The Book of Shadows (Final Part)

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Não havia um músculo se quer no corpo de Carina que não esteve tremendo de forma descontrolada.

Um embrulho nauseante revirava suas entranhas e um latejante pulsar em sua cabeça indicava o ritmo descompassado de seu coração. Tentava sem sucesso controlar sua respiração e o suor gelado que sentia, contrastava com o calor que a consumia.

Era como se estivesse doente. Sendo acometida por algum tipo de febre.

As mãos tremulas mal conseguiam segurar as páginas antigas que balançaram emitindo um som baixo, semelhante ao de folhas secas sendo conduzidas por ventos anunciadores de tempestade.

O ar entrava com dificuldade em seus pulmões e um estranho zumbido lhe incomodava os ouvidos. Estava completamente atordoada com o que acabara de ler!

Em seu íntimo ela sabia que possuía um papel significativo em toda aquela trama, pois foi entregue a ela todos os pertences mais sagrados da Sofia e com eles, muitos dos segredos da Ordem.

Tudo lhe levou a concluir e mais, a crer que a estima, a admiração, a identificação que sentia com a jovem ruiva das memórias que leu ia muito além de mera empatia.

Elas estavam ligadas por algo impossível de ser tocado ou visto, mas que era tão palpável quanto a madeira que compunha a mesa onde aqueles papeis estavam apoiados.

— A alma dela! – Disse para si. – Minha alma! – Tocou o próprio peito, sentindo o saltar acelerado dele. Sua mente confusa ainda lhe levou a iniciar uma problematização acerca de que se realmente houvesse uma alma, onde ela estaria "guardada" dentro do corpo.

Seria no coração?

Riu de seu breve pensamento.

Se a alma de fato existisse ela estaria onde tudo o que compõe a identidade de uma pessoa está.

Na mente, no cérebro.

Levou a mão até sua cabeça e soltou um baixo gemido.

Certamente uma forte crise de enxaqueca estava tendo início e não poderia se recriminar.

Estava enfurnada naquele escritório o dia todo, e mal havia tocado nas refeições que lhe foram entregues.

Mas sabia que a razão de seu profundo mal-estar nada tinha a ver com esses fatos triviais. Toda a enxurrada de sensações e reações que estava tendo provinha do que acabara de ler.

Sua conexão com aquela surreal história a fez visualizar cada cena narrada como se estive sentada em um canto daquela catacumba escura.

Testemunhando a mais surreal das experiências. Sentiu asco e admiração ao mesmo tempo.

Ódio e carinho.

Pena e amor.

Numa verdadeira montanha-russa de sentimentos e, sem nem ter chegado ao fim dos pergaminhos, já tinha a certeza de que jamais iria esquecer das imagens nítidas em sua mente daquele tenebroso ritual. Dos sacrifícios inenarráveis que foram feitos naquela noite, mas acima de tudo, da imagem aterradora de sua amada sem vida.

— Misty morreu e... Renasceu... – Em outra época uma frase como aquela jamais sairia de seus lábios em tom de seriedade, mas agora tudo começava a fazer sentido.

E sentiu seu coração sangrar com a dor dilacerante ao simplesmente imaginar a possibilidade de sua amada ter morrido.

E isso fez sua mente girar de uma forma que quase lhe roubou a consciência.

Se deu conta que Maya estava sentindo aquela dor naquele exato instante.

Que estava sendo enganada e de uma maneira completamente desumana, pois para ela estava sendo ainda pior, pois ela já havia provado tal dor antes.

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