina pôde sentir toda a coragem e determinação daquela mulher. Não havia medo, e sim, uma certeza. Uma convicção tão inabalável que mesmo ali, frente ao fim de sua vida, não seria capaz de abandoná-la.

O milésimo de segundo se esvaiu e a realidade novamente a alcançou. Ela queria chorar, mas não encontrava seus olhos.

- Senhora? Com licença... – Uma voz feminina que soava de maneira amigável a chamava, nada parecida com sons confusos e de caráter horripilante que ecoavam em sua mente.

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