Ágatha Brooke
Parecia irreal estar vivendo isso novamente, mas dessa vez, de uma maneira completamente diferente das outras. Era mil vezes melhor assim, sem Jorge próximo a mim, sem ele com a minha família.
Ver minha mãe dentro do meu pequeno e humilde apartamento, fazendo nosso café da manhã, enquanto meu irmão brincava com a pretinha, fazia meu coração acelerar de um jeito emocionado e feliz.
Era bom tê-los por perto.
Estar sozinha me trouxe muitos ensinamentos; admiro minha liberdade e gosto de estar comigo mesma. No entanto, aprendi a valorizar o café que a Elizabeth preparava todas as manhãs, algo que realmente me faz falta. Aprendi que acordar com o abraço apertado do meu irmão e suas reclamações me causam uma imensa saudade. Não existe nada melhor do que voltar da escola e notar que o almoço está pronto, sentindo seu aroma desde o portão. São tantas as lembranças que sinto falta, que poderia passar dias a fio recordando-as.
Esse sentimento de paz me fazia duvidar se tudo isso era real, ou meros momentos de felicidades sendo gerados pelos meus sonhos.
Pois podia ser, certo? Claro que podia. Como que não poderia? Já havia sofrido tanto, sentido tanta a falta desses dois na minha vida, que tudo isso poderia ser fruto da minha imaginação.
Distraio-me com o lápis em minha mão, observando a cozinha que se une à pequena sala. Meu olhar se perde pelo ambiente, fixando-se na pia, e noto que meus pensamentos vagueiam distantes. É como se tudo transcorresse ao meu redor, mas eu permanecesse imersa nesse instante de reflexões profundas.
Tudo parecia irreal demais para ser verdade. Eles estavam aqui? Realmente estavam cuidando tão bem de mim assim?
— Ágatha? — uma voz baixinha surge de fundo, chamando pelo meu nome.
Franzo o cenho suavemente, mas ainda assim continuo focada no lápis em minha mão, girando-o entre os meus dedos, enquanto olho fixamente para a mesa.
— Ágatha? — dessa vez a voz se aproximou, e estalou os dedos em meu rosto, acordando-me do momento modo desligada em que estava.
Olhei para a figura na minha frente, e deixei que um sorriso frouxo surgisse em minha face.
— Mãe — endireitei minha postura na cadeira, deixando o lápis sobre a mesa e suspirei, passando as mãos em meu rosto, para prestar atenção somente nela.
— Em que mundo você estava? — falou, com um pequeno sorriso.
Mordi o lábio inferior, rapidamente, pois estava longe, me questionando sobre muitas coisas, mas também lembrando-me de coisas desagradáveis.
— Ah — bufei e balancei a cabeça em negação — Pensativa sobre a faculdade, não é nada de mais — menti, evitando comentar sobre o que realmente pensava.
Até porque, qual motivo? O que mudaria?
Nada mudaria, apenas aumentaria meu desconforto. Esse era o sentimento que eu desejava evitar. A ideia de retornar às aulas, depois de uma semana isolada com minha mãe e irmão no apartamento, evitando qualquer razão para sair, já me causava agonia. Não queria enfrentar insultos devido ao vídeo que Laura postou na internet, que, por sorte, a família de Alana removeu em dois dias. Contudo, isso não alterava que fui perseguida e ainda sou nas minhas redes sociais, as quais tive que ignorar para não enlouquecer.
Por que tanta gente era cruel a esse ponto? Isso era doloroso demais.
— Suas feições me mostravam que era algo ruim, está mesmo tudo bem? — Sentou-se à minha frente, aproximando a cadeira de mim, com seu olhar preocupado. — Você pode compartilhar suas dores comigo, Ágatha, estou aqui para cuidar de você.
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Irresistível perdição [+18]
RomanceAlana Monterbegue é uma jovem exemplar e sempre se destaca por suas boas notas. Seu mundo é completamente alinhado. Seus gostos são peculiares e suas manias mais ainda. Ela carrega consigo um sobrenome importantíssimo. Sua família tem uma fortuna pl...